Portugal apreensivo com acordo entre Rússia e São Tomé e Príncipe

ppdpsd / Flickr

Paulo Rangel, candidato à liderança do PSD

Portugal manifestou a São Tomé e Príncipe “estranheza” e “apreensão” pelo acordo militar entre o país africano e a Rússia. A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) desdramatizou.

Portugal manifestou a São Tomé e Príncipe “estranheza” e “apreensão” pelo acordo de cooperação técnico militar assinado com a Rússia, revelou, na quinta-feira à noite, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel.

“Assim que houve notícia deste acordo, entrámos em consultas com as autoridades são-tomenses para explicar que, Portugal – em primeiro lugar – e, entretanto, ao longo do dia outros estados europeus manifestaram estranheza, apreensão e perplexidade perante este acordo”, disse Paulo Rangel em entrevista à SIC Notícias.

Rangel acrescentou que manifestou preocupação diretamente ao homólogo de São Tomé e Príncipe durante o dia de quinta-feira, ressalvando, no entanto, que São Tomé e Príncipe é um estado “independente e soberano” com “legitimidade total” para fazer as suas escolhas.

“Estando nós na situação internacional em que a Federação Russa é autora de uma guerra de agressão que, além do mais, põe em causa o continente europeu, evidentemente que manifestamos uma grande preocupação“, disse.

O governante português acrescentou que, no contexto da “ótima relação” que existe entre Portugal e São Tomé, foram ativados os canais diplomáticos para avaliar a situação e fazer valer os pontos de vista de Portugal sobre esta parceria.

São Tomé e Príncipe confirmou na quarta-feira à agência Lusa a assinatura com a Rússia de um acordo técnico militar que prevê formação, utilização de armas e equipamentos militar e visitas de aviões, navios de guerra e embarcações russas ao arquipélago.

A assinatura do acordo “por tempo indeterminado” foi noticiada pela agência de notícias oficial russa Sputnik, que revelou que o acordo foi assinado em São Petersburgo em 24 de abril e começou a ser implementado a 5 de maio.

CPLP desdramatiza

O secretário executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) afirmou esta quinta-feira que não há dramas quanto ao acordo militar entre São Tomé e Príncipe e a Rússia.

Zacarias da Costa falava na capital de São Tomé e Príncipe após um encontro com o primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, e depois de uma reunião alargada com membros do Governo na sede do executivo.

“A CPLP não sou eu, a CPLP são os nove países que formam essa comunidade, tendo em conta que nós respeitamos as decisões soberanas de cada Governo, naturalmente temos de respeitar as decisões soberanas das autoridades de São Tomé e Príncipe”, sublinhou Zacarias da Costa.

Questionado sobre a sua visão sobre o acordo, o secretário executivo da CPLP considerou que “não há dramas”.

“Há questões que são transversais a todos os países, a questão do terrorismo, da droga, temos que encontrar soluções para poder lidar com esses desafios que são comuns, portanto eu não vejo nenhum problema”, vincou o secretário executivo da CPLP.

Na quarta-feira, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), líder da oposição são-tomense, criticou “o secretismo” com que o Governo assinou o acordo militar com a Rússia, vaticinando consequências na relação com a União Europeia e os Estados Unidos.

“Trata-se de um acordo que em momento nenhum ouvimos qualquer comunicado do Conselho de Ministros a fazer alusão. Um acordo desta envergadura, numa área bastante sensível e atendendo ao contexto mundial neste momento, penso que exige interação entre os vários órgãos de soberania, portanto Governo, Presidência da República e conhecimento da Assembleia Nacional para a aprovação e a sua ratificação pelo Presidente da República”, defendeu o líder da oposição são-tomense, Jorge Bom Jesus.

IL chama Rangel ao Parlamento

A Iniciativa Liberal (IL) mostrou-se preocupada com o que considera uma aproximação da Rússia aos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)e manifestou a intenção de chamar Paulo Rangel ao Parlamento para mais explicações.

Na entrevista à SIC Notícias, Rangel considerou que não podemos falar da CPLP “como se Portugal tivesse alguma tutela sobre algum estado” da comunidade.

“A relação que se estabelece entre Portugal e qualquer outro estado da CPLP é uma relação de igual para igual”, sublinhou.

O ministro dos Negócio Estrangeiros recordou ainda que, no passado, pouco depois da descolonização, Portugal teve “intensas relações” com todos os estados da CPLP, muitos dos quais tinham relações com a União Soviética, que mantiveram depois com a Federação Russa

“Isso nunca impediu que Portugal estabelecesse cooperação com esses estados”, sublinhou.

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