Será que a tradição ainda é o que era? O empate na Luz atirou as decisões da última jornada, com Sporting e Benfica a poderem fazer a festa no cruzamento com as equipas do Minho – o Sporting recebe o Vitória, o Benfica vai a Braga. Mas o empate pontual entre ambos não é bem um empate, por causa da vantagem “leonina” no confronto directo, e é o Sporting quem entra para a ronda final em primeiro lugar. O que diz a história do campeonato português é que apenas uma vez quem ia à frente na derradeira jornada não foi campeão.
Essa excepção aconteceu em 1955. A vítima foi o Belenenses, a quem o Sporting tirou o título, não em proveito próprio, mas para o Benfica. O campeonato, nesse ano, jogava-se em dois campos, nas Salésias, onde o Belenenses recebia o Sporting, e na Luz, onde o Benfica recebia o Atlético.
A vitória do Belenenses esteve quase a acontecer, o triunfo parecia assegurado, depois dos golos de Perez e Matateu a que o Sporting respondera apenas com um remate certeiro de Albano. Mas aos 86’, Martins esvaziou a festa dos homens de Belém, ao marcar o empate, enquanto na Luz o Benfica vencia por 3-0. Conquista inesperada para os “encarnados”, grande frustração do Belenenses, que não voltaria a estar tão perto de conquistar um título.
Cenário pouco frequente
Haver título de campeão nacional na última jornada não é o cenário mais frequente, mas também não é raro. Foram 31 vezes em que a festa ficou guardada para o último dia, a primeira das quais logo no ano de estreia do campeonato, em 1934/35, em que o FC Porto conquistou o título graças a um empate (2-2) com o Sporting na última jornada.
No Campo da Constituição, a 12 de Maio de 1935, os “leões” estiveram bem perto de conquistar o título, mas um golo de Soeiro a cinco minutos do fim manteve o FC Porto no topo. A mais recente aconteceu em 2022-23, com o Benfica de Roger Schmidt a garantir o 38 com triunfo caseiro (3-0) sobre o Santa Clara, esvaziando a vitória do FC Porto, também em casa, sobre o Vitória.
E quantas vezes é que duas equipas terminaram empatadas em pontos na frente? E como é que se desempataram? Aconteceu por sete vezes e já falámos de uma delas, o título do Benfica em 1955, “oferecido” pelo Sporting e em prejuízo do Belenenses – ambos tinham 39 pontos, mas com vantagem no confronto directo para a “águia”.
A primeira vez foi na quarta edição do campeonato (com oito equipas) e também foi para o Benfica, que beneficiou do confronto directo para ficar à frente do FC Porto.
Em 1947-48, foi o Sporting a superiorizar-se ao Benfica no confronto directo, naquele que ficaria conhecido como o “campeonato do pirolito” – os “leões” perderam por 3-1 na primeira volta, mas ganharam por 4-1 na segunda.
Campeonato do Calabote
Nos anos 1950, o empate pontual no último dia aconteceu por quatro vezes, incluindo o já citado em 1955: em 1957-58, ganhou o Sporting ao FC Porto graças ao triunfo em casa por 3-0, depois de ter perdido por 2-1 nas Antas.
Talvez a época mais famosa nestas condições tenha sido a de 1958-59, naquele que ficou conhecido como o campeonato do Calabote. Foi título para o FC Porto (e não para o Benfica) pela diferença de golos, já que tinham empatado os dois jogos entre si, sendo que a última jornada quase deu campeonato para as “águias” – enquanto o FC Porto batia o Torreense por 3-0, o Benfica ganhou à CUF por 7-1, com três penáltis assinalados pelo árbitro Inocêncio Calabote.
A última vez que isto aconteceu foi em 1977-78, com o FC Porto a ficar com o título em vez do Benfica. Houve dois empates no confronto entre os dois, mas os “dragões” não deram hipótese na diferença de golos (81 marcados e 21 sofridos) aos “encarnados” (56/11).
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