A oposição volta a estar dividia, como sucede quase sempre, entre os que apoiam o boicote às eleições e os que mesmo assim dizem que vale a pena ir às urnas mostrar o seu descontentamento. Corina Machado faz parte do primeiro bloco.
A Venezuela regressa às urnas este domingo para eleger os 285 deputados da Assembleia Nacional para o período 2026-2031. Ao mesmo tempo, os cerca de 21 milhões de eleitores vão votar para os 24 governos e assembleias estaduais do país – num quadro em que a endémica difícil situação económica continua a perseguir a grande maioria dos venezuelanos e, como também é costume, a oposição surge mais uma vez muito dividida. Com as eleições presidenciais de 28 de julho de 2024 ainda na memória – uma vitória que quase nenhum país ocidental reconhece de Nicolás Maduro – o fantasma da fraude eleitoral continua a estar presente.
Nas vésperas das eleições, o governo anunciou ter desmantelado uma nova tentativa de golpe de Estado com a prisão de 38 suspeitos de planearem ataques terroristas no país, sendo 17 estrangeiros. Maduro acusa ex-presidentes de direita da Colômbia de articularem o plano e suspendeu os voos oriundos do país vizinho.
A oposição está dividida exatamente no ponto em que tudo parecia estar consolidado: de um lado estão os que repetem a motivação para o boicote e estão em torno de María Corina Machado (há anos a voz mais audível da oposição); do outro estão os que mesmo assim arriscam votar, tendo como referência o ex-governador e ex-candidato a presidente Henrique Capriles. A divisão entre Corina Machado e Capriles foi uma surpresa para os analistas, que consideravam o ex-candidato um ‘indefetível’ da líder oposicionista.
Longe da Venezuela está o diplomata Edmundo González, o candidato da oposição às presidenciais do ano passado, que continua asilado em Espanha por temer que a sua vida corre perigo no país onde nasceu. Gonzáles tem tentado uma oposição à distância, mas a sua ausência (num quadro em que Corina Machado pode ter ainda mais motivos para o exílio) marca uma espécie de percalço da oposição.
O Partido Comunista da Venezuela (PCV) informou que não participará das eleições devido à falta de garantias eleitorais mínimas. Os candidatos ligados ao governo têm mobilizado a militância e o eleitorado chavista para manter o controlo sobre a maioria das instituições e governos. “Vamos romper a campanha de desinformação, o veto e o bloqueio que tentam impor a este processo. Estamos do lado certo da história, e esta nova vitória permitirá avançar no melhor momento da revolução bolivariana e da renovada democracia da Venezuela”, afirmou Maduro, citado pela imprensa do país.
A questão económica continua a ser central nas eleições deste domingo, no contexto de uma crise que se prolonga há muito tempo e afetou significativamente os níveis salariais do país, situado por uma inflação imoderada e pela total incapacidade (ou falta de vontade) de gerir com clareza aquele que podia ser a maior alavanca do país: o petróleo. Mas nem mesmo a apetência da Rússia e da China (dois países que reconhecem Maduro como presidente) pelo petróleo tem sido suficiente para que o regime de Maduro consiga o financiamento necessário para modernizar o setor.
E será provavelmente o mesmo setor que tem feito com que a relação entre Maduro e Donald Trum (na versão segundo mandato) esteja bem menos tensa que aquilo que sucedia até há quanto anos atrás. Na altura, recorde-se, Trump chegou a afirmar que reconhecia Juan Guaidó – que chegou a liderar a oposição – como o legítimo presidente do país. Guaidó nunca chegou a sê-lo (apesar de uma auto-proclamação sem qualquer tração internacional) e entretanto também desapareceu nos ‘escombros’ de uma oposição que tem enormes dificuldades em manter-se acima da ‘linha d’água’.
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