Concelho é um dos motores da economia portuguesa.
O presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Emídio Sousa, abriu o Fórum Bizfeira 2023, começando por dar conta da evolução económica concelhia na última década. Uma década que se mostrou transformadora e exemplificativa de uma comunidade que demonstra capacidade, inconformismo, ambição, visão e dinamismo.
Em 2013, quando assumiu pela primeira vez a presidência da autarquia, definiu como prioridade o desenvolvimento económico. Isto porque o concelho contava com mais de 10.000 desempregados e com uma grave crise social. O objetivo foi assim a atração de investimento e a criação de emprego. “Se o pleno emprego for atingido, 90% dos problemas estão resolvidos”, disse o autarca.
Salientou (e agradeceu) o papel fundamental dos empresários feirenses neste percurso até atingirem o pleno emprego. A autarquia apoiou e potenciou, criando as condições necessárias para permitir este crescimento. Também captou novos investimentos para instalar empresas e modernizou parques industriais que geraram mais emprego, mais riqueza e mais desenvolvimento. “Este círculo virtuoso permitiu atingir, num curto espaço de tempo, a meta do pleno emprego, indiscutivelmente o maior legado”, referiu.
A estratégia de atuação materializou-se no projeto de desenvolvimento económico e empresarial Bizfeira, que foi criado e que, entre muitas ações, facilitou a captação de investimento estrangeiro sem precedentes, oriundo de mercados exigentes como Estados Unidos, França, Espanha, Suíça, Bélgica e Alemanha, tendo dado exemplos de muitos negócios e oportunidades que surgiram nas diversas ações de diplomacia económica realizadas com o acompanhamento de empresários feirenses.
Emídio Sousa referiu ainda que as empresas são as entidades centrais na criação de riqueza e geração de bem-estar e a importância de a classe política perceber isto.
Um concelho resiliente
Numa década marcada por várias crises internacionais e recessões económicas, Santa Maria da Feira tem demonstrado uma importante capacidade de resiliência em termos de transações internacionais. Entre 2013 e 2022, as exportações aumentaram 41,3% em termos acumulados, reforçando a integração do município no comércio internacional. Para além disto, Emídio Sousa demonstrou a satisfação com a evolução de outros indicadores económicos na última década. Aliás, acrescentou, Santa Maria da Feira é um dos motores da economia portuguesa. “Se todo o país funcionasse como as nossas empresas, teríamos um PIB per capita semelhante ao da Suíça”, assegurou.
Referiu ainda que temos de deixar de ser um país de baixos salários, cada vez mais pobre e em que os seus jovens mais qualificados se veem forçados a emigrar. Entende que esta situação de pleno emprego deve levar ao aumento dos salários e de criação de melhores condições para reter os mais capazes. As empresas saberão que, para ficar com determinado funcionário, têm de criar melhores condições e, para isso, otimizar permanentemente os seus processos produtivos para poder segurar os seus talentos. Em suma, considera ser necessário parar definitivamente de exportar pessoas e é o que está a acontecer. “Os números são assustadores”, disse.
Num contexto diferente do que se vivia há dez anos, este novo problema da falta de pessoas é melhor, mas, ainda assim, igualmente desafiante e que exige o encontrar de novas respostas para uma questão cujas causas (e soluções) são multifatoriais e complexas. Este contexto põe em risco a competitividade económica do país, sendo particularmente sentido na indústria transformadora (mas não só), e tem múltiplos fatores na sua base, que importam analisar e encontrar respostas para os mesmos, daí a temática do Fórum Bizfeira 2023.
Durante o evento, houve ainda oportunidade para a assinatura da “Manifestação de Interesse entre Santa Maria da Feira e o Governo de São Tomé e Príncipe, com o objetivo de reforçar a colaboração entre as partes e as relações colaborativas entre os tecidos empresariais de ambos os territórios, estreitar os laços de amizade e a partilha de boas práticas, visando o desenvolvimento económico sustentável e a melhoria da qualidade de vida das populações. Em representação do primeiro-ministro são-tomense, marcou presença Jorge Amado, ministro da Defesa e Administração Interna. O mesmo salientou as boas relações existentes e convidou os empresários locais a visitar o arquipélago, o qual sendo pequeno tem recursos e oportunidades de negócio. “Santa Maria da Feira procura pessoas para as empresas, São Tomé e Príncipe procura empresas para as pessoas”, referiu.
A imprevisibilidade é cada vez maior
O encerramento do evento esteve a cargo de Paulo Portas, com uma intervenção sobre as “Tendências em Portugal, na Europa e no Mundo”, atualizando a leitura geoestratégica realizada na edição de 2022. Salientou a importância dos empresários enquanto criadores de riqueza de emprego em Portugal, que agora se veem confrontados com escassez de recursos humanos, abordando a questão da emigração. Lembrou ainda que o grau de imprevisibilidade é cada vez maior na economia mundial e na geopolítica Internacional. A imprevisibilidade é “uma palavra detestada por gestores, acionistas, empresários e trabalhadores, mas nós temos que aprender a saber lidar com isso”, disse. Basta recordar que entre 2019 e o final de 2023 vivemos uma pandemia que não foi prevista por nenhum think tank nem por nenhuma consultora especializada em avaliação de risco; vivemos uma guerra declarada na Europa com a invasão da Ucrânia pela Rússia, que não foi prevista como risco político relevante, e acabamos de ter a emergência ou a reemergência de um conflito sério no Médio Oriente, que também não foi previsto por quem tem como competência profissional e académica pensar em risco.
Não se pode pensar que o mundo só tem riscos climáticos. Com certeza que tem riscos climáticos, mas tem outros riscos políticos e económicos que importa avaliar e interessa às empresas que deles tenham conhecimento, sobretