As exportações do Brasil para a China somaram US$ 19,8 bilhões de janeiro a março, recuo de 13,4% ante igual período de 2024, a primeira queda nessa base de comparação em dez anos. Já as importações registraram o recorde de US$ 19,1 bilhões.
A balança seguiu com superávit, de US$ 745 milhões, o menor saldo positivo desde 2015, quando houve déficit.
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Os dados chamam atenção por causa da guerra comercial iniciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Embora a balança do primeiro trimestre tenha fechado antes do anúncio do tarifaço, no início deste mês, as trocas ocorreram sob as primeiras medidas do governo americano — China, Canadá, México e alguns produtos específicos já haviam tido suas tarifas elevadas.
Para Tulio Cariello, diretor de Conteúdo e Pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), ainda é cedo para apontar sinais da guerra comercial nos dados. Um efeito esperado é o aumento da demanda chinesa pelas matérias-primas do Brasil. No outro sentido, analistas citam uma “invasão” de produtos industriais da China no mercado brasileiro e de outros países.
No primeiro trimestre, pesou sobre as exportações para a China o tombo nas cotações das principais commodities produzidas pelo Brasil, segundo levantamento do CEBC com dados da balança comercial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
Entre os destaques nas exportações, a soja bateu recorde na quantidade embarcada para a China, com 16,9 milhões de toneladas no primeiro trimestre. Mas, como os preços em dólar caíram, o valor exportado encolheu 4,4% ante o primeiro trimestre de 2024, para US$ 6,7 bilhões.
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Os embarques de minério de ferro cresceram 3% em volume, mas caíram 25% no valor total vendido, para US$ 3,9 bilhões. As vendas de petróleo também somaram US$ 3,9 bilhões, queda de 25% no valor e de 26% na quantidade ante o primeiro trimestre de 2024.
— No caso da soja, vendemos mais em toneladas, mas, por conta do preço, teve um faturamento menor — afirmou Cariello.
Na semana passada, a Aprosoja-MT, associação que representa os produtores de Mato Grosso, disse ver na guerra comercial oportunidades para ganhar mercado. Em vídeo, Lucas Beber, presidente da entidade, disse que “o Brasil já é o maior fornecedor de soja para a China, e temos condições de aumentar essa oferta”, neste e nos próximos anos.
Segundo o levantamento do CEBC, que será divulgado hoje, também houve recordes de exportações brasileiras dos chamados “minerais críticos”, demandados na transição energética. As exportações de cobre atingiram US$ 331 milhões, um salto de 180% sobre o primeiro trimestre de 2024.
Nas importações, apesar do recorde no primeiro trimestre, a “invasão” esperada caso as vendas da China destinadas aos EUA sejam desviadas para o Brasil não parece estar ocorrendo ainda, disse Cariello.
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O único movimento atípico no primeiro trimestre foi a compra de uma plataforma de petróleo. O equipamento respondeu por US$ 2,661 bilhões das importações vindas da China. Bem acima dos US$ 549 milhões de compras em painéis solares, segundo bem mais importado.
— Estamos vendo um quadro relativamente normal. O que destoa foi a compra da plataforma de petróleo — disse Cariello.
A Petrobras tem encomendado plataformas na China nos últimos anos, ainda que a cadeia de produção dos equipamentos envolva mais de um país. Em dezembro, a FPSO Alexandre de Gusmão deixou o estaleiro chinês, a caminho do Brasil, para ser instalada na Bacia de Santos.
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