FMI diz que Angola tem que melhorar instrução e competências se quer diversificar a economia – Atualidade – SAPO.pt
A média na África Subsariana das empresas que identificam uma força de trabalho sem instrução como uma restrição severa aos negócios é de 15%, mas em Angola essa percentagem é de quase o dobro, referem os economistas Carmen Avila-Yiptong e Zviad Zedginidze numa análise que aborda as principais barreiras à diversificação económica do país.
“O último Inquérito às Empresas do Banco Mundial mostra que 26% das empresas inquiridas consideram que uma mão de obra inadequadamente instruída é uma restrição empresarial severa em Angola”, fundamentam, apontando que Angola tem dependido fortemente do petróleo, mas é no setor não petrolífero que se concentra o emprego.
Os economistas frisam, aliás, que “o desemprego e a percentagem de emprego no setor industrial mantiveram-se estáveis”, apesar do aumento da produção de petróleo até ao início da década de 2010, o que sugere que esta atividade “não se traduziu em criação robusta de emprego e oportunidades no mercado de trabalho”.
Ao mesmo tempo, o emprego no setor agrícola tem aumentado constantemente e, atualmente, representa quase metade do emprego total, escrevem no documento divulgado a coincidir com uma missão do FMI a Angola que terminou esta semana.
Nesta análise de potenciais políticas corretivas para apoio ao desenvolvimento da força de trabalho, os economistas afirmam que a elevada concentração no setor informal (cerca de 80% em 2024, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística) está precisamente associada a níveis limitados de habilitações e competências da mão de obra.
Para mostrar a grande proporção de trabalhadores subqualificados em Angola, recordam que “a média de anos de escolaridade em Angola é de 5,8 anos. Embora as matrículas no ensino secundário tenham atingido 54 por cento, menos de um quarto da população com mais de 25 anos concluiu o ensino secundário”.
“No futuro, os resultados educativos serão particularmente relevantes para a diversificação e resiliência económica de Angola, uma vez que 65% da população tem entre 0 e 24 anos”, insistem.
Melhores resultados em termos de capital humano “traduzem-se numa força de trabalho mais produtiva, que pode satisfazer as necessidades dos setores de maior valor acrescentado e atrair o investimento estrangeiro”, frisam ainda os dois analistas.
Olhando o Plano Nacional de Desenvolvimento traçado pelo Governo angolano, os analistas do FMI avaliam como positivas algumas medidas traçadas e o aumento do orçamento para a educação, mas consideram-nas insuficientes.
No Orçamento Geral do Estado para 2025 o Governo de João Lourenço afetou 2,2 biliões de kwanzas (cerca de 2,14 mil milhões de euros) a despesas relacionadas com a educação, “um aumento modesto em relação a 2024”, representando cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), “aquém da média da África subsaariana, que é de 5,8% do PIB”, alertam os analistas.
As autoridades devem “executar políticas específicas para colmatar o défice de competências em setores emergentes de alta prioridade, tendo em vista maior eficiência do investimento público, e currículos de ensino e formação profissional inovadores e relevantes para o emprego que satisfaçam as necessidades do setor privado”, recomendam.
Os especialistas do FMI apontam ainda soluções implementadas por economias em desenvolvimento que tiveram resultados de “grande sucesso”.
“Orientar os resultados da educação para servir setores prioritários”, como a Índia fez, “alargar o ensino e a formação técnicos e profissionais”, referindo aqui o exemplo do Vietname, e “coordenar os objetivos em matéria de capital humano e do planeamento do desenvolvimento económico nacional”, como fez a Coreia, são alguns casos referidos.
ANP // MLL
Lusa/fim
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