O poderoso furacão Beryl, está atravessando o mar do Caribe central, dando início de forma surpreendente à temporada de furacões no Atlântico, que promete ser mais intensa do que o habitual, de acordo com a Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA).
A previsão é que até 13 furacões sejam registrados este ano, com alertas de alta intensidade devido ao aquecimento dos oceanos.
🌀 Mas por que eventos do tipo são extremamente raros no Brasil?
📝 Até agora, só tivemos um caso registrado no país, que foi o furacão Catarina, em março de 2004. Ele passou pelo Sul do estado de Santa Catarina e causou danos significativos, deixando 11 mortos. A maioria dos meteorologistas considera esse fenômeno como extremamente atípico.
Para explicar isso, primeiro precisamos entender o que são ciclones tropicais (o nome científico do furacão) e lembrar que a atmosfera da Terra exerce uma pressão sobre a superfície do globo.
- 🌊💨 Nível do mar: maior pressão 📈
- ⛰️💨 Mais altitude: menos pressão 📉
E os ciclones são sistemas de baixa pressão atmosférica, isto é, são grandes massas de ar que giram em torno de um centro de baixa pressão intenso, provocando condições climáticas adversas em grande escala.
Em outras palavras, um ciclone “puxa” o ar quente e úmido da superfície e joga para cima, formando as nuvens de chuva.
Isso acontece porque o ar quente e úmido sobre o oceano sobe, criando a área de baixa pressão. O ar das áreas ao redor então, com maior pressão, se move para essa área, aquecendo-se e subindo também. À medida que o ar quente sobe e se resfria, ele forma as nuvens.
🌩️🌩️🌩️ Desse modo, todo o sistema de nuvens e ventos gira e cresce, alimentado pelo calor e pela evaporação do oceano.
Por isso, ciclones tropicais só se formam nas águas quentes do oceano próximas ao equador, a pelo menos 5° – 30° de latitude norte ou sul da linha imaginária, onde a temperatura do mar é de pelo menos 27ºC (veja o mapa acima).
“No litoral do Sudeste do Brasil, por exemplo, nossas temperaturas giram em torno de 23 a 24°C. 27°C é uma água bem quente”, diz Fábio Luengo, meteorologista da Climatempo.
Imagens mostram rastro de destruição deixado pelo furacão Beryl
Além disso, outro fator crucial que impede a ocorrência desses eventos em nosso país está relacionado a um fenômeno físico que faz com que objetos (como aviões ou correntes de ar) que viajam longas distâncias ao redor da Terra pareçam se mover em curva em vez de em linha reta.
Esse fenômeno é conhecido como Efeito Coriolis ou Força Coriolis, em homenagem ao matemático e físico francês Gaspard-Gustave de Coriolis, e atua sobre sistemas de tempestades como os ciclones tropicais. Ele acontece porque o nosso planeta gira em torno de seu eixo e, assim, faz com que o ar que viaja a longas distâncias pela Terra não se move em linha reta, mas seja desviado.
“Essa força é maior à medida que a latitude aumenta. Ou seja, à medida que avançamos para os polos ela cresce. Já no equador, ela é nula”, acrescenta Luengo.
Com essa força muito fraca, a formação de sistemas de baixa pressão organizados como os furacões fica mais difícil – o que favorece o Brasil, já que a maior parte do nosso território fica na zona tropical, próxima à linha do equador.
Outra função do Coriolis é fazer com que essas tempestades girem em direções opostas nos Hemisférios do planeta: os ciclones tropicais no Hemisfério Norte giram no sentido anti-horário, enquanto os do Hemisfério Sul giram no sentido horário.
Por fim, outro elemento que não pode ser deixado de lado nessa equação que favorece o Brasil é o alto cisalhamento vertical do vento no Atlântico Sul.
Esse palavrão todo explica a mudança que ocorre na velocidade e direção do vento, que varia com a altitude da nossa atmosfera.
