Portugal é o terceiro país da União Europeia com a mais elevada prevalência de infecções hospitalares, a seguir ao Chipre e à Grécia, no terceiro inquérito de prevalência pontual de infecções associadas a cuidados de saúde e de utilização de antimicrobianos, que foi coordenado pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) em 2022-2023, e cujos resultados foram divulgados esta segunda-feira.
Neste último inquérito (que é levado a cabo de cinco em cinco anos), 11,6% dos doentes internados em Portugal tinham uma infecção associada a cuidados de saúde, quase o dobro da média (6,3%) dos países da União Europeia (UE) e do Espaço Económico Europeu incluídos nesta espécie de fotografia efectuada em mais de 1300 hospitais. Apenas o Chipre (13,8%) e a Grécia (12,1%) apresentaram uma prevalência superior à de Portugal, de acordo com o relatório do ECDC.
“Tínhamos conseguido diminuição do primeiro para o segundo inquérito e agora voltamos a aumentar, o que é mau. Mas o que justifica esta subida? Primeiro, as regras não são exactamente iguais, uma vez que neste último havia uma doença nova, a covid-19. Por outro lado, houve uma mudança metodológica – se antes apenas contavam as infecções adquiridas no hospital, agora contaram as infecções associadas a todos os cuidados de saúde”, explica José Artur Paiva, que até Fevereiro deste ano dirigiu o Programa de Prevenção e Controlo de Infecções e Resistências a Antimicrobianos da Direcção-Geral da Saúde.
“Se as regras tivessem sido as mesmas, a prevalência de infecções tinha-se mantido, o que também não é bom, porque o que queremos é diminuir”, assume o médico, que lembra que, do primeiro (2011/2012) para o segundo inquérito (2016/2017), Portugal tinha conseguido baixar a prevalência de infecções hospitalares e abandonar, então, o primeiro lugar da lista. “Continuamos numa situação que precisa de ser melhorada. Continuamos a ter um problema”, enfatiza José Artur Paiva, notando que uma parte destas infecções – cerca de um terço – “já são difíceis de tratar devido à resistência antimicrobiana”.
Mas há um dado que ainda coloca Portugal em pior posição. Nas estimativas da incidência (novos casos) de infecções associadas a cuidados de saúde, Portugal surge mesmo em primeiro lugar, calculando o ECDC que haverá mais de 94 mil doentes a contraírem uma infecção hospitalar em cada ano, uma incidência de 8,9% no último inquérito, de acordo com o relatório.
O problema das infecções hospitalares afecta milhões de pessoas na Europa. “Ano após ano, cerca de 4,3 milhões de doentes internados em hospitais nos países da União Europeia e do Espaço Económico Europeu adquirem pelo menos uma infecção associada a cuidados de saúde” durante o internamento, especifica o ECDC, lembrando que, neste último inquérito, a covid-19 “contribuiu de forma significativa para o aumento da carga” deste problema.
As infecções do trato respiratório, incluindo pneumonia e covid-19 associada aos cuidados de saúde, representaram quase um terço do total, seguidas por infecções do trato urinário, da corrente sanguínea e gastrointestinais.
Enfatizando que “as infecções associadas aos cuidados de saúde representam um desafio significativo para a segurança dos pacientes nos hospitais de toda a Europa”, a directora do ECDC, Andrea Ammon, defendeu que os dados agora conhecidos “sublinham a necessidade urgente de novas acções para mitigar esta ameaça”.
Um problema que pode ser minorado. Especificando que um em cada três microrganismos detectados eram bactérias resistentes a antibióticos, “limitando assim as opções de tratamento de pacientes infectados”, o ECDC lembra que “pelo menos 20%” destas infecções são evitáveis “através de programas de controlo de infecção sustentados e multifacetados”.
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