Yamina Hofer, dançarina franco-australiana que encontrou um lar em Cabo Verde

Nascida em França, Yamina Hofer teve o seu primeiro contato com a dança aos cinco anos. Começou a dançar ballet, mas rapidamente desenvolveu um interesse pelas danças do mundo. Aos 14 anos, mergulhou nos ritmos orientais, onde desbravou os movimentos e melodias de outras culturas. A sua paixão pela dança cresceu ainda mais após uma viagem à África do Norte ao lado da mãe, em que explorou os géneros da Tunísia e de Marrocos.

De volta a França e com a convivência com imigrantes da Costa do Marfim, Senegal e Guiné que compartilhavam as suas culturas, Yamina despertou um novo interesse pelas danças africanas, enriquecendo ainda mais a sua bagagem cultural.

Aprendeu pela primeira vez a dançar estilos africanos aos 12 anos num festival e desde então a sua jornada só aumentou. “Já fiz várias formações de danças do mundo, mas aprendi profundamente a dança africana com uma dançarina guineense de ballet, Bebey Youla, e também com alguns dançarinos de Senegal”.

Com 20 anos, Yamina embarcou numa nova aventura, quando foi viver para a Austrália, onde esteve por 13 anos. Durante esse período, continuou a sua formação como dançarina e chegou a abrir uma escola de dança.

A partir dessa escola de dança em 2014, uma oportunidade única a levou para a África Oriental, onde ministrou oficinas de dança num evento sobre a abolição da escravatura. De acordo com a dançarina, nesse evento estava presente o renomado artista maliano Salif Keita a atuar com o seu grupo e combinaram uma performance de dança.

“A cantora cabo-verdiana Mayra Andrade estava a cantar com Salif e foi a primeira vez que ouvi o crioulo cabo-verdiano e logo me interessei pela língua”, acrescentou.

A conexão com a cultura cabo-verdiana

A dançarina conta que a sua ligação com Cabo Verde fortaleceu em 2017 e a levou a conhecer o país quando visitou as ilhas do Fogo, Brava, Santo Antão e São Vicente. Depois voltou para a Austrália, mas revelou que ficou atraída com a riqueza cultural de Cabo Verde e pelas oportunidades de explorar e compartilhar o amor pela dança e acabou por voltar cinco vezes para o país.

“Na última vez que vim a Cabo Verde foi em 2019 e devido à pandemia da covid-19 não consegui sair do país. Acabei por me estabelecer cá até agora. Estava com muita vontade de descobrir, viver e aprofundar os conhecimentos da cultura cabo-verdiana e o universo disse-me: Este é o teu destino. Então fiquei”.

Para além da paixão pela dança, Yamina é professora de línguas estrangeiras, nomeadamente língua inglesa e francês. Segundo a mesma, é uma escolha devido às poucas oportunidades de trabalho como dançarina em Cabo Verde.

A mesma explica que os seus estilos de dança variam desde a sensual dança do ventre até os ritmos vibrantes de África, Índia, América, Brasil e Cuba. “Sempre me interessei pela mistura de estilos de músicas”.

“As coreografias são improvisadas na hora porque quando danço sozinha gosto de viver o momento e de estar atenta à música e deixar o meu corpo falar por mim. Mas se vou atuar com um grupo preparo as coreografias antecipadas, por exemplo. Em 2018 trabalhei com a dançarina Nicole e preparamos uma coreografia com os alunos para atuar num festival de juventude em Macau”, conta a dançarina.

Este ano Yamina atuou com o artista Salif Keita na 13.ª edição do Kriol Jazz. Conta que foi uma experiência positiva dividir o palco pela segunda vez com este renomado cantor. “Encontrei com ele no hotel onde estava hospedado e depois de 10 anos reconheceu-me e combinamos de atuar no festival de jazz”.

Desde 2018 a dançarina tem estado a deixar a sua marca no Carnaval da cidade da Praia e já conquistou o prémio de rainha de bateria. Esta é uma festividade que já participou na Austrália e no Brasil, mas conta que a energia do Carnaval cabo-verdiano é única.

“Desde que decidi morar neste país já fiz várias atuações, uma delas foi no show “Cantos, enCantos e ReCantos” da cantora Sandra Horta e também já participei de videoclipes de artistas cabo-verdianos como o Buggin Martins, Khaly Angel, entre outros”, diz.

Entre os géneros tradicionais de Cabo Verde, explica que encontrou uma conexão com o género batuque, que considera que é o canto da mulher e da liberdade. A dançarina diz que o Batuque é um género importante e recorda que foi proibido durante a colonização e resistiu até agora, sendo hoje uma identificação para a cultura cabo-verdiana. “Para mim o batuque é uma terapia, uma dança que permite tirar para fora todos os traumas no tempo da escravidão. Gosto de todos os géneros musicais de Cabo Verde, mas o batuque conquistou-me e é mais enraizado”.

Hoje com 41 anos, Yamina trouxe para Cabo Verde algumas culturas de outros países através da dança e explica que muitas pessoas que não conheciam estes géneros despertaram o interesse de conhecer outras culturas. A mesma acrescentou que este interesse fe-la abrir uma oficina de dança de ventre. “Foi ótima esta experiência e quero continuar a partilhar os meus conhecimentos nesta área”.

Por outro lado explica que viver da dança é difícil e espera que futuramente consiga patrocínios para abrir um espaço, mas que para isso tem que ser contratada por uma instituição ou organização para dar aulas gratuitas para a comunidade. Acredita que uma boa parte de cabo-verdianos não tem orçamento para pagar aulas de danças profissionais.

“A dança para mim é tudo, é uma maneira de expressar o que sinto e alimenta a minha alma, é uma terapia e uma maneira de transmitir uma mensagem para o público. Acredito que a partir desta arte podemos transmitir paz, amor, cuidar das pessoas, da saúde e do meio ambiente, e também é uma forma de exercício físico”, acrescentou.

“A dança foi o motivo que me levou a viajar pelo mundo para conhecer e aprender outras culturas que modificaram a minha vida completamente”, diz Yamina e acrescenta que a partir desta arte está a conhecer várias pessoas do mundo artístico. Para a dançarina a dança é uma maneira de ser e de viver. “Hoje não consigo separar a dança da minha vida, para além de estar em palco a atuar, a dança faz parte do meu quotidiano”.

Cidália Semedo/ Estagiária

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