Tráfico ilegal de ouro entre Equador e Peru continua sem controle

Cada dia, 100 toneladas de matéria prima, com a qual se processa o ouro extraído do Peru, são contrabandeadas para o Equador, por uma rota na região amazônica controlada por garimpeiros ilegais, em colaboração com organizações criminosas transnacionais, confirmou uma investigação recente do jornal peruano El Comercio. A rota começa na província de Condorcanqui, no Peru, e termina na província de Zamora Chinchipe, no Equador.

A organização peruana sem fins lucrativos Paz y Esperanza também identificou 53 locais de mineração ilegal ao longo de um trecho de 38 quilômetros pelo rio Cenepa, na região amazônica, perto da fronteira com o Equador. Sem autorização oficial, os mineradores ilegais realizam obras de benefício público em troca da permissão das comunidades para operar, revelou o meio investigativo peruano Ojo Público, em 17 de março.

“Nessas áreas de fronteira amazônica, os lucros do narcotráfico são frequentemente reinvestidos na mineração ilegal de ouro”, explicou à Diálogo, em 30 de março, Bram Ebus, consultor da ONG International Crisis Group, com sede na Bélgica. “O ouro é uma mercadoria extremamente útil para a lavagem dos ativos do narcotráfico, porque o ouro de origem ilegal é muito fácil de ser legalizado na cadeia ilícita.”

Líderes peruanos de várias comunidades indígenas remotas situadas na região amazônica que faz fronteira com o Equador lamentam a falta de apoio do Estado, dizendo que a mineração ilegal faz com que outras economias ilegais, como a extração de madeira, o tráfico de pessoas e o narcotráfico criem raízes em suas terras, informou a rede de notícias AP, em 19 de março.

“Das 10 economias criminosas que existem no país, essa é de longe a maior, pois afeta os direitos fundamentais, a arrecadação de impostos e o meio ambiente”, disse o ex-ministro do Interior do Peru, Carlos Basombrío, à revista Desde Adentro, da Sociedade Nacional de Mineração, Petróleo e Energia do Peru. “Há novas máfias e organizações criminosas, especialmente internacionais, que estão entrando em algumas áreas para competir pelo controle dessa atividade com os mineradores ilegais originais. Essas organizações criminosas estão ligadas ao narcotráfico e se instalam em áreas onde há problemas de violência.”

O governo Wampís, um governo autônomo indígena do Peru, realizou uma mobilização pacífica, em 22 de março de 2024, contra a mineração e a exploração madeireira ilegais, que ameaçam seu território ancestral. (Foto: Governo Territorial Autônomo da Nação Wampís/X)

“Essas são dinâmicas que estamos observando nessas regiões e sabemos que há uma baixa presença do Estado, tanto no Peru, quanto no Equador”, acrescenta Ebus. “Isso também significa que o crime organizado pode se expandir.”

Na área de fronteira entre os dois países, os chefes do contrabando e da mineração ilegal operam “à vontade”, sob a proteção de policiais corruptos, revelou o semanário peruano Hildebrant en sus Trece.

“Sempre vemos uma convergência entre economias ilegais e legais nessas áreas de fronteira amazônica”, declara Ebus. “Portanto, podemos considerar que um negócio alimenta outro negócio, mas ambos os setores têm um impacto ambiental, os lucros ilegais são duplicados com o reinvestimento e os impactos ambientais são multiplicados, quando o dinheiro do narcotráfico é reinvestido na mineração ilegal.”

O Governo Territorial Autônomo da Nação Wampís, um território de 1,3 milhão de hectares entre as regiões de Loreto e Amazonas, no Peru, também denunciou o avanço de mineradores ilegais no côncavo do rio Santiago. Estima-se que uns 40 hectares de floresta tenham sido danificados por essa atividade, informou Rádio França Internacional, em 22 de março.

Em março de 2023, os ministros do Meio Ambiente do Equador e do Peru se reuniram na área de fronteira para analisar a questão da mineração ilegal, considerada uma ameaça à segurança pública. Em resposta a essa ameaça, as forças armadas do Equador e do Peru lançaram uma série de operações especiais coordenadas na fronteira binacional.

De acordo com o jornal equatoriano Primicias, a luta contra a mineração ilegal tem sido um dos pontos focais das operações espelhadas realizadas pelas forças armadas de ambos os países na fronteira, que também combatem o narcotráfico, o tráfico de armas, munições e explosivos, o contrabando, a imigração irregular e outros delitos relacionados.

“A solução definitiva e fundamental é obter a rastreabilidade total da produção de ouro. Isso nos permitirá entender a dimensão do problema e como enfrentá-lo, para que haja uma formalização sustentável ao longo do tempo”, afirmou Victor Gobitz, presidente da Sociedade Nacional de Mineração, Petróleo e Energia do Peru, a El Comercio. “Na mineração informal, os explosivos são usados em cartuchos. Entretanto, toda a mineração em grande escala e parte da mineração em média escala usam explosivos a granel, não em cartuchos. Então, não é tão difícil atacar o problema, já que apenas cinco empresas comercializam explosivos para a mineração no Peru.”

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