entenda como o Brasil subiu cinco posições no IDH

O Brasil avançou cinco posições no ranking de desenvolvimento humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), do 89º para o 84º lugar. O relatório divulgado ontem tem como base dados de 2023. Com o avanço, o país se aproxima da tendência de desenvolvimento anterior à pandemia, que afetou drasticamente os indicadores observados pelo Pnud.

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O progresso brasileiro em 2023, enquanto o índice global ficou praticamente estagnado, deveu-se a melhores resultados nos indicadores de renda e saúde. O Brasil, porém, estancou na educação.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil atingiu 0,786 em 2023, o que o coloca no grupo de elevado IDH, de acordo com a agência das Nações Unidas (ONU). No ano anterior, o IDH era de 0,760. O relatório mais recente incorpora a atualização realizada pelo Banco Mundial na série histórica de renda per capita dos países, cujo ano-base passou de 2017 para 2021. O IDH varia de zero a 1 e, quanto maior, melhor.

No mundo, o IDH ficou em 0,756 em 2023, praticamente estagnado frente ao ano anterior, quando foi de 0,752. O ranking é liderado pela Islândia (0,972), seguida por Noruega e Suíça, com 0,970. Na lanterna, com 0,388, está o Sudão do Sul.

A nota do Brasil está pouco acima da média de América Latina e Caribe, de 0,783. Mas fica atrás de Chile (45º), Argentina (47º), Uruguai (48º), Peru (79º) e Colômbia (83º).

O país saiu de uma renda per capita por paridade do poder de compra de US$ 17.594, em 2022, para US$ 18.011 no ano seguinte. Em 2020, era de US$ 16.609.

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O ganho resulta da melhora no mercado de trabalho brasileiro, fortemente afetado pela pandemia. O desemprego no país hoje está em um dos menores patamares da série histórica. O aumento no valor de benefícios sociais, como Bolsa Família, também influencia a renda.

Já no indicador de saúde, o Brasil conseguiu reverter o prejuízo causado pela pandemia e alcançou expectativa de vida de 75,85 anos. Em 2020, era de 74,51 anos, caindo a 73 anos no ano seguinte, devido às mortes por Covid-19.

O fato de estar estagnado na educação impede o Brasil de subir mais no ranking. O indicador considera a expectativa de escolaridade, que considera a estimativa de média de anos de estudo que a atual geração de crianças terá quando completar o ciclo escolar, e a escolaridade média da população, que corresponde aos anos efetivos de estudo.

Em 2023, a expectativa de escolaridade no Brasil se manteve em 15,79 anos. Ela está nesse patamar ao menos desde 2020, com pequena variação nas casas decimais. Já a escolaridade média da população ficou em 8,43 anos, mesmo patamar dos dois anos anteriores. Em 2020, estava em 8,27 anos.

— O resultado (do IDH) reflete o desempenho do PIB em 2023 (3,2%) e a recuperação na expectativa de vida, que não se estendeu à educação. Não conseguimos recuperar plenamente nos dados educacionais depois da pandemia. O grupo que mais fez isolamento social na pandemia foi o de crianças e jovens, que perderam na socialização e na alfabetização — disse o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social.

Ele acredita, no entanto, que possa haver melhoras nesse indicador no próximo relatório, que terá por base os dados de 2024. Para Neri, o Pé-de-Meia, que garante uma renda para o adolescente que permanecer estudando, pode ajudar:

— O programa focaliza nos mais pobres e pega o ensino médio e de jovens adultos, que é uma política substantiva que vai direto no problema: na baixa renda e no nível mais problemático da educação, que é o ensino médio.

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Outro ponto preocupante é a desigualdade. Segundo o relatório do Pnud, o IDH do Brasil fica 24% menor e o país desaba 21 posições no ranking quando os dados consideram as disparidades no acesso à saúde, educação e renda das diferentes classes sociais. No Brasil, o 1% mais rico da população detém 21,1% da renda nacional, mostra o relatório do Pnud. Já na Islândia, país com maior IDH do mundo, o topo da pirâmide tem apenas 8% da renda nacional.

Neri afirma que a “desigualdade é nossa marca mais incômoda” nesses rankings internacionais:

— É o terceiro país que mais perde posições no ranking quando ajustado pela desigualdade. Só perde para Barbados e África do Sul.

Globalmente, o IDH teve o menor crescimento nos 35 anos do Pnud, excluindo o período da pandemia (2020 e 2021), o que é classificado como uma “desaceleração sem precedentes”.

— Estávamos no caminho certo há algum tempo para atingir um índice de desenvolvimento humano mundial muito alto até 2030 — disse o administrador do Pnud, Achim Steiner. — Mas agora existe o perigo de que essa desaceleração possa mudar os rumos, atrasando-nos em potencialmente décadas.

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O principal fator para a desaceleração da evolução positiva do IDH global foi a expectativa de vida. Antes da Covid, o avanço no índice era de cerca de três meses por ano. Em 2022 e 2023, caiu à metade.

O relatório da ONU também apontou, pelo quarto ano consecutivo, o distanciamento entre os países com maior IDH e aqueles com menores índices de desenvolvimento. Steiner disse à agência AFP que, se o lento progresso observado se tornar o “novo normal”, alcançar o nível elevado de desenvolvimento esperado “poderia levar várias décadas a mais”. Isso, afirmou, deixaria o mundo “menos seguro, mais dividido e vulnerável a choques econômicos e ecológicos.”

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Essa desaceleração ocorreu antes mesmo de vários países, especialmente os Estados Unidos, reduzirem a ajuda internacional. Segundo Steiner, se as nações ricas pararem de financiar o desenvolvimento, haverá impacto nas economias e no IDH, o que resultará em “menor expectativa de vida, queda de renda, mais conflitos”.

Para a frente, o relatório do Pnud observa que a inteligência artificial (IA) pode ajudar a explorar novos caminhos para o desenvolvimento humano, mas isso dependerá das escolhas feitas pela sociedade.

— Com as políticas certas e foco nas pessoas, a IA pode ser uma ponte crucial para novos conhecimentos, habilidades e ideias que podem capacitar todos, desde agricultores até pequenos empresários — disse o diretor do relatório, Pedro Conceição.

Mas o relatório também destaca os riscos da IA, especialmente as desigualdades de acesso entre países ricos e pobres, e os “preconceitos culturais” ligados ao viés de dados.

A parcela da população brasileira que está na pobreza caiu forte no ano passado, segundo estudo do economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social e especialista em pobreza e desigualdade. A taxa recuou de 28,01% em 2023 para 25,36% em 2024. Desde 2022, a pobreza já caiu 21%.

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