Cabo Verde tem potencial para ser um centro de excelência no turismo sustentável e na cultura musical africana

Makhtar Diop, Director-Geral da Corporação Financeira Internacional (IFC), do Grupo Banco Mundial, esteve de visita a Cabo Verde. Uma oportunidade para “reforçar o nosso entendimento sobre os desafios e oportunidades do país”, referiu em entrevista ao Expresso das Ilhas.

Qual o balanço que faz destes três dias de visita a Cabo Verde?

Esta visita marcou-me de forma especial, tanto no âmbito institucional como ao nível pessoal. Tive a oportunidade de me encontrar com as autoridades cabo-verdianas, com o sector privado e de visitar projectos no terreno. O objectivo foi reforçar o nosso entendimento sobre os desafios e oportunidades do país, ao mesmo tempo que aprofundámos o diálogo sobre o programa da IFC e do Grupo Banco Mundial em Cabo Verde. O país tem apresentado uma taxa de crescimento muito acima da média africana, conseguindo, por exemplo, dar uma resposta exemplar à crise pós-pandemia. A sua situação é, em muitos aspectos, comparável à de outros arquipélagos, como as Caraíbas – com desafios semelhantes em termos de conectividade, dependência do turismo e forte presença da diáspora. Esse contexto cria oportunidades únicas para um crescimento mais sustentável e inclusivo, e a nossa visita foi uma oportunidade para explorar justamente essas possibilidades.

Teve encontros com o Governo e outros factores-chave. Quais foram os principais temas discutidos?

Sim, tive uma agenda bastante preenchida. Reuni-me com o Vice-Primeiro-Ministro, que é também o Governador de Cabo Verde junto do Banco Mundial, com o Primeiro-Ministro, os Ministros da Cultura e das Indústrias Criativas, Ministro do Turismo e dos Transportes e com o Presidente da República. Também me encontrei com representantes do sector privado, tanto na cidade da Praia como no Sal. O principal tema transversal foi o sector do turismo, dada a sua importância estratégica para Cabo Verde. Falámos sobre a necessidade de diversificar o modelo actual, alargando o foco do tradicional turismo de praia para outras vertentes: turismo cultural, turismo de negócios, ecoturismo e até turismo de saúde. Discutimos também o fortalecimento das cadeias de valor locais – por exemplo, a substituição das importações de alimentos para os hotéis por produção nacional – e a importância da formação e qualificação da força de trabalho no sector da hospitalidade.

Quais são as ideias concretas para esta diversificação do turismo?

É fundamental repensar o turismo em Cabo Verde. Hoje, os hotéis ainda dependem quase exclusivamente de importações de alimentos e bebidas. Mas, com os avanços nas energias renováveis, nomeadamente a energia solar, é possível fazer dessalinização de forma mais barata e viável. Isso abre espaço para uma agricultura irrigada que alimente directamente o sector hoteleiro. Também falámos do turismo cultural. Cabo Verde tem uma riqueza musical inigualável, reconhecida em toda a África. Mas há falta de formação formal. Discutimos com o Governo a ideia de tornar o país num centro de excelência na formação musical, com possíveis parcerias, como com a Berklee College of Music. Isso pode não só valorizar a cultura local, como gerar uma nova oferta turística e económica. Outro aspecto discutido foi o turismo de negócios. Cabo Verde tem uma localização estratégica, com boa conectividade para a Europa e África, e condições para atrair eventos e conferências internacionais. E mencionámos ainda o turismo de saúde, especialmente para reformados europeus que procuram destinos de proximidade com boas condições médicas.

E como é que a IFC está a apoiar estes sectores?

A IFC tem vindo a aumentar significativamente a sua carteira em Cabo Verde. Há quatro anos, o volume era inferior a 10 milhões de dólares. Hoje, ultrapassámos os 100 milhões de dólares. Esse crescimento reflecte o nosso compromisso e a confiança que temos no país. Estamos a apoiar projectos estruturantes, nomeadamente ao nível das infraestruturas, como é o caso dos sete aeroportos de Cabo Verde, cuja primeira fase de financiamento já foi assegurada. Paralelamente, queremos intensificar o nosso apoio à transição energética, contribuindo para o ambicioso objectivo do país de alcançar 100% de electricidade gerada a partir de fontes renováveis. Colaboramos com grandes empresas internacionais de energia solar e queremos atrair algumas dessas parceiras a investir em Cabo Verde.

Cabo Verde tem apostado na economia azul. Como pode a IFC contribuir nesse domínio?

A IFC tem estado na linha da frente da inovação financeira para a economia azul. Fomos dos primeiros a definir critérios claros para as chamadas “obrigações azuis”, que hoje são amplamente usadas no mercado global. Estas obrigações apoiam actividades ligadas à água – tanto do mar como da água doce – e podem ajudar Cabo Verde a financiar projectos sustentáveis, como a dessalinização, a pesca ou o turismo costeiro. O nosso apoio ao turismo também se cruza com a economia azul, sobretudo na componente costeira e marítima. E, na agricultura, promovemos tecnologias mais eficientes, como a irrigação gota-a-gota, que têm um impacto directo na sustentabilidade do uso da água.

Quais são os planos da IFC para o futuro em Cabo Verde?

A IFC quer continuar a expandir a sua presença em Cabo Verde, com especial foco em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do país. Entre as prioridades estão as energias renováveis, nomeadamente a solar e a eólica, com o objectivo de apoiar a transição energética e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Pretendemos também reforçar o investimento em dessalinização e irrigação, contribuindo para a segurança hídrica e alimentar, essencial para o fortalecimento da agricultura e da cadeia de abastecimento local. A educação e a formação profissional são outro eixo central, com destaque para sectores como o turismo, a música e a hospitalidade, onde há potencial para gerar emprego qualificado e valor acrescentado. No domínio das infraestruturas, a aposta passa por melhorar os transportes e a conectividade, fundamentais para a competitividade do país. Paralelamente, a IFC está a explorar novas oportunidades de investimento com o sector privado e a apoiar o Governo na mobilização de parceiros internacionais, com vista a acelerar o crescimento económico inclusivo e sustentável de Cabo Verde.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1225 de 21 de Maio de 2025.

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