A Venezuela recentemente registrou um marco histórico negativo na luta contra as alterações climáticas: o país sul-americano tornou-se o primeiro do mundo a ver todas as suas geleiras derreterem na modernidade. O evento foi marcado pelo desaparecimento completo do último glaciar venezuelano em 2024.
Ainda em 1910, a região ostentava seis glaciares que abrangiam uma área total de cerca de 1 mil km2. Porém, com o passar do tempo, todo esse gelo foi reduzido para meros fragmentos de gelo que não cumprem mais os requisitos para serem classificados como glaciares.
Situação dramática
Até 2011, cinco dos seis glaciares da Venezuela já haviam desaparecido, restando apenas o glaciar Humboldt (La Corona). Localizado no Parque Nacional da Serra Nevada, o marco gelado encolheu tanto que acabou sendo reclassificado como um campo de gelo tempos mais tarde. Em março deste ano, o professor da Universidade dos Andes (ULA), Julio Cesar Centeno, decretou o que todos temiam: “Na Venezuela não há mais geleiras”, disse à AFP.
Em seu ápice na história, La Corona chegou a cobrir 4,5 km2 com seu gelo impressionante, mas agora a ex-geleira estende-se por menos de 0,02 km2. Segundo a classificação dos pesquisadores, um pedaço de gelo precisa ter pelo menos 0,1 km2 de extensão para poder ser qualificado como geleira.
Segundo os dados obtidos pelos pesquisadores ao longo da última meia década, a cobertura glacial do país diminuiu 98% entre 1953 e 2019. A taxa da redução do gelo acelerou rapidamente após 1998, atingindo um pico de 17% ao ano a partir de 2016. Essa é apenas uma amostra de como as mudanças climáticas têm impactado o nosso planeta ao longo dos últimos anos.
Fim trágico
Em 1998, a própria La Corona já cobria apenas cerca de 0,6 km² e já estava prestes a perder seu status de geleira em 2015. Em entrevista ao The Guardian, o pesquisador da ULA Luis Daniel Llambi disse na época que “nossa última expedição à área foi em dezembro de 2023 e observamos que o glaciar tinha perdido cerca de dois hectares desde a visita anterior em 2019”.
Também em dezembro de 2023, o governo venezuelano tentou cobrir o glaciar Humboldt com uma manta geotêxtil em uma medida desesperada de isolá-lo e protegê-lo. Porém, o plano não só falhou, como também atraiu a ira de conservacionistas que afirmaram que a estratégia imprudente teria levado à contaminação do ecossistema à medida que o tecido se decompõe em microplásticos ao longo do tempo.
Centeno destacou que esses microplásticos são praticamente invisíveis e vão para o solo com o tempo, posteriormente contaminando plantações, lagoas e até mesmo o ar. Em resumo, esse é um fim bastante trágico para um país que chegou até mesmo a acolher eventos de esqui na década de 1950.
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