Exposição de Chris Borges dá voz às famílias atípicas em Cabo Verde

Está patente na cidade da Praia, até o dia 25 deste mês, a exposição “Undi ki é nha lugar”, da fotógrafa Chris Borges. Trata-se de uma exposição que reúne retratos intimistas de famílias com crianças atípicas.

Com o objectivo de despertar a consciência da sociedade civil para a realidade das famílias atípicas, Chris Borges propõe uma reflexão profunda sobre o lugar físico, emocional e simbólico, que essas pessoas ocupam no espaço público. “Não são eles que têm que se adaptar a nós. Somos nós que temos que nos adaptar a eles”, afirma.

Segundo Borges, embora existam leis e políticas públicas voltadas à inclusão, há uma grande discrepância entre o que está no papel e o que se verifica na prática. “A exposição quer provocar esse debate e dar voz às famílias que, muitas vezes, vivem à margem, escondidas no silêncio do lar. É preciso tirá-los do lar para colocá-los no centro da narrativa, porque isso também é sociedade”, diz.

As imagens da exposição foram captadas em Janeiro deste ano, nas ilhas de Santo Antão e São Vicente. Chris relata que a adesão inicial ao projecto foi tímida, fruto do cansaço e da desilusão de muitas famílias, que já foram esquecidas outras vezes. “As pessoas mostram algum interesse, mas depois criam um muro de protecção, com medo de mais uma promessa sem continuidade”, explica.

A mostra é composta por fotografias tiradas no escuro, simbolizando o espaço de invisibilidade em que muitas dessas famílias vivem. Mas, à medida que o projecto avançava, o diálogo e a confiança foram sendo construídos, permitindo que o olhar sensível da fotógrafa revelasse histórias de dor, superação e esperança.

“Undi ki é nha lugar” é também um apelo por responsabilidade institucional. Chris Borges destaca a falta de especialistas em saúde e educação inclusiva no país, e fala na ausência de mecanismos de protecção para mães que precisam acompanhar os filhos em tratamentos contínuos. “Nem toda entidade patronal compreende a necessidade de uma mãe estar duas semanas ausentes para acompanhar o filho numa terapia. E sem terapias, essas crianças não evoluem”, alerta.

Por outro lado, disse que as imagens não estão à venda, por respeito à intimidade dos retratados. Ao invés disso, poderão ser doadas a instituições que trabalham com os temas abordados, ou às próprias famílias que participaram da iniciativa. “Este projecto é de Cabo Verde. A história não é só de Joana, de Maria, e de muitas mães deste país”, reforça.

Novo projecto

Chris Borges revelou que, no próximo ano, pretende realizar duas exposições. “O interessante é que, em cada exposição, surge um novo tema. À medida que vou trabalhando um, percebo a necessidade de abordar outro. No ano que vem, pretendo fazer duas exposições”, compartilhou.

As exposições vão acontecer no primeiro e no segundo trimestre de 2026. “Espero que as empresas e instituições patrocinem arte e este tipo de actividade, porque vale a pena. Se queremos conscientização e mais inclusão, devemos começar pela base. E a base é a educação. A fotografia também ensina, e devemos usá-la como meio de educação”, conclui.

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