Desde 5 de maio, viajar na linha ferroviária que percorre as províncias do Namibe, Huíla e Cubangoficou consideravelmente mais caro. A terceira classe, que anteriormente custava cerca de 2.800 kwanzas (2,69 euros) passará a ter um preço de 4.500 kwanzas (4,32 euros).
Os Caminhos de Ferro de Moçâmedes (CFM) justificam, em nota, que a atualização tarifária resulta de uma análise técnica rigorosa que apontou para o aumento de custos operacionais e para a necessidade de garantir a manutenção da infraestrutura ferroviária.
Silvano Dino é um dos muitos angolanos que utiliza o comboio para se deslocar para o trabalho. Vive em Menongue e trabalha no município do Cuchi, localizado a mais 90 quilómetros de Menongue.
À DW, afirma que “a subida do preço é mais uma pedra no sapato [da população]”, porque, acrescenta Silvano Dias, “com a crise, a nossa moeda já não tem valor. É um constrangimento para nós que trabalhamos à distância, no município do Cuchi, porque pagávamos 600 kwanzas e agora sobiu para 1000. Está mesmo difícil”, lamenta.
Nesta região de Angola, o comboio é usada por muitas famílias para deslocações relacionadas com o comércio, saúde e educação. É o que explica Mwene Bailundo, outro passageiro residente em Menongue.
“Muitas famílias de classes muito pobres tinham rendimentos apenas para pagar uma viagem com preço acessível. A última carruagem que estava nos cerca de 2000 kwanzas, passa logo para os 4000. São mais de 1000 kwanzas [de aumento]”.
Mwene Bailundo acrescenta que “a subida do gasóleo não foi pedido do povo”.
“Se o Estado achou conveniente que o gasóleo tinha de subir, então tem de estar preparado para não aumentar os preços dos comboios ou dos autocarros, porque todas as empresas pertencentes ao Estado têm de ter um preço que facilite a mobilidade do cidadão”, considera.
Também em entrevista à DW, o economista Maximino Katchekele diz que a subida dos preços dos transportes não o surpreende. Acrescenta, no entanto, lamentar que o cidadão continue a ser o sacrificado.
Segundo ele, o problema social pode agudizar-se: “Devemos já ter em conta de que haverá também alguma instabilidade na questão dos preços, porque é um caminho-de-ferro que liga Menongue, Huila e a província do Namibe e são zonas onde a nossa província do Cubango recorre muito nas importações de alguns produtos e isso vai pesar no rendimento das famílias”.
A dificuldade de deslocamento pode afetar o comércio e outras atividades económicas entre as três cidades, especialmente para pequenos comerciantes e trabalhadores informais.
O também professor entende que o Estado se apressou. Segundo ele, “primeiro devia-se fazer um estudo consoante a inflação que estamos a viver e só assim anunciar às famílias, porque foram surpreendidas. E isso faz com que entrem também em pânico. O mercado que se auto regula também entra em pânico”, notou.
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