O Intercolegial não é apenas uma competição estudantil. É um fenômeno social que há 43 anos transforma vidas no Rio de Janeiro. Na edição de 2025, apresentada pelo Sesc-RJ e organizada pelo GLOBO, o evento dá um salto de sete para 12 modalidades, incluindo pela primeira vez disputas paralímpicas. Mas por trás dos números, há um universo de histórias que mostram como o esporte pode ser poderoso na formação de cidadãos.
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Beatriz Braga Lopes, hoje com 22 anos e estagiária na Defensoria Pública, carrega no currículo três medalhas de ouro no judô e uma na luta olímpica pelo Intercolegial. Para ela, o tatame, mais do que um esporte, foi uma escola de vida.
— Se estou numa faculdade hoje, é graças ao judô, graças ao Intercolegial — conta.
A disciplina do esporte — controle de peso, alimentação, sono — moldou sua personalidade competitiva, essencial para enfrentar os embates da carreira jurídica.
— No Direito, como no judô, você precisa saber cair para depois se levantar mais forte — compara.
Ela guarda com carinho as memórias do evento:
— Carrego a lembrança do ginásio lotado, da tocha, da volta olímpica. Esperávamos o ano inteiro por aquilo.
Essa magia também cativou Giullia Penalber desde cedo. Aos 33 anos, a atleta olímpica de wrestling já coleciona medalhas em Pan-Americanos e um histórico 5° lugar nas Olimpíadas de Paris. Tudo começou aos 12 anos, no Intercolegial.
— Era a vitrine que todo jovem atleta almejava. Meus pais trabalhavam o dia todo. O esporte nos deu oportunidades — relata.
Para ela, o maior legado não está nas medalhas, mas na jornada:
— O esporte abre mentes para o mundo. Você viaja, conhece culturas, faz amigos para a vida toda.
Crítica da falta de investimento no esporte escolar pelo Brasil, a atleta olímpica defende o papel do Intercolegial neste contexto:
— Nas escolas podem ser detectados talentos incríveis. É lá que crianças aprendem a lidar com vitórias e derrotas.
Essa perspectiva ressoa na história de Gustavo Faria Martins. Aos 19 anos, professor de xadrez e estudante de Administração, ele viveu uma trajetória de superação: de aluno de escola pública a bolsista em um colégio de elite, graças às suas quatro medalhas de ouro na natação e duas no xadrez pelo Intercolegial.
Uma fratura no ombro durante uma competição de judô poderia ter sido o fim, mas se tornou lição. Hoje, ele aplica a disciplina esportiva nos estudos.
— A prova é como uma competição. Você só se sai bem se treinar direito. No xadrez, por exemplo, desenvolvi meu raciocínio lógico, que me ajuda a resolver problemas complexos na faculdade — conta Gustavo.
A emoção de vencer após anos de tentativas marcou Laura Cândido de Paulo, de 22 anos. Campeã de tênis de mesa no Intercolegial de 2016 depois de bater na trave nos anos anteriores, ela lembra o momento exato da conquista:
— Nem pode jogar a raquete no chão, mas joguei e chorei. Todo mundo chorou.
Filha de Katia Maria de Paulo, que participou do primeiro Intercolegial, em 1982, no handebol, Laura carrega um legado familiar.
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— Minha mãe sabia que se eu ganhasse seria uma conquista para as duas— emociona-se ela.
Hoje estudante de Hotelaria, Laura vê paralelos entre o esporte e sua carreira:
— No tênis de mesa, se eu erro, minha dupla perde. No hotel, se um setor falha, todos são afetados.
O Intercolegial também escreveu uma história de família para Michele Cavallini e seu filho Lucas. Michele, de 43 anos, analista do Sesc RJ, participou na década de 1990 pelo vôlei. Três décadas depois, incentivou o filho a entrar no caratê.
— Ele era extremamente tímido. O esporte o ajudou a se expressar — conta.
A estratégia deu certo: Lucas, hoje com 20 anos e estudante de Engenharia Elétrica na UFRJ, chegou a faixa preta e conseguiu bolsas de estudo:
— O Intercolegial me deu autoconfiança. Aprendi que quando perdemos é só porque o outro se preparou melhor. E isso vale para a vida.
Em 2025, quando novas gerações entrarem nas quadras, estarão começando jornadas que podem mudar suas trajetórias.
— Depois de Administração, quero estudar para me tornar preparador físico, para dar direcionamento a crianças que querem ser atletas. Só tenho a agradecer ao Intercolegial por ter me colocado neste caminho — conclui Gustavo.
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