Em atrito com os EUA, a China investe para ligar o Brasil ao Pacífico

A China está empenhada na construção de nova rota para conectar o Atlântico e o Pacífico, atravessando Argentina, Brasil, Chile e Paraguai, de modo a facilitar o intercâmbio comercial da Ásia com a América do Sul. Apesar de não ser novo, o projeto se insere no meio da guerra comercial que o gigante asiático trava com os Estados Unidos de Donald Trump.

O principal objetivo do corredor é permitir que o Brasil e os vizinhos sul-americanos evitem as rotas tradicionais de navegação do Atlântico, reduzindo significativamente os tempos de trânsito e os custos logísticos para exportações agrícolas, como soja, carne e grãos.

Uma delegação chinesa esteve recentemente o Brasil para discutir grandes projetos de infraestrutura, incluindo o Corredor Bioceânico (veja detalhes abaixo). A visita ocorreu no contexto dos acordos estratégicos assinados pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Xi Jinping (China) durante a visita de Estado de Xi ao Brasil em novembro do ano passado. O presidente brasileiro vai retribuir a visita no próximo mês de maio.

Canal do Panamá

Travessia-chave para o comércio marítimo internacional, o Canal do Panamá foi inaugurado no começo do século passado como alternativa para encurtar distâncias. Ele possui 77,1 quilômetros de extensão, e o tempo aproximado para cruzá-lo varia entre 20 e 30 horas. A alternativa ao canal é contornar o continente, nas pontas meridionais da África e da América do Sul, ou o Canal de Suez.

Em fevereiro, o Panamá se retirou do projeto Novas Estradas da Seda, em decisão tomada sob pressão de Trump, que alega que o Canal do Panamá está sob o controle de Pequim.

Trata-se de uma vitória diplomática para Washington, que teme a crescente influência de Pequim, especialmente sobre essa infraestrutura estratégica, vista pelos EUA como um risco à segurança. Como o Canal do Panamá é ponto central para o comércio mundial, o afastamento de Pequim fortalece a influência norte-americana na região.

Desde 2017, Pequim tem investido pesadamente no Panamá, sobretudo em portos e logística, buscando facilitar seu comércio. Na condição de segundo maior usuário do canal depois dos EUA, a China esperava ter condições mais favoráveis para seus negócios.

Agora, o Corredor Bioceânico é visto como uma alternativa ao Canal do Panamá, que vinha garantindo a Pequim uma influência crescente na América Latina, antes “quintal” dos EUA.

O governo brasileiro já trabalha, via Ministério do Planejamento e Orçamento, com o desenvolvimento das cinco rotas de Integração e Desenvolvimento Sul-Americano, que fazem parte da agenda da integração regional. A pasta desenhou as cinco rotas após consulta aos 11 estados brasileiros que fazem fronteira com os países da América do Sul.

As rotas têm o duplo papel de incentivar e reforçar o comércio do Brasil com os países da América do Sul e reduzir o tempo e o custo do transporte de mercadorias entre o Brasil e os seus vizinhos e a Ásia.

No total, as rotas de integração contam com 190 obras que já estão no PAC e, por isso, têm recursos assegurados no orçamento. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aportou US$ 3 bilhões, e os bancos regionais de desenvolvimento – Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) e Fonplata — aportaram mais US$ 7 bilhões. Mas ainda será necessário investimento em outros projetos de logística, em que podem entrar os chineses.

Na estimativa do governo brasileiro, as rotas poderão estar funcionando entre 2025 e 2027.

Veja detalhes:

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O Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) desenhou as cinco rotas após consulta aos 11 Estados brasileiros que fazem fronteira com os países da América do Sul

Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO)

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A Rota 1 é a Ilha das Guianas

Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO)

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A Rota 2 é a Amazônia

Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO)

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A Rota 3 abrange o Centro-Oeste brasileiro e é chamada de Quadrante Rondon

Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO)

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A Rota 4 passa pelo Sul e Sudeste brasileiro, chamada de Bioceânica de Capricórnio

Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO)

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A Rota 5 abrange o cone sul, chamada de Bioceânica do Sul

Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO)

Visita ao Brasil

Na semana passada, em visita ao Brasil, os chineses se encontraram com representantes estaduais de Mato Grosso, Goiás, Rondônia e Acre para discutir as redes rodoviária, ferroviária e hidroviária do país. Eles visitaram, por exemplo, a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), localizada em Goiás, obra que visa conectar as áreas produtoras de commodities agrícolas da região à malha ferroviária existente e aos portos do litoral brasileiro.

Eles também visitaram o porto de Ilhéus (BA) e o porto de Santos (SP), este último um dos maiores da América Latina, que está sendo expandido com investimento de US$ 486 milhões pela COFCO International, gigante chinesa do agronegócio.

Na terça-feira (15/4), a comitiva chinesa também se reuniu com integrantes dos Ministérios dos Transportes, do Planejamento e Orçamento, da Agricultura e Pecuária e da Agência Infra S.A para conhecer parte da carteira do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

“Estamos honrados em receber a delegação chinesa. Esta é uma oportunidade de estreitar nossos laços e mostrar a viabilidade para a construção desse corredor”, afirmou o secretário especial do Novo PAC, Maurício Muniz.

Chile e Brasil discutem rota

O Chile apresentou na última segunda-feira (14/4) o plano de obras de infraestrutura do Corredor Rodoviário Bioceânico. Em andamento há uma década, é considerado um dos projetos de infraestrutura mais importantes da América Latina, abrangendo 2.400 km.

O programa será um dos pontos centrais de discussão durante a visita oficial que o presidente do Chile, Gabriel Boric, fará ao Brasil na próxima semana.

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Presidente do Chile, Gabriel Boric

Hugo Barreto/Metrópoles

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Boric e Lula

Igo Estrela/Metrópoles

Na quarta-feira (23/4), a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, que comanda o projeto Rotas de Integração Sul-Americana, estará com o ministro da Economia do Chile, Nicolas Grau, e empresários de diversos setores produtivos dos dois países. O evento será realizado na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília (DF).

“Será um momento fundamental porque fortalecerá os laços de confiança entre os setores público e privado dos dois países. Cada um está em uma ponta: o Chile diante do Pacífico e o Brasil diante do Atlântico. A rota bioceânica permitirá uma aproximação que trará mais empregos e mais renda para os dois países”, afirmou Tebet.

A ministra esteve no país asiático em meados de 2024, para buscar parcerias com a iniciativa privada e com o governo chinês.

A principal Rota que passa por Brasil e China é a Rota Bioceânica de Capricórnio, que liga os portos brasileiros do sul do Brasil, nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, aos portos de Antofagasta, Iquique e Mejillones, no Chile, passando pela região do Chaco paraguaio e pelas províncias argentinas de Salta e Jujuy.

“É uma boa notícia, porque se trata de um integração real e concreta”, afirmou Boric durante cerimônia no Palácio de La Moneda, em Santiago.

O plano do presidente Boric prevê o desenvolvimento de 22 projetos de infraestrutura no Chile, com foco na melhoria das rodovias e na criação de novos pontos de controle aduaneiro e policial.

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