2024, o ano mais quente de sempre. Portugal representou 25% da área ardida na Europa – Observador

Além dos extremos em termos de temperatura, a Europa também registou a maior quantidade de cheias desde 2013 — quase um terço (30%) da rede fluvial do continente registou inundações, onde cerca de 12% representam cheias “severas”. A Europa ocidental teve um dos dez anos com maiores níveis de precipitação de sempre, registados principalmente em França e na região norte de Espanha, ao contrário do leste, onde as condições foram “mais secas do que a média”. Assim, 2024 foi um ano de grande contraste entre este e oeste. Enquanto um lado apresenta temperaturas recorde e secura acima da média, o outro regista também um aumento das temperaturas, mas com níveis de precipitação intensa.

Segundo Carlos da Câmara, a responsabilidade é também atribuída ao efeito de estufa, o armazenamento de energia na atmosfera pelo aumento das emissões de dióxido de carbono. “O CO2 tem uma propriedade engraçada: é transparente à radiação visível, mas é opaco para a radiação infravermelha [para o calor]”, ou seja, retém o calor e, “para que o globo possa exportar a mesma quantidade de energia que recebe, tem de aumentar a temperatura, de modo a garantir que compensa a energia que fica retida”. Assim, com uma maior retenção desta energia na atmosfera, tal como nos oceanos, leva à intensificação de tempestades e do ciclo da água, provocando precipitações mais fortes e desigualmente distribuídas.

Mas este fenómeno de contraste não é novo, é algo que se tem verificado consistentemente ao longo dos anos. Contudo, devido à intensificação destes fatores climatéricos, “vai haver cada vez mais uma tendência para maiores contrastes e um maior estímulo para condições extremas”. Uma evidência tem sido a diferença entre o observado nas simulações meteorológicas, “mais suaves” do que tem vindo realmente a acontecer com ondas de calor e precipitação. Isto revela que, provavelmente, ainda não estão a ser “convenientemente simulados” alguns “aspetos termodinâmicos” e, por isso, “as coisas estão a ir mais rápido do que os modelos simulam”.

Como o efeito El Niño já terminou e, em princípio, não deverá regressar este ano, é possível que 2025 não seja o terceiro ano consecutivo a receber o título de “ano mais quente de sempre”. Porém, dada a tendência que se tem verificado, “se não for em 2025, será 2026 ou 2027”, acredita Carlos da Câmara.

Os recordes de temperatura ficaram no centro, no sul e no sudeste europeu, mas ainda assim as temperaturas em Portugal e Espanha estiveram acima da média durante o ano de 2024. O primeiro destaque e menção específica à Península Ibérica surge no contexto das noites tropicais — as noites com uma temperatura constante à volta dos 20 ºC — e o facto de terem existido menos ao longo do ano, juntamente com os dias de “calor extremo”, com sensação térmica superior a 46 ºC.

Ainda assim, não estando relacionada com a temperatura à superfície, a DANA é referenciada como uma das grandes tragédias na Europa. Valência recebeu a pior inundação do ano, resultando em custos de mais de 16 mil milhões de euros para o governo espanhol. Em comparação, todas as tempestades e inundações sentidas em solo europeu amealharam um prejuízo total de 18 mil milhões de euros — e só 16 foram a DANA. Isto vai de acordo com os números apresentados no relatório do Copernicus, que dão 2024 como um dos 10 anos mais chuvosos no sul da Europa, tendo como principal alvo França, Alemanha, e claro, Espanha.


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