“Queremos dizer-lhe que o amamos”: milhares em Belém para ver o Papa chegar

Ainda o avião não tinha saído de Roma e já dezenas de pessoas aguardavam pela receção do Papa Francisco, no jardim em frente do Palácio de Belém. O evento estava marcado para as 10:45, mas muitos fiéis chegaram antes das 07:30. Queriam ver o Papa Francisco de perto, alguns pela primeira vez, mostrando-lhe apoio e carinho.

Regina Serafim e Joana Almeida, de 54 e 40 anos respetivamente, esperam a chegada do Sumo Pontífice agarradas ao gradeamento. Trouxeram uma grande bandeira de Portugal para se “diferenciarem” dos restantes peregrinos que estão em Lisboa no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

“O Papa tem de ver que somos de Portugal, temos de nos diferenciar”, afirma Regina.

As bandeiras no ar representam alguns dos 151 países que participam na JMJ de Lisboa. Há quem tenha vindo da Malásia e quem more mesmo ao final da rua. Adaobi Anaenugwu tem 29 anos e veio da Nigéria para dizer ao Papa que o “ama”.

“Nós amamo-lo. Sempre quisemos vê-lo, é a primeira vez que conseguimos. Queremos tocar-lhe e dizer-lhe que o amamos”, conta a jovem.

Na mão, Adaobi tem uma moldura que foi feita pela mãe. Trouxe-a com o objetivo de oferecer ao Sumo Pontífice – mesmo sabendo que não será fácil, garante que, com fé, “tudo é possível”.

Maria e Delmina Fundo vieram de São Marcos. Mãe e filha aproveitaram o aparato para dar um salto aos Pastéis de Belém e comprar doces tradicionais. Não compraram nenhuma a pensar no Papa, mas ofereciam-lhe um destes pastéis típicos se ele se aproximasse.

“Esperávamos muita gente. Levantámo-nos às 06:00 porque queríamos ver bem o Papa”, contam.

Ao lado, três irmãos acabam de chegar para guardar lugar o mais perto possível da cerimónia. Maria, Alba e Gabriel Rodriguez acreditam que a receção em Belém será o local onde teriam “mais hipóteses para ver o Papa Francisco mais perto”. Trazem uma bandeira do México, que usam como manta durante o tempo que esperam, sentados no chão de terra.

Silvia Viana, de 38 anos, é religiosa na congregação da Escravas da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus. Vem a Belém com uma missão muito específica: pedir ao Papa Francisco que reze pelos reclusos. Na mão, tem uma pulseira com quatro nomes de pessoas que estão a cumprir pena na prisão de Caxias – no âmbito do “Gesto Missionário”, uma iniciativa organizada pela JMJ.

“Queria pedir ao Papa que rezasse pelos reclusos que visitei. Eles queriam estar aqui e não podem”, explica, acrescentando que a pulseiras serão depois entregues ao Sumo Pontífice.

A música e alegria é uma constante entre os fiéis. Um grupo da Guiné-Equatorial dança no meio da multidão. Ao lado, outro grupo de noviças canta o hino da JMJ enquanto tocam jambé.

De repente, a música que enche o jardim transforma-se em palmas e gritos. O avião onde viaja o Sumo Pontífice acabava de sobrevoar Belém, a caminho da base aérea de Figo Maduro. O Papa Francisco estava mesmo a chegar.

Da festa dos peregrinos ao protesto da PSP

Além dos peregrinos, no jardim Afonso de Albuquerque decorre um protesto organizado pelo Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol). Os agentes da PSP queixam-se da falta de condições para exercer a profissão e esperam que este evento possa dar mais visibilidade à sua luta.

“Queremos utilizar a dimensão da JMJ para dizer ao mundo, a Portugal e ao Governo português que sentimos que a nossa profissão não está a ser valorizada, que está a ser esquecida e que, a cada dia que passa, temos cada vez mais problemas”, afirma Armando Ferreira, presidente do Sinapol.

O dirigente sindical sublinha que é necessário colocar as intenções em prática e valorizar a profissão. Destaca que “cada vez há mais trabalho, mas menos pessoas para o fazer”. Queixa-se ainda da falta de condições nas instalações da PSP.

Também Emily Lancaster e a filha Sienna aproveitaram o momento para apelar à sustentabilidade. Vestida com os papéis de faturas que guardou durante três meses, Emily sublinha que este evento é “um momento histórico” e uma boa oportunidade para “sensibilizar as pessoas” para as questões ambientais e de inclusão social.

O gradeamento está colocado a cerca de 50 metros do local onde Marcelo Rebelo de Sousa recebe o Papa Francisco. Os fiéis consideram a distância elevada, mas reconhecem que se trata de uma questão de segurança. Muitos criticaram o facto de os jornalistas estarem a tapar a visualização.

A chegada do Papa a Belém

Depois de muitos ensaios, as forças armadas estão alinhadas ao milímetro. Marcelo Rebelo de Sousa sobe ao palanco para ouvir o hino nacional, enquanto aguarda a chegada do Papa Francisco. Foram precisos vários minutos para que a comitiva do Vaticano chegasse, mas o entusiasmo dos fiéis fez o Presidente sorrir.

O momento em que o carro do Papa Francisco passou à frente de Lurdes Gonçalves, de 61 anos, será, para sempre, inesquecível. E as fotografias que tirou assim o provam: conseguiu captar o momento em que o Sumo Pontífice acenou pela janela do líder da igreja católica.

Veio com o marido, Vítor Gonçalves, de 66 anos, e o sobrinho, Milton Sousa, de 17, de Valença do Minho com o objetivo de ver o Papa ao vivo. Apesar de não participarem diretamente na JMJ, vão ficar até ao final da semana para participar em mais momentos, incluindo na vigília e missa do envio.

“Vamos tentar ir lá. Aqui foi fácil, mas no Parque Tejo será mais difícil”, afirma Vítor, sublinhando que faltava um ecrã para ver melhor o que se passava.

O Papa Francisco chegou a Belém às 11:00. Saiu do veículo e, com o auxílio de Marcelo, subiu até à cadeira branca, bordada com o símbolo de armas do Vaticano, à direita do Presidente da República. De um lado, a comitiva da igreja – onde estavam os cardeais D. José Tolentino Mendonça, D. Manuel Clemente (cardeal-patriarca de Lisboa) e D. António Marto (cardeal-patriarca de Leiria-Fátima) – do outro, a portuguesa encabeçada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.

O momento pode ter sido breve, mas para os irmãos Lima, que têm entre 6 e 14 anos, “foi muito emocionante”. “O carro passou mesmo à nossa frente, passou muito rápido”, conta Luísa, de 9 anos. João, o irmão mais novo dos quatro, gostou particularmente de ouvir o hino nacional.

O carro do Vaticano saiu do Palácio de Belém pelas 12:00, seguindo para o Centro Cultural de Belém, onde o Papa Francisco fará o primeiro discurso. O momento causou nova animação – e alguma correria – nos fiéis que ainda continuavam no jardim.

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