O povo da Martinica revolta-se contra os efeitos do colonialismo

Um estudo do Instituto nacional de Estatística e Estudos Económicos da França, o Insee France, revela uma “diferença média de preços no consumidor de 14% entre a Martinica e a França continental”. Esta diferença chega a atingir “40% no caso dos produtos alimentares, que representam 15% das despesas das famílias”.

O Collectif Rassemblement pour la protection des peuples et des ressources afro-caribéens (Coletivo para a proteção dos povos e dos recursos afro-caribenhos), que se mobiliza desde o dia 1 de setembro, continua a mobilizar as populações, denunciando o anúncio de um “acordo” por parte do Estado colonial francês. “O povo, em total desacordo, decidiu continuar o movimento… Estamos ultra-determinados. Mantemos os bloqueios, mantemos tudo. Continuaremos a lutar até conseguirmos alcançar a vitória”, declarou o líder deste movimento social contra o elevado custo de vida, Rodrigue Petitot.

A Martinica continua a ser palco de bloqueios de estrada efetuados por ativistas e o recolher obrigatório continua em vigor. Desde o início dos protestos, três pessoas foram mortas e dez ficaram feridas.

Dos 350.000 habitantes da Martinica, 34.500 agregados familiares (59.000 pessoas) beneficiam do RSA, Revenu de solidarité active, o rendimento mínimo garantido francês, e uma em cada cinco pessoas (76.000) vive abaixo do limiar de pobreza.

O movimento que tem incendiado a ilha faz lembrar a luta histórica que teve lugar cinquenta anos antes, conhecida como a greve em marcha, na qual os grevistas viajavam de plantação em plantação. Alex Ferdinand, independentista, foi um dos responsáveis pelo “setembro de 1870”, nome dado a uma insurreição ocorrida no sul da ilha em 1974. Ele recordava: “os békés (famílias descendentes de colonos proprietários de escravos que controlam a economia da ilha) não cederam facilmente. Conseguimos alguns pequenos aumentos salariais e recebemos o pagamento de horas extraordinárias. Mas, acima de tudo, conquistámos acordos coletivos”.

Depois da luta contra a “especulação” em Guadalupe, liderada por Elie Domota, foi a vez de a Martinica, no seguimento da luta Kanaky pró-independência, se incendiar. Estas lutas sociais contra o elevado custo de vida são as formas assumidas pelo movimento em direção à inevitável futura independência das últimas colónias francesas.


Diagne Fode Roland é um ativista que foi porta-voz na luta dos sem-papéis em França e é membro do comité editorial do jornal panafricano Ferñent, rastilho em uolofe.

Texto publicado no Afriques en Lutte.

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