Haykuykuy! Que é como quem diz, saúde! É assim que se brinda em Quechua, a língua do Império Inca, ainda falada em Cusco, a cidade peruana ao lado de Machu Picchu, e a inspiração por detrás deste bar localizado no último piso do Hilton Porto Gaia.
“Cusco, tanto da cidade como do próprio verbo cuscar, porque o nosso conceito é bastante diferente, levanta a curiosidade”, partilha a sub-chef Ana Costa. Num espaço que era anteriormente “um clássico bar de hotel”, surgiu a ideia e a oportunidade de criar algo novo e a cozinha peruana veio, desde logo, à cabeça da equipa, que decidiu apostar nesta gastronomia “que está com cada vez mais expressão pelo mundo”.
Juntos, Ana Costa e Ilídio Barbosa, chef executivo, cogitaram uma carta que mescla a gastronomia peruana com a portuguesa. “Pegamos em pratos clássicos e tradicionais do Peru e demos-lhes um twist português, e vice-versa, principalmente a nível de ingredientes, pois são sempre frescos, locais e sazonais”, conta o chef Ilídio.
Durante o workshop de ceviche, que precedeu o jantar, os chefs brincam que, numa próxima vez, têm de ir juntos à Afurada buscar o peixe e ensinar os presentes a arranjá-lo. Por enquanto, e por impossibilidade horária, o naco de peixe branco chega-nos já cuidadosamente arranjado e curado durante 12 horas, pronto a ser dividido em cubos, que será posteriormente envolvido num rico leche de tigre amarelo e decorado com milho frito, chips e puré de batata doce, coentros e furikake, para um toque crocante.
Os segredos de um dos ceviches mais populares do Cusco são-nos, assim, revelados, mas ainda há muito para descobrir. Numa carta concisa, os pratos foram pensados para acompanhar as bebidas, o principal pilar do Cusco.
Onde o Peru encontra Portugal
A partir das 17.30, hora de abertura, os sofás junto aos janelões de vidro começam a encher e levantam-se os telemóveis para captar as últimas horas em que o sol refina a vista panorâmica para a Ponte D. Luís. Entre poses e cliques, saem vários cocktails da casa. O Pisco Sour à Moda do Porto (12€), feito com pisco envelhecido em cascos de vinho do Porto, é um bestseller, assim como o Margarida Algarvia Came to Gaia (13€), uma margarita com licor de laranja do Algarve e sal negro peruano. Já o Mezcal Negroni (14€) pega na receita tradicional de negroni e adocica-a com mezcal, vermute doce e um toque de vinho do Porto.

Se procura algo mais leve, sem ou quase sem álcool, a chicha morada (7€) — a bebida típica peruana confeccionada com milho roxo e fruta, e condimentada com canela e cravinho — é uma óptima opção, conhecida pelo seu poder milagroso na cura de ressacas. Nesta linha, destaca-se também o Cherimoya Apple Delight (11€), preparado com anona sul-americana, e ainda o Arroz con Leche (15€), feito com rum da Madeira envelhecido, leite de arroz, baunilha e canela, uma lambarice líquida, perfeita para acompanhar a sobremesa — mas já lá vamos.
Para acompanhar os copos pós-trabalho, os chefs recomendam os snacks, que podem funcionar também como entradas. A tosta de leitão à Bairrada com piso de laranja (10€) é o grande destaque, mas, se a proximidade à água o estiver a inspirar, o slider de gamba da costa com caril frio de aji amarillo (12€) e os croquetes de peixe com maionese de tofu (9€) também são bons e recomendam-se.

A componente de cevicheria é outra das bases do Cusco, “tanto por ser um dos pratos mais populares do Peru, como pela nossa proximidade ao peixe de excelente qualidade”, conta o chef Ilídio. O ceviche de peixe da Afurada com leite de tigre amarelo (16€), humildemente replicado pela equipa Time Out no workshop introdutório, é doce e levemente picante, assim como o ceviche de atum dos Açores, com escabeche rocoto e batata doce (16,5€). Já o ceviche de salmão, com molho de manga e tapioca (16€), é uma aposta segura e outro dos bestsellers da casa. No campo dos tiraditos — ceviche em que o peixe é servido em tiras ao invés de cubos —, o de lírio com ajo blanco (19€), decorado com quinoa, é o preferido da chef Ana.
A partir das 19.00, uma secção extra da carta desbloqueia-se e os pratos de jantar entram em cena. Ao tradicional polvo assado com migas junta-se o molho peruano anticuchera (29€). Este molho funciona também como marinada nas espetadas de coxas de frango (23€). Já o bife do acém redondo (35€) é regado com molho adobo e servido com chips de batata doce. A outra proposta com sabor a mar é o camarão tigre, com salada slaw de algas, torresmos e molho de chili e romesco (34€). Para os vegetarianos, há parrilada de cogumelos (14€) e quinoto de abóbora assada (18€).

Para findar a refeição, a influência peruana na tradição portuguesa mantém-se. A baba de camelo é servida com granizado de lima (8€) e a tarte de chocolate negro é acompanhada por abacate e creme de tequila (10€). O tiramisu de mezcal (8€) e o Romeu e Julieta, com queijo de Seia e marmelada caseira (9,50€), são as outras opções.
Calma, que ainda não acabou. Para um adeus em grande, o Cusco sugere uma experiência diferente. De um mini barril são retirados shots de pisco envelhecido com vinho do Porto, bourbon, licor português Singeverga e Campari. Depois, o grupo (mínimo de quatro pessoas) deve colocar vendas nos olhos e tentar acertar o brinde no centro da mesa. Os risos estão garantidos.
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