200 anos da imigração alemã: o que levou os alemães a virem em busca de oportunidades no Brasil? | Globo Repórter
Há 200 anos, os primeiros colonos alemães chegaram ao Brasil. Na semana que marca essa data, o Globo Repórter fez uma viagem no tempo e fala sobre o passado que une os dois países, as tradições preservadas e o legado deixado para o desenvolvimento das indústrias. Saiba mais abaixo.
Hunsrück: o berço dos primeiros imigrantes
Hunsrück: conheça a região de onde partiram os primeiros imigrantes alemães
A jornada começa em Hunsrück , uma região no sudoeste da Alemanha, de onde partiram os primeiros imigrantes há mais de dois séculos.
Por lá, os visitantes têm a oportunidade de conhecer algumas curiosidades da época em que os alemães deixaram o lugar para migrar para o Brasil.
Os motivos por trás da imigração
200 anos da imigração alemã: o que levou os alemães a virem em busca de oportunidades no Brasil?
Para quem não conhece a história, pode ser difícil entender por que tantos alemães deixaram um dos países mais desenvolvidos do mundo em busca de oportunidades no Sul do Brasil.
Muitas dessas pessoas fugiram da fome, agravada por uma crise climática que teria sido provocada pela erupção de um vulcão na Indonésia. O ano de 1816, conhecido como “o ano sem verão”, trouxe ainda mais fome e miséria.
“Era um tempo de muita pobreza. As pessoas não tinham o que comer e a fome tomava conta do país”, lembra Heribert Damgen, presidente da Associação Cultura Schabbach.
Contribuições germânicas: preciosidade em Petrópolis
Palácio de Dom Pedro II contou com a contribuição de mão de obra germânica
O Globo Repórter também mostrou as tradições preservadas pelos descendentes de alemães na Cidade Imperial de Petrópolis, na Serra Fluminense. Até a construção do Palácio de Dom Pedro II contou com a contribuição de mão de obra germânica. Em uma reforma recente no museu, um operário encontrou uma preciosidade:
“Ele retirou a peça e percebeu uma inscrição. Ele trouxe e nós observamos que era um presente de dois funcionários que trabalharam na construção do palácio porque eles deixaram os seus nomes e suas funções”, conta o diretor do Museu Imperial, Maurício Ferreira.
Na peça, estão inscritos os nomes de “Jakob Beschlust de Fronheim”, e a data “1847”, junto a “Peter Schmidt de Colônia, pedreiro e cantareiro”, duas funções exercidas por este trabalhador. Veja a imagem abaixo.
“Nós conferimos os nomes deles no livro de receita e despesa da fazenda imperial de Petrópolis, portanto funcionários que trabalharam na construção do palácio deixaram este presentinho para nós”, afirma o diretor.
‘Picada de abelha’: descendente de alemã ensina prato de família
Os também alemães sabem tudo de confeitaria. Entre os pratos típicos, o tradicional ‘picada de abelha’, uma iguaria deliciosa que leva mel na composição da receita. ’Apesar do nome, o prato não faz mal e nem causa alergia.
“O nome picada de abelha, ‘Binnenstich’, é porque a pessoa que estava fazendo lá na Alemanha levou uma picada de abelha. Aí ele botou esse nome”, relata a chefe de cozinha, Andréia Winter.
Roseli Vogel é da quinta geração de uma família alemã que chegou em Petrópolis em 1845. A doceira adora preservar as receitas que aprendeu com a mãe. Ao Globo Repórter, ela ensina como é feito o doce alemão. Veja no vídeo acima.
“Mas essa não dói”, brinca Roseli.
Enxaimel: legado arquitetônico
Enxaimel: família em Blumenau trabalha na preservação da técnica construtiva criada na Alemanha
Poucas coisas são tão simbólicas da imigração alemã quanto as casas em enxaimel. A técnica construtiva foi criada na Alemanha da Idade Média e utiliza apenas madeiras encaixadas, sem o uso de prego.
“É como um grande jogo de quebra-cabeças. Todas as peças são numeradas e marcadas para justamente você identificar aonde vai, em que conjunto que ela vai e como ela vai ser montada”, explica Max Diel Volles, carpinteiro de enxaimel.
Contudo, durante a Segunda Guerra Mundial, qualquer referência à Alemanha passou a ser evitada, e a arquitetura enxaimel caiu no esquecimento. Assim como as famílias tiveram que abandonar o uso da língua alemã, a arquitetura também foi deixada de lado.
“Chegou ao ponto de não se saber mais como fazer uma casa dessas. Tive que recorrer a um alemão e ele trouxe aqui livros e ferramentas para gente fazer a casa correta”, conta Paulo Volles, mestre carpinteiro de enxaimel.
A família Volles, em Blumenau, tem trabalhado na preservação da técnica. Eles já construíram 50 casas nos últimos 15 anos.
“É difundir mais o enxaimel. É fazer ele crescer novamente como era nos tempos antigos”, afirma Paulo.
Arte de soprar vidro trazida pelos cristaleiros alemães continua viva no Brasil
A arte secular de soprar vidro continua viva no Brasil, trazida pelos cristaleiros alemães pelo Vale do Itajaí. Em Pomerode, a tradição é mantida por trabalhadores como Denis Casa, que representa a última geração da família na produção de cristal.
“Isso veio do meu avô, passou para o meu pai, do meu pai passou para os meus tios, meus primos e eu sou o último da linhagem. O último vidreiro, vamos ver se o meu filho vai seguir essa carreira também”, diz o soprador de cristas.
A historiadora Sueli Petry conta que os imigrantes que chegaram a Blumenau tinham conhecimentos que ajudaram no desenvolvimento da região. E foi assim também em outros povoamentos alemães pelo país.
“Vieram oleiro, carpinteiro, o veterinário, um médico. E naturalmente no primeiro momento que eles desenvolveram ser o colono, lidar com a terra, a sua subsistência, a partir do momento que eles vencem essa etapa, eles passam a pôr em prática aquilo que sabiam fazer e esses saberes são os embriões das nossas cidades e das nossas empresas”, pontua.
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