Loulé | Além de Cabo Verde, Ilha de Reunião, Japão e Jamaica ou Argentina presentes no Festival MED’25

O alinhamento musical e cultural completo do 21º Festival MED, evento que decorre de 26 a 29 de junho na Zona Histórica de Loulé, foi anunciado este sábado, no Cineteatro Louletano. Concerto de homenagem a Sara Tavares também está no line-up.
Durante este momento foram divulgados os 13 nomes que irão juntar-se aos 25 já confirmados e que atuarão nos palcos da Matriz, Cerca, Castelo, Chafariz e Hamman. Mitsune (Japão), El Sonidero Insurgente (Argentina), Adam Ben Ezra (Israel/Portugal), Cesária Évora Orchestra (Cabo Verde), The Congos & The Gladiadors (Jamaica), Lá no Xepangara (Moçambique, Brasil, Guiné Bissau e Portugal), Grèn Sémé (Ilha da Reunião) e Nomad, Virgem Suta, A Cantadeira, Homem em Catarse, Cristina Clara e Filipe Sambado (Portugal) estarão em Loulé para celebrar a diversidade musical, num dos maiores festivais de World Music da Europa.
No dia 27 de junho, prevê-se uma das maiores experiências musicais, performativas e sensoriais desta edição. Mitsune, banda japonesa sediada em Berlim, promete surpreender. O grupo é reconhecida por misturar música folk tradicional japonesa com sons psicadélicos, cinematográficos e ritualísticos, ao mesmo tempo que infunde as suas atuações com um espírito punk. O núcleo da banda reside no Tsugaru shamisen, um alaúde de três cordas que outrora foi tornado famoso por músicos cegos e itinerantes do Japão antigo. Mitsune reverencia e reinventa a tradição do shamisen, contando as suas próprias histórias através dos tons evocativos deste instrumento antigo. Os seus espetáculos ao vivo são uma mistura vibrante de energia crua, visuais impressionantes e um toque de humor, criando uma experiência inesquecível.
Filipe Sambado é um dos nomes portugueses que faz parte do cartaz do MED’25, e sobe ao palco no dia 28 de junho. É uma das figuras mais marcantes, desafiantes e originais da música portuguesa contemporânea. Em constante reinvenção, Sambado trouxe para a estrada o espetáculo “Gémea Analógica”, uma série de concertos acústicos nascidos do seu último disco de estúdio. Neste formato mais cru e direto, revela não apenas o lado íntimo e vulnerável das canções, mas também a sua essência mais pura.
Uma verdadeira experiência espiritual é o que nos trazem os jamaicanos The Congos & The Gladiators, na noite de 27 de junho, um concerto especial que junta duas bandas míticas do reggae dos anos 60/70. Décadas depois, Congos e Gladiators cruzam caminhos para uma digressão conjunta que promete não só celebrar o legado do reggae clássico, mas também reafirmar a sua atualidade e vitalidade.
Passado um ano, depois de ter estado no concerto de apresentação do Festival MED’24, neste mesmo Cineteatro, o projeto Lá no Xepangara vai fazer parte do alinhamento da 21ª edição. No dia 28 de junho, Moçambique, Brasil, Guiné-Bissau e Portugal juntam-se em palco para um espetáculo que celebra a obra e o pensamento de José Afonso, a partir de uma perspetiva africana e lusófona, reunindo em palco artistas de diversos países de língua portuguesa. Esta homenagem revisita o legado de Zeca Afonso sublinhando o seu profundo vínculo à cultura africana e à luta contra o colonialismo. Através de arranjos contemporâneos, cruzando sonoridades africanas com a herança musical de José Afonso, Lá no Xepangara não só presta tributo ao artista como reflete sobre os valores de Abril e a atualidade do seu pensamento.
Com raízes na Ilha da Reunião e os ouvidos voltados para o mundo, e em estreia nacional, os Grèn Sémé serão os terceiros representantes deste país na história do MED. Este projeto franco-reunionense funde maloya tradicional — ritmo ancestral da Ilha da Reunião — com eletrónica, dub, rock e poesia cantada em crioulo, criando uma linguagem sonora profundamente singular. Tem-se distinguido pela sua abordagem inventiva à música da diáspora crioula, e contam com reputação de culto junto de públicos diversos.
Um dos destaques no que toca à música será ainda o concerto de domingo, “Open Day”, 29 de junho, em que será feita uma homenagem à cantora e compositora cabo-verdiana Sara Tavares. Participam no espetáculo a Banda Filarmónica Artistas de Minerva, os Shout e o projeto Mau Feitio, e em breve serão anunciados os convidados especiais que irão juntar-se a este momento.
