O chefe de Estado de Angola e presidente em exercício da União Africana lamentou a proliferação dos conflitos no continente, como em Moçambique, e frisou que África precisa de paz, segurança e desenvolvimento.
No âmbito das celebrações do Dia de África, João Lourenço reuniu-se no sábado num hotel Brasília com embaixadores africanos e da Comunidade do Caribe.
“Quando falamos de insegurança no nosso continente, já não olhamos apenas para o Sahel, ou se olhamos não é apenas com a preocupação do terrorismo, mas também com a preocupação das mudanças inconstitucionais de regime”, disse o Presidente angolano, que terminou no sábado uma visita de Estado à capital brasileira.
João Lourenço destacou os conflitos atuais em África, como o terrorismo no Sahel, a guerra civil no Sudão, a instabilidade na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, a tensão entre República Democrática do Congo e Ruanda, e a crise na Somália.
“Moçambique conhece também uma situação de terrorismo, de instabilidade, em parte do seu território, nomeadamente ali na província do Cabo Delgado, o que significa que uma das grandes responsabilidades da União Africana é trabalhar no sentido de, efetivamente, conseguirmos alcançar esse objetivo do calar das armas em todo o nosso continente”, afirmou.
“Temos de acreditar que a paz definitiva chegará a todas essas regiões a que acabei de me referir, ao Sahel, à região dos Grandes Lagos, ao Sudão, ao Corno de África, (…) nomeadamente em Moçambique, e, de uma forma geral, em todo o nosso continente”, insistiu o líder angolano.
No seu discurso, João Lourenço sublinhou que o continente africano só conseguirá ter desenvolvimento se houver paz.
“Costuma a dizer-se que o capital, o investimento, é alérgico ao troar dos canhões, é alérgico ao conflito. Onde há conflito, o dinheiro foge, o capital foge, o investimento não surge”, frisou.
Outro dos pontos que o responsável angolano insistiu foi na urgência da capacitação de infraestruturas no continente.
Costuma a dizer-se que o capital, o investimento, é alérgico ao troar dos canhões, é alérgico ao conflito.João Lourenço
Presidente de Angola
“Precisamos, de facto, de fazer um grande investimento em infraestruturas que vão facilitar a mobilidade, em infraestruturas que vão interligar a energia dos vários países africanos”, afirmou.
Na sexta-feira, ao lado do homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, numa declaração à imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília, João Lourenço apelou ao regresso a Angola de empresas brasileiras para a construção de infraestruturas públicas e também que o Brasil volte a abrir uma linha de financiamento para cobertura do crédito à exportação.
O chefe de Estado angolano afirmou que Angola “ainda tem muito por construir em termos de estradas, autoestradas, portos, caminhos de ferro, aeroportos, infraestruturas de energia e de água, de produção e de distribuição de água”.
Uma prioridade é que “o Brasil volte a abrir uma linha de financiamento para a cobertura do crédito à exportação. Isso está a ser tratado e nós acreditamos que vai acontecer no interesse de ambos os países”, anunciou.
Lula da Silva e João Lourenço, assinaram memorandos de entendimento focados no reforço da cooperação entre as petrolíferas Petrobras e a Sonangol e também no setor agropecuário.
Os acordos foram assinados no Palácio do Planalto, após uma reunião bilateral.
O Brasil foi o primeiro país a reconhecer Angola após a independência do país, a 11 de novembro de 1975, e os dois países têm mantido uma relação bilateral próxima, com acordos de cooperação em várias áreas.
João Lourenço tinha estado anteriormente no Brasil, para participar na cerimónia de posse de Lula da Silva, que assumiu o terceiro mandato em janeiro de 2023.
O Presidente brasileiro esteve em Angola em agosto de 2023, na primeira visita a um país africano no novo mandato, e terceira viagem oficial a Angola, após deslocações realizadas em 2003 e 2007.
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