“Este mosquito [aedes albopictus] vai-nos trazer casos de dengue e chikungunya, mas vai demorar”, disse à Lusa Maria João Alves, explicando que o mosquito presente em território continental é diferente do existente na Madeira [aedes aegypti] desde 2005.
Em declarações à Lusa no dia em que é apresentado o relatório do programa REVIVE, a especialista explicou: “a Madeira, em três meses, teve 2.164 casos e a Europa, em 13 anos, 165 casos”.
“É um vetor secundário [o mosquito presente em Portugal continental], menos eficaz. E as condições da Madeira também são diferentes, mais tropicais”, acrescentou, sublinhando: “vamos ter casos de dengue, mais tarde ou mais cedo, mas não vamos ter surtos de dengue como na Madeira ou como nas zonas tropicais”.
Contudo, “vamos ter de ter as condições que estes países já têm, que é uma grande quantidade de mosquitos, uma grande abundância e introdução de casos positivos, ou seja, pessoas que cheguem positivas de zonas endémicas”.
O mosquito aedes albopictus, que é transmissor de doenças como a dengue e chikungunya, provocou na Europa 165 casos de dengue entre 2010 e 2023, designadamente em França, Croácia, Itália e Espanha, e metade destes casos ocorreram no ano passado.
O aedes albopictus foi pela primeira vez identificado na região de Lisboa no ano passado. Já tinha sido detetado no Norte, em 2017, no Algarve, em 2018, e no Alentejo, em 2022.
Questionada sobre o impacto das alterações climáticas na distribuição geográfica deste tipo de vetores, Maria João Alves respondeu: “obviamente que as alterações climáticas vão alterar de um momento para outro, ou gradualmente, a distribuição dos vetores, mas nem sempre é para mais, pode ser para menos, depende dos vetores e do ciclo de vida”.
Quanto aos riscos de doenças transmitidas por vetores em Portugal, reconheceu que o maior é o da febre da carraça e da borreliose de lyme, doenças que já existem no país.
Maria João Alves alertou ainda que as carraças, devido às alterações climáticas, estão mais distribuídas: “Aquelas que eram mais do verão e aquelas que eram mais do inverno estão a aumentar a sua distribuição sazonal”, aumentando a possibilidade de ter mais casos destas doenças.
Sobre o vírus do Nilo Ocidental, a especialista disse que tem sido feita a pesquisa em mosquitos e não foi identificado e que não foram notificados casos em humanos até ao momento em Portugal, acrescentando que apenas a Direção-Geral de Veterinária notificou 13 casos de cavalos positivos, na região de Lisboa e Alentejo.
Em Espanha, no ano passado, pelo menos duas pessoas morreram com sintomas compatíveis com a infeção pelo vírus da febre do Nilo Ocidental. Este vírus afeta humanos e equídeos e a transmissão ocorre por picada de mosquito.
Em Portugal, a febre do Nilo Ocidental em humanos é uma doença de notificação obrigatória no Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE).
Maria João Alves disse ainda que está a ser feita a vigilância, em carraças, do vírus da febre hemorrágica Crimeia-Congo, uma vez que já houve casos em Espanha – 10 casos entre 2016 a 2020 -, mas até ao momento não houve casos positivos.
Identifiicados mais de 40.500 mosquitos em 2023, nenhum com vírus da dengue ou febre do Nilo
As autoridades identificaram no ano passado mais de 40.500 mosquitos, mas em nenhuma amostra foi detetada presença dos vírus que provocam doenças como a dengue, chikungunya ou febre do Nilo Ocidental, foi hoje divulgado.
Segundo o relatório anual da Rede Nacional de Vigilância de Vetores (REVIVE) foram identificados 40.565 mosquitos e, nas amostras em que foi pesquisada a presença de flavivírus patogénicos para os humanos, os resultados foram todos negativos.
Participaram neste trabalho as cinco Administrações Regionais de Saúde e a Direção Regional de Saúde da Madeira, que realizaram colheitas de mosquitos em 231 concelhos de Portugal.
Foi igualmente feita vigilância em cinco aeroportos internacionais, dois aeródromos, 14 portos e 10 outros pontos de entrada de acordo com o Regulamento Sanitário Internacional.
O relatório anual do programa REVIVE apresenta este ano pela primeira vez dados sobre flebótomos (insetos), que transmitem o vírus Toscana e Leishmânia (parasita). Apesar de fazerem parte da rede de vigilância desde 2016, as colheitas eram ainda incipientes e apenas aparece no documento divulgado hoje pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
No total, foram identificados no ano passado 761 flebótomos e detetada a presença de vírus Toscana, que provoca encefalites e nunca havia sido encontrado em Portugal em mosquitos, assim como de Leishmania (que provoca leishmaniose).
Participaram quatro Administrações Regionais de Saúde, entidades que realizaram colheitas de flebótomos em 41 concelhos.
Segundo disse à Lusa a coordenadora do REVIVE, Maria João Alves, em Portugal, o vírus Toscana foi isolado pela primeira vez de um caso humano em 1985, num turista sueco no Algarve.
O relatório do programa REVIVE refere ainda que foram identificados no ano passado 1.810 ixodídeos (carraças), tendo sido encontrada de novo uma espécie exótica (Argas spp).
Das pesquisas feitas ao vírus da febre hemorrágica Crimeia-Congo não houve qualquer caso positivo.
Participaram as cinco Administrações Regionais de Saúde e a Direção Regional de Saúde da Madeira, que realizaram colheitas de carraças em 210 concelhos.
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