Preparei a viagem para São Tomé e Príncipe com uma expectativa elevada, mas só considerando o arquipélago como um mapa indistinto daquele país, ancorado no Atlântico pertinho do belo continente africano. Aliás, é em São Tomé que se encontra o marco da linha invisível do Equador e pode visitá-lo e içar o orgulho por ver tal geolocalização. E esta pérola do Atlântico e do Golfo da Guiné ‘fala’ português. Cada vez mais tenho apreciado viajar para países lusófonos e que nos sorriem com a herança cultural que ali deixámos e que se perpetua. Parece que nada mudou, desde a colonização, e refiro-o com o sentido mais bonito e de pertença que ali senti. Somos todos Portugal, disse-o mesmo. E eles gostaram – as várias pessoas com quem me fui cruzando e ambientando. O “olá” bendito por todo o lado, em cada pessoa, em cada saudação.
Fui – como a maioria das minhas quase 60 viagens pelo mundo – para proferir uma palestra a São Tomé e aproveitei uma semana para explorar muito bem de norte a sul e enveredar pelo sonho do Príncipe.
Este país pequeno é o que considero – agora que tive tempo de colocar todas as minhas visitas na balança – como o mais telúrico, bonito e paradisíaco. E amigo do ambiente. Apresento, a seguir, algumas provas irrefutáveis:
– As praias mais bonitas porque são virgens com o seu registo selvagem, mas seguro. Essas praias localizam-se sobretudo no Príncipe e não em São Tomé. Além das cores similares às do mar de Zanzibar e uma pitada ‘de Caribe’, há uma cor verde que nunca observei nos afamados paraísos;
– Cascatas lindas com torrentes de água fresca que acalma os sentidos por causa dos 90% de humidade. Destaco a Cascata de São Nicolau em São Tomé;
– As praias do Príncipe são protegidas porque são Reserva Mundial da Biosfera da Unesco, o que mantém o cunho selvagem;
– Praias desertas são postais muitas vezes imaginários, mas aqui são reais e têm segurança, pois a ideia de uma praia deserta por muito apetecível que seja, deve incluir segurança. Temos sempre barcos com turistas ou de pescadores que circundam as praias paulatinamente, ou vigilantes das florestas que são ‘as costas’ das praias;
– Papagaios no Príncipe escondem-se entre as florestas tropicais, mas cantam entre si e para os ouvirmos; os macacos também. Aliás, o Príncipe também é denominado ‘ilha do papagaio’, ao passo que São Tomé é a ‘ilha do chocolate’. Curioso que temos um Papagaio Africano (Papagaio Cinzento; ou também chamado Papagaio do Congo) em casa e que é muito eloquente. Se ali ficámos a saber que custa 20 euros (mas não são mais exportados, graças a Deus!), aqui em Portugal custou 750 euros. É a espécie de ave mais inteligente do mundo;
– Sobre florestas, nunca vi praias em que a vegetação fosse tão diversa e tão verde. Não são os paraísos típicos de palmeiras apenas. As palmeiras existem por todo o lado – não estivéssemos trópicos – mas outras imensas espécies de árvores e plantas estão misturadas e deitam-se sobre o areal. É indescritível;
– Por falar em indescritível: não vi um único site, blogue, reportagem ou vídeo de turistas/viajantes que informasse, de facto, a beleza das praias, da vegetação e a completa riqueza cultural. Sobretudo pouca informação sobre como chegar aos sítios, às praias, à acomodação, ao aeroporto… aos guias turísticos verdadeiros;
– E continuando: tenho mesmo de alertar para que nunca deixem de visitar o Príncipe se forem a São Tomé. Muitas pessoas fazem isso pensando que as praias do Sul de São Tomé bastam;
– Também fiz o Sul de São Tomé perfeitamente, e é lindíssimo, mas o superlativo ainda é maior se forem ao Príncipe. E há mais encanto nas estradas e nas estrelas;
– Algo curioso sobre as praias e para o qual pedi explicação para ir documentando o que aqui vos trago: o oceano que ali banha as praias do Príncipe quase não tem sal. Eu sentia-me num paraíso não salgado e por isso pouco bronzeei;
– Todo o arquipélago oferece paisagens variadas e sobretudo uma vegetação como nunca antes vi; o modelo mais próximo é o de Costa Rica;
– A cor do mar varia de praia para praia e são todas relativamente perto, algumas contíguas. As melhores praias do mundo sim, porque temos de experimentar outras para comparar com evidência: nem as lindas ilhas virgens do Camboja, nem as abundantes praias das Filipinas, nem as expressivas praias tailandesas, nem as surpreendentes praias do Este japonês, nem as do Caribe, nem as de sonho de Zanzibar. Esta lista é mesmo bonita, mas o Príncipe está no topo. Segundo o Le Monde, em dezembro de 2023, esta ilha foi destacada como um dos principais destinos turísticos do globo, atração que nunca entrara no ranking por ser tão desconhecido (e ainda bem, acreditem!). De Príncipe vira rei nesta matéria.
– Os preços dos bens básicos (comida e água) e nos transportes privados (transfer e táxi) são avultadíssimos. Gastei muito mais nesta viagem, em termos de compras no supermercado e de restauração, do que no Japão. Estou a ser extremamente concreta e fui há poucos meses ao Japão.
Até ao próximo artigo que vos farei como um guia de bolso. Preparem a viagem Lisboa-São Tomé de 6 horas e meia, sem escalas, pois vale cada segundo da nossa vida.
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