Um baixo cisalhamento vertical favorece a formação de furacões, já que a velocidade e a direção do vento não mudam muito ao longo da troposfera, a camada mais baixa da atmosfera onde ocorrem os ciclones tropicais
Já um alto cisalhamento (como no nosso caso) dificulta seu crescimento e pode fazer com que ele se enfraqueça ao invés de se fortalecer.
Olho do Furacão Beryl é visto do espaço
O Beryl é inédito no Caribe, porque é a primeira vez que um furacão de categoria 5 atinge a região em um mês de junho — a temporada de furacões no Caribe e nos Estados Unidos normalmente vai de julho a setembro, acompanhando o verão no Hemisfério Norte. Autoridades preveem uma temporada de furacões mais severos na região neste ano.
Classificado pelo Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC, na sigla em inglês) como “extremamente perigoso”, o Beryl surgiu como uma tempestade tropical e se tornou furacão no fim de semana. Ele subiu da categoria 1 para a 4 em um intervalo de apenas dez horas, considerado muito baixo.
Mas o que significa um furacão categoria 5?
A medição se dá com base numa escala criada nos anos 1970 pelo engenheiro Herbert Saffir e pelo meteorologista Robert Simpson nos EUA —por causa disso, ela ganhou o nome de escala Saffir-Simpson.
Veja abaixo a escala de acordo com a intensidade:
- Categoria 1: potencial de causar alguns danos, com ventos de 119 a 153 km/h. Pode causar danos ao telhado, quebrar galhos grandes de árvores e linhas de energia.
- Categoria 2: potencial de causar grandes danos, ventos de 154 km/h a 177 km/h. Casas podem sofrer danos estruturais. Árvores são arrancadas e bloqueiam estradas. Interrupções de energia são frequentes.
- Categoria 3: potencial de causar danos devastadores, com ventos de 178 km/h a 208 km/h. Grandes danos a construções. Muitas árvores serão quebradas ou arrancadas. Eletricidade e água podem ficar indisponíveis.
- Categoria 4: potencial de causar danos catastróficos, com ventos de 209 km/h a 251 km/h. Casas podem ser derrubadas, assim como postes de energia, com prejuízos à rede por semanas ou meses.
- Categoria 5 (estágio atual do Beryl): potencial de causar danos catastróficos, com ventos de mais de 252 km/h. Muitas casas serão destruídas, com colapso da parede e perda do telhado. Áreas residenciais ficarão isoladas. Potencial de áreas ficarem inabitáveis por semanas ou meses.
Furacão Beryl sobe para categoria 5
O furacão Beryl começou a se formar na última semana como uma instabilidade e foi ganhando força. Veja a cronologia:
- 🌪️ 25 de junho: começa uma instabilidade na atmosfera, favorecendo a formação de uma tempestade.
- 🌪️ 28 de junho: o que era uma instabilidade, ganha força seguindo em direção ao Caribe e se transforma em uma tempestade tropical. Até aqui, a previsão era de ventos de 56 km/h.
- 🌪️ 30 de junho: passou a ser classificado como furacão e entrou na categoria 3 (de uma classificação que vai até 5).
- 🌪️ Ainda no dia 30 de junho: passou a categoria 4, com alerta de extremo perigo, com ventos de até 240 km/h.
- 🌪️ 1º de julho: reclassificado para a categoria 5.
- 🌪️ 3 de julho: caiu para a categoria 4, mas o alerta de extremo perigo continua. Os ventos chegam até 225 km/h.
Segundo o NHC, uma tempestade tão poderosa no início da temporada de furacões, que vai de junho ao final de novembro no Atlântico, é extremamente rara.
Especialistas afirmam que o Beryl ganhou essa proporção em tão pouco tempo por causa das águas ferventes do oceano. As temperaturas na região onde a tempestade se formou estão até 3°C acima da média.
No fim de maio, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) já havia adiantado que a temporada de furacões deste ano seria “extraordinária”, com até sete tempestades de categoria 3 ou superior.
Ilhas no Caribe se preparam para chegada do Furacão Beryl com ventos de 195 km/h
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