Portugal precisa de enfrentar, de forma decidida, os principais desafios que nos impedem de sermos verdadeiramente uma potência económica.
Precisamos de uma economia baseada em setores de valor acrescentado, com uma indústria forte, competitiva e tecnologicamente inovadora ao contrário de nos mantermos focados apenas no turismo, na construção e nos serviços pouco especializados.
Ao mesmo tempo, assistimos a ciclos de governação muito curtos, com um progressivo desgaste do sistema político (muitas vezes alimentado por um sistema judicial moroso onde demasiados processos se arrastam no tempo, resultando muitas vezes em prescrições ou julgamentos feitos em praça pública). Esta lentidão mina a confiança dos cidadãos nas instituições e contribui para um clima de descrença generalizada.
As desigualdades sociais e regionais continuam a ser marcadas por profundas clivagens: o interior permanece assimétrico em relação ao litoral, com territórios envelhecidos, desertificados e carentes de investimento. A maior parte das oportunidades económicas e sociais concentram-se em Lisboa e no Porto e comprometem a coesão nacional e o desenvolvimento sustentável do nosso território.
É também um problema a juventude que emigra – e desse fato posso falar com razão de direito, uma vez que emigrei para os Países Baixos assim que terminei a licenciatura, depois parti para os EUA e de seguida para Angola, sempre à procura de melhores oportunidades profissionais. Esta “fuga de cérebros” enfraquece a capacidade de inovação e o desenvolvimento interno da nossa sociedade, uma vez que logo no início da nossa carreira, temos ideias “frescas” e acreditamos que conseguimos mudar o mundo, menos no nosso país!
E com a agravante de uma população cada vez mais envelhecida, resta-nos a esperança de termos mais imigrantes e que tenham gosto em vir para Portugal, sobretudo mão de obra qualificada que contrarie a taxa de natalidade atual (nascem apenas cerca de 80 mil bebés por ano, um valor insuficiente para garantir a renovação geracional e a sustentabilidade demográfica do país).
Feita esta introdução geral do estado da nação, acresce ainda a falta de visão estratégica de longo prazo para o território nacional, mas que felizmente o atual governo da Aliança Democrática procura contrariar, conforme escrevi no último artigo sobre o novo projeto Parque Cidades do Tejo – uma visão global para a região de Lisboa a longo prazo. Agora é preciso implementar esta visão para todo o território nacional.
Desta forma, apresento 3 sugestões de desafios que podem mudar significativamente o futuro de Portugal a curto e médio prazo:
Apostar num crescimento económico baseado na competitividade: aumentar a produtividade no trabalho e diminuir a burocracia que penaliza com morosidade os processos de licenciamento; investir e financiar mais na inovação, com acesso a capital de risco e financiamento de startup’s e PME’s; alinhar o sistema educativo com as necessidades do mercado de trabalho, e; criar infraestruturas logísticas e digitais mais competitivas.
Investir mais na Educação e Formação Profissional: qualificar o trabalho com as mudanças tecnológicas que melhoram a produtividade, requalificar aproximadamente 30% da força de trabalho nacional em inteligência artificial; incentivar e investir em cursos e programas em áreas de futuro como: engenharia, tecnologias de informação, biotecnologia, energias renováveis, saúde e cuidados sociais, e; desenvolver centros de formação modernos, com ligação direta às empresas e vocacionados para adultos.
Aumentar a oferta de Habitação Acessível: reabilitar e requalificar a habitação pública, com foco na classe média e nos jovens trabalhadores; incentivar modelos alternativos aos promotores privados, como as cooperativas (que tanto sucesso tiveram no passado) ou habitação colaborativa; aproveitar o património público devoluto, com uma clara e direta ação das autarquias e transformar os centros urbanos em cidades vivas e dinâmicas (não apenas direcionadas para o turismo).
Estas 3 propostas – crescimento económico competitivo, investimento em educação e habitação acessível – formam uma base sólida essencial para o futuro de Portugal. São áreas interdependentes que se forem trabalhadas em conjunto podem reformar estruturalmente o nosso país, tornando-o mais produtivo, mais justo e mais resiliente.
Portugal precisa de uma visão estratégica, transversal e com rasgos de muita coragem. É preciso romper com o imobilismo das últimas décadas, valorizar as pessoas e preparar verdadeiramente o país para os desafios das próximas décadas. Com a aproximação das eleições de maio, importa perceber qual é o futuro governo que conseguirá mobilizar consensos, resistir aos interesses instalados e implementar as reformas estruturais com visão de longo prazo.
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