Rússia conquista S. Tomé de Príncipe. Portugal fica em xeque

EPA/GRIGORY SYSOEV / SPUTNIK / KREMLIN

Vladimir Putin

A Rússia continua a sua política de expansão da influência em África e assinou um acordo militar com São Tomé e Príncipe. Em breve, poderá reforçar os laços com a Guiné-Bissau. Tudo isto põe em xeque a segurança mundial e afecta directamente as relações diplomáticas de Portugal.

Este acordo de cooperação militar entre a Rússia e São Tomé e Príncipe foi assinado a 24 de Abril e entrou em vigor no dia 5 de Maio, mas só agora é conhecido. Este “secretismo” é criticado pelo líder da oposição são-tomense, o partido MLSTP/PSD.

“Até este momento o Governo não transmitiu ao país as cláusulas deste acordo”, lamenta o líder do MLSTP/PSD, Jorge Bom Jesus, salientando que o país ficou a saber da informação “como facto consumado” através da imprensa estrangeira.

Uma fonte do Governo são-tomense confirma à Lusa que o acordo técnico militar prevê formação, utilização de armas e equipamentos militar e visitas de aviões, navios de guerra e embarcações russas ao arquipélago.

Jorge Bom Jesus nota que “um acordo desta envergadura, numa área bastante sensível e atendendo ao contexto mundial neste momento, exige interacção entre os vários órgãos de soberania e conhecimento da Assembleia Nacional para a aprovação e a sua ratificação pelo Presidente da República”.

O líder da oposição são-tomense também nota que “haverá consequências” na relação entre São Tomé e Príncipe e alguns parceiros internacionais, nomeadamente Portugal, a União Europeia e os EUA, considerando “o contexto” e “a clivagem” que existe entre estas partes e a Rússia.

Fonte do Ministério da Defesa e Administração Interna de São Tomé e Príncipe confirma à Lusa a assinatura do acordo “por tempo indeterminado”.

Guiné-Bissau vai reforçar laços com a Rússia

Entretanto, o presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, está em Moscovo, onde vai reunir com Vladimir Putin, o presidente russo.

No encontro, será discutida a questão da cooperação Rússia/Guiné-Bissau, nomeadamente no no domínio da exploração mineira e dos hidrocarbonetos.

A visita acontece no âmbito das celebrações do Dia da Vitória que se assinala em Moscovo, nesta quinta-feira, 9 de Maio.

Esta data marca a vitória russa sobre a Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial, e conta também com a participação de soldados da República Centro-Africana, onde a Rússia tem grande influência.

Embaló e Putin já negociaram um perdão de cerca de 26,7 milhões de dólares de dívida da Guiné-Bissau à Rússia em Março passado. Em troca, o Governo guineense compromete-se a seleccionar empresas russas para licitação em concursos públicos em condições tão favoráveis como as empresas locais.

Em 2019, os dois países já tinham assinado um acordo de cooperação militar quando Embaló era primeiro-ministro.

Deste modo, três nações da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) entram na esfera russa – além de Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, também a Guiné Equatorial já demonstrou vontade de colaborar com a Rússia.

Isto deixa em xeque as relações diplomáticas com Portugal, cujo posicionamento internacional está do lado dos opositores russos. Mas está também em causa a segurança nacional fruto dos acordos de cooperação que o país tem com estes países no âmbito da CPLP.

O que quer a Rússia de África?

O continente africano tem sido palco, desde há décadas, de uma batalha geopolítica entre EUA, Rússia e China. Mas os russos parecem estar a afirmar-se, cada vez mais, como a grande potência dominante.

No caso de São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, e de outros países da zona, a Rússia está focada no acesso estratégico ao oceano Atlântico, o que é muito importante em termos geo-políticos e militares.

Mas também há interesses políticos, diplomáticos e económicos.

Por um lado, o continente africano é rico em recursos naturais como ouro, diamantes, urânio e petróleo. A Rússia já manifestou a intenção de legalizar o comércio de “diamantes de sangue” da República Centro-Africana.

Estudar doenças virais como armas de guerra

Mas África também está a ser usada para estudar os efeitos do uso de doenças virais como armas de guerra.

A Rússia terá instalado vários laboratórios biológicos militares em solo africano, nomeadamente perto da fronteira com o Chade, na República Centro-Africana, segundo dados do Instituto Robert Lansing que se dedica a pesquisar ameaças globais à democracia.

A máquina de propaganda da Rússia também pode estar a incentivar o sentimento anti-ocidental em África, ganhando aliados na sua batalha contra os EUA e promovendo o autoritarismo na região.

O crescente envolvimento de grupos militares russos, como o Wagner, nas questões de segurança do continente estão a incentivar mais conflitos e a levantar preocupações com a violação dos direitos humanos.

Além disso, há uma crescente militarização dos Governos e um aumento preocupante da influência da Rússia sobre os líderes da região, e sobre o futuro de diversos países.


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