Uma cidade esquecida por séculos pode finalmente ter sido identificada por arqueólogos na Macedônia do Norte — e o mais intrigante: ela pode estar diretamente ligada à avó paterna de Alexandre, o Grande.
Usando a mesma tecnologia a laser aplicada em escavações na floresta amazônica, cientistas conseguiram mapear vestígios de uma antiga cidade chamada Lyncus, que teria sido a capital do extinto reino de Lyncestis.
A descoberta, se confirmada por novas análises, pode revelar não apenas a localização de um importante centro urbano da Antiguidade, como também lançar luz sobre as origens da linhagem de um dos maiores conquistadores do mundo antigo.
A pesquisa foi conduzida por uma equipe da Universidade Politécnica Estadual da Califórnia, em Humboldt (EUA), em parceria com o Museu Bitola, da Macedônia do Norte.
Tecnologia de ponta e história milenar
O grande avanço veio por meio do uso do LiDAR — sigla para Light Detection and Ranging —, um sistema que utiliza feixes de laser lançados por drones ou aviões para mapear variações mínimas no relevo do solo.
Esse mesmo método tem sido amplamente utilizado por pesquisadores brasileiros para revelar cidades e estradas ocultas sob a densa vegetação da Amazônia.
No caso europeu, os arqueólogos aplicaram o LiDAR em 2023 para examinar um sítio já conhecido desde 1966, que, por décadas, foi erroneamente interpretado como um simples posto militar do período pós-Alexandre.
No entanto, as imagens geradas pelos lasers revelaram a presença de uma estrutura muito mais complexa: uma verdadeira cidade, com acrópole, ruas, oficinas e vestígios de edifícios públicos.
Ligação com a família real da Macedônia
Se as evidências se confirmarem, essa cidade seria o local de nascimento de Eurídice I, mãe de Filipe II e avó de Alexandre, o Grande.
A monarca teve papel relevante na formação política do antigo reino da Macedônia, e sua origem em Lyncus é citada por cronistas da Antiguidade.
A existência de Lyncus foi registrada por historiadores antigos, mas sua localização permaneceu um mistério por séculos.
A cidade fazia parte do reino de Lyncestis, que foi posteriormente incorporado à Macedônia sob o domínio de Filipe II.
Isso torna a descoberta especialmente importante para a compreensão da estrutura política e cultural da região nos séculos que antecederam a ascensão de Alexandre.
Achados que surpreenderam os cientistas
Durante as escavações recentes, a equipe encontrou artefatos que datam de diferentes períodos, incluindo:
- Fragmentos de cerâmica
- Machados de bronze
- Moedas cunhadas entre 325 a.C. e 355 a.C., período correspondente à vida de Alexandre
- Uma oficina têxtil
- Um ingresso de teatro feito de argila
- Uma lamparina reconstruída a partir de cacos encontrados no local
A diversidade e a sofisticação dos objetos sugerem que a cidade era economicamente ativa e culturalmente desenvolvida, muito além do que se esperava para um simples posto militar.
Evidências da Era do Bronze
Além dos artefatos do período clássico, os arqueólogos identificaram evidências de ocupação humana muito mais antiga, remontando à Era do Bronze — entre 3300 a.C. e 1200 a.C.
Isso indica que o local pode ter sido habitado de forma contínua por milênios, o que amplia ainda mais sua relevância histórica.
A descoberta reforça a hipótese de que Lyncus não apenas existiu como uma cidade estruturada, mas teve papel central na formação cultural da Macedônia Antiga.
Cidade revelada após mais de 2 mil anos de silêncio
Apesar de o sítio arqueológico ser conhecido há quase seis décadas, foi apenas nos últimos anos, com o avanço tecnológico, que os cientistas conseguiram enxergar além do óbvio.
A interpretação anterior limitava-se a ruínas militares posteriores à época de Alexandre.
O LiDAR permitiu uma leitura mais profunda e detalhada do terreno, revelando traços de uma urbanização muito mais complexa.
A acrópole encontrada tem cerca de sete hectares, indicando uma área nobre destinada a templos ou residências de figuras importantes da época.
Além disso, os traços de vias e edificações sugerem planejamento urbano — algo comum em cidades-estado da Grécia Antiga e seus vizinhos balcânicos.

Publicação pendente, mas exploração continua
Até o momento, as descobertas ainda não foram publicadas em um periódico científico revisado por pares, o que é essencial para validação oficial da comunidade acadêmica.
Contudo, os cientistas envolvidos no projeto já divulgaram parte dos resultados por meio de comunicados institucionais e pretendem aprofundar as escavações nos próximos meses.
A expectativa é que novas fases do projeto tragam mais evidências sobre o passado da cidade e sua possível conexão com a dinastia macedônica.
Implicações para a história antiga
Para os estudiosos da Antiguidade, a redescoberta de Lyncus pode preencher lacunas sobre a origem da nobreza macedônica e os laços familiares de Alexandre, o Grande.
A rainha Eurídice I, que teria nascido no local, é frequentemente mencionada como uma das figuras femininas mais influentes na corte macedônica, embora sua história seja pouco documentada.
Se confirmado, o achado também reforça a importância da tecnologia na arqueologia moderna, mostrando como ferramentas como o LiDAR podem resgatar pedaços fundamentais da história humana, mesmo depois de milênios.
Uma nova era para a arqueologia dos Bálcãs?
Com o avanço das pesquisas, a Macedônia do Norte pode se tornar um novo polo de interesse para arqueólogos e turistas interessados na história da Antiguidade, especialmente na trajetória de Alexandre, o Grande.
A redescoberta de Lyncus pode abrir caminho para novos projetos e revelações sobre um dos períodos mais fascinantes da civilização ocidental.
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