Eólica offshore na América do Sul desacelera por Brasil e Colômbia

O setor de energia eólica offshore na América do Sul inspira preocupações. Os dois maiores mercados o Brasil e a Colômbia ainda enfrentam dificuldades com a regulação de mercados e deficiências de infraestrutura que ameaçam atrasar o pipeline de projetos. Um relatório do Energy Industries Council (EIC), associação global da cadeia de suprimentos de energia e fornecedora de dados, indica que há uma desaceleração no avanço dessa tecnologia na região.

Uma preocupação para a EIC está no que chama de desmonte da indústria brasileira de turbinas eólicas, que ameaça elevar os custos da fonte. Entre 2022 e 2024, as fábricas da GE Vernova e da Siemens Gamesa encerraram suas atividades no país, diante da baixa demanda. Hoje, apenas a Vestas e a chinesa Goldwind operam fábricas relevantes no Brasil – com capacidade limitada para modelos offshore. O relatório não citou a WEG que decidiu encerrar a sua produção de turbinas eólicas onshore.

Essa situação eleva o nível de preocupação com a questão relacionada ao fornecimento de equipamentos. Segundo o EIC, 57% dos projetos propostos no país preveem turbinas de 15 MW – maiores do que qualquer modelo atualmente fabricado na América do Sul. A maior parte dos componentes teria que ser importada da Europa, onde fornecedores como a britânica JDR Cable Systems e a alemã Siemens Energy já dominam a cadeia de suprimentos.

Só o Brasil, lembra a EIC, concentra 225,8 GW de projetos propostos, é o maior pipeline fora da Europa e Ásia. Até o momento não há turbinas em operação, um dos pontos que traz insegurança é a ausência da análise dos vetos presidenciais à lei que estabeleceu o marco regulatório para a tecnologia. A lei foi sancionada em janeiro deste ano, mas o Congresso ainda não avaliou os vetos aos jabutis incluídos durante a tramitação do texto.

O governo agora projeta o primeiro leilão apenas para 2026 – dois anos após a previsão inicial. Esses atrasos regulatórios, aponta o relatório, estão criando uma situação em que há muito interesse dos investidores, mas nenhum avanço prático.

Números de projetos propostos na América do Sul até o momento. Fonte: EIC

Dados do Ibama mostram que 20,7% das áreas propostas para os projetos no país se sobrepõem, especialmente no Piauí (60%) e no Rio Grande do Norte (45%). Desenvolvedoras como Petrobras e Ocean Winds disputam as mesmas faixas costeiras, que ainda carecem de um processo formal de alocação.

Segundo o relatório da entidade, o potencial estimado do país é de 700 GW e há players globais instalados como Shell, TotalEnergies e Ocean Winds. E ainda há a Petrobras com sua proposta de ter até 23 GW em projetos, ambição essa anunciada no Brazil Windpower de 2023, evento realizado pelo Grupo CanalEnergia, by Informa Markets Latam. Os planos da estatal passam por ter duas fazendas-piloto com operação prevista para 2029.

Na Colômbia, a aposta está em unidades flutuantes para explorar águas mais profundas no Caribe. No país, a ausência de um marco legal específico pode afastar investidores, alerta o estudo. Mesmo o país já tendo realizado em 2023 um leilão para a tecnologia e que atraiu nove proponentes, entre eles Ecopetrol, BlueFloat Energy e a chinesa PowerChina. A licitação visa conceder ao menos 1 GW de capacidade até dezembro de 2025.

O país possui uma potencial técnico relativamente tímido em comparação ao Brasil, são 50 GW. Contudo, a Colômbia quer lançar seus primeiros projetos até 2030. A costa caribenha do país oferece ventos de até 10 metros por segundo – comparáveis ao Mar do Norte. Mas a profundidade superior a 200 metros exige o uso de turbinas flutuantes. Dos 5,84 GW propostos, aproximadamente 75% são projetos flutuantes. A grande maioria são de responsabilidade da espanhola BlueFloat Energy com 5 GW na costa de La Guajira – região que enfrenta limitações na rede elétrica. O relatório aponta que o Ministério de Energia colombiano reconhece que a modernização da transmissão é “crítica”, mas ainda não há verbas alocadas.

Outros países que são citados são Chile, Uruguai e Peru que também possuem potencial técnico relevante, mas seguem atrasados. A proposta chilena Viento Azul, de 960 MW e liderada pela britânica 17 Energy, aguarda licenças. O Uruguai mapeou 275 GW de capacidade offshore em 2024, mas ainda não recebeu propostas. O Peru, com potencial de 662 GW, segue inexplorado.

Para a entidade, o sucesso da eólica offshore na América do Sul depende de três fatores principais: clareza regulatória, modernização da rede elétrica e fortalecimento da cadeia de suprimentos para atrair fabricantes e reduzir a dependência externa.

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