Recorde-se que estes nomes juntam-se aos anunciados em março: Ferro Gaita, Dino D´Santiago & Os Tubarões (Cabo Verde), Ceuzany (Cabo Verde/Senegal), Carminho, a garota não, Valter Lobo, Stereossauro convida Ana Lua Caiano e Pedro Joia, O Gajo e Milhanas (Portugal), Sílvia Pérez Cruz e Salvador Sobral (Espanha/Portugal), Systema Solar (Colômbia), Vieux Farka Touré (Mali), Barrut (França), Balqeis (Egipto), Fulu Miziki (República Democrática do Congo), iLe (Porto Rico), Sofian Saidi (Argélia), Justin Adams & Mauro Durante (Reino Unido/Itália), Cerys Hafana (Pais de Gales), Shkoon (Síria /Alemanha), Alain Pérez y la Orquesta (Cuba), Paulo Flores (Angola), Tarwa-N-Tiniri (Marrocos) e Queen Omega (Trindade e Tobago).
OUTROS PALCOS
A música do Festival MED não se faz só nos palcos principais, mas também noutros espaços menos convencionais e mais intimistas. É o caso do Café Calcinha, do Arco (atrás da Igreja Matriz) e da zona adjacente ao Mercado. Por estes palcos irão passar os músicos Nanook, Daniel Kemish e Eduardo Ramos. Três “one man show” que trarão sonoridades de diferentes geografias ao Festival.
Por outro lado, a música clássica invade a Igreja Matriz para trazer um alinhamento de sonoridades mais eruditas ao Festival MED. O MED Classic apresenta quatro concertos que terão a curadoria de Sérgio Leite, diretor do Conservatório de Música de Loulé. Da Bélgica junta-se a este cartaz o Flanders Recorder Duo, no dia 26. Para o dia 27, Gil Fesch e Nuno Pinto juntam-se para um Duo de Guitarras. Já no dia 28, os espanhóis Protus Marimbá Quartet estarão presentes. E como já é tradição, os alunos do Conservatório de Música de Loulé atuam na noite do “Open Day”, 29 de maio. Desta vez serão acompanhados pelo Conservatório Profissional de Música Francisco Guerrero de Sevilha.
CABO VERDE, PAÍS CONVIDADO
Cabo Verde é o “País Convidado” desta 21ª edição, trazendo ao Festival MED um programa multidisciplinar que passa pelo Cinema, Artes Plásticas, Artesanato ou Gastronomia. Em 2025, no ano que se assinala os 50 anos de independência, é Cabo Verde o país-convidado do Festival e a presença de mornas, cachupa, tabanca, pano di terra, grogue e funaná vão ser sentidos em Loulé, em especial no “Pátio” (Claustro do Convento Espírito Santo).
Ceuzany, Dino D`Santiago com Os Tubarões, Ferro Gaita, Carmen Souza (nesta apresentação) e Cesária Évora Orchestra constituem os pontos altos em termos musicais, de uma programação que contém muito deste arquipélago atlântico.
O fim de semana que antecede os dias do Festival vai ser inteiramente dedicado à cultura cabo-verdiana.
Na literatura, na Casa da Cultura de Loulé – Edifício Atlético, no dia 21 de junho, a partir das 17h30, os escritores cabo-verdianos José Luiz Tavares e Dina Salústio são os convidados para uma conferência que versará sobre a literatura do país.
No âmbito de “Falas Afrikanas”, projeto editorial de obras e autores/as africanos/as, neste dia será apresentado, por Raja Litwinoff, um catálogo sobre a produção literária do país.
Inaugura a 20 de junho, a Exposição “Cartografias Transatlânticas”, dos artistas Fidel Évora, Jacira da Conceição, Amadeu Carvalho e Carlos Noronha Feio, com curadoria de João Serrão e Ricardo Vicente.
“Cartografias Transatlânticas” reúne, na Galeria do Espírito Santo, em Loulé, quatro artistas cuja ligação a Cabo Verde é simultaneamente íntima e deslocada. Vivem fora do Arquipélago, mas com ele constroem um diálogo contínuo — silencioso por vezes, mas sempre presente. As suas obras não procuram representar o território, mas cartografar os seus vestígios, reverberações e reencontros através da imagem, do som, do corpo e da matéria.
O filme “Sodade”, realizado pela cabo-verdiana Sarah Grace, é apresentado no dia 22 de junho, no Solar da Música Nova. A película, distinguida internacionalmente, explora temas profundos como amor, traição e ódio, através da história de personagens que vivem os desafios e dilemas da diáspora. Filmado nas belas e impactantes paisagens vulcânicas da Ilha do Fogo, “Sodade” destaca-se pela sua cinematografia impressionante e por captar a essência da cultura e do espírito cabo-verdianos. É o primeiro filme cabo-verdiano a ser distribuído comercialmente em salas de cinema em Portugal e noutros territórios internacionais.
Durante os dias do Festival, a sétima arte continua a ter as cores de Cabo Verde. No espaço Cinema MED, junto à Galeria de Arte, é exibido, na noite de 26 de junho, “Cesária Évora”, lançado em 2022, pela realizadora Ana Sofia Fonseca. Trata-se de um documentário íntimo sobre a vida e carreira da voz maior de Cabo Verde, com imagens inéditas. Segue-se um DJ Set com Pedro Ramos e Bordel Pinheiro. Os DJs da Futura – Rádio de Autor prometem um intenso bailarico com música dos quatro cantos do mundo.
Ainda no cartaz do Cinema MED’25, novamente com curadoria de Rui Tendinha, mais um documentário, “Kmêdeus” (“Come Deus”), de Nuno Boaventura Miranda. Retrata a intrigante história de um excêntrico sem-teto da Ilha de São Vicente, conhecido por muitos como louco e por outros como um grande artista. Vai ser exibido no dia 27. Nesta noite será lançado “Terra Longe”, documentário de Bernardo Lopes sobre o músico do Mindelo Jon Luz, que foi guitarrista de Sara Tavares. O músico fará, de seguida, um show-case.
Finalmente, no dia 28, e já fora da programação do “País Convidado”, será exibido um documentário “fora da caixa”. “Happier Happier Happier”, de Telmo Soares com Noiserv. Trata-se de uma curta-metragem sobre Noiserv e o seu surpreendente convite para ir atuar no canal CCTV1 da televisão nacional da China.
A noite encerra com o filme concerto “Ressaca Bailada”, dos Expresso Transatlântico e Sebastião Varela, com a banda a tocar nos antigos Armazéns Abel Pereira da Fonseca. Conta com atores como Rita Blanco, Vicente Wallenstein ou Lara Dutra a encarnarem personagens de ficção. Haverá ainda espaço para um DJ set com os Expresso Transatlântico.
A iniciativa “Poesias do Mundo”, coordenada por “Tapé” está de regresso e desta vez o foco será Cabo Verde. No espaço Cinema MED serão declamados pomas e prosas de autores cabo-verdianos, quer em Português, quer em Crioulo, bem como de outras nacionalidades.
Também em termos gastronómicos destaca-se este país. As chefes cabo-verdianos Milocas e Fátima Moreno irão mostrar como se confecionam alguns pratos típicos, num show-cooking, no “Open Day” (dia aberto, com entrada livre), 29 de junho, domingo, na Alcaidaria do Castelo.
Nas artes de rua, haverá tabanca, kola san jon, o batuque e a txabeta. Mas para além dos ritmos cabo-verdianos, estarão presentes o cante alentejano, danças da América Latina, ranchos folclóricos e muito mais.
No MED Kids, espaço junto ao Largo da Matriz dedicado aos mais novos, o contador de histórias Adriano Reis traz a iniciativa “Stera – Na Boka Noti”, em que irá partilhar com o público júnior contos e jogos infantis cabo-verdianos.
As oleiras Isabel Sanches e Edna Sanches Cabral vão estar diariamente no “Pátio” de Cabo Verde para dar vida a peças únicas e mostrar um pouco desta arte ancestral. As peças serão também criadas durante workshops de olaria infantil, permitindo a conexão com tradições e novas plateias.
“São 90 horas de música, 54 concertos, mais de 300 músicos e perto de 30 nacionalidades espalhados por 12 palcos. Juntamos a exposição de arte, o artesanato, os artistas de rua e temos uma das edições mais fortes de sempre do MED. Estamos muito felizes e confiantes também porque o ‘País Convidado’, Cabo Verde, faz o casamento perfeito com Loulé, onde existe forte comunidade cabo-verdiana e a relação entre a cidade e o arquipélago não podia ser mais consistente”, refere o diretor Carlos Carmo.
Já o autarca Vítor Aleixo acredita que afluência ao evento e à cidade durante estes dias será enorme. “Está tudo a postos para termos mais uma edição que atrairá a Loulé muitos visitantes, e seguramente irá dinamizar fortemente a economia local. Nestes dias Loulé, cidade vibrante em termos culturais, é um ponto de união de muitas nacionalidades, gente que vem de vários pontos do Globo e isso deixa-nos muito felizes”, sublinha.
Numa altura em que decorrem trabalhos de requalificação na Zona Histórica de Loulé, o autarca referiu que “as obras têm sio feitas de forma a interferir o menos possível com os dias do Festival”.
Em nome de Cabo Verde, a gestora do Centro Cultural de Cabo Verde em Lisboa, Ângela Barbosa, sublinhou a importância desta participação: “Fazer parte do Festival MED como ‘País Convidado’ no ano em que celebramos 50 anos da nossa independência é fantástico! É um orgulho integrarmos esta grande festa. Se há algo que realmente sustenta a alma dos cabo-verdianos é a sua cultura”.
O Festival MED volta a contar com a RTP e RDP como media partners.
Os bilhetes estão à venda no Cineteatro e em BOL.pt, com preço reduzido, até ao dia 22 de junho: Bilhete Diário 10 euros, Bilhete Festival 30 euros e Bilhete Família Diário 35 euros.
CM Loulé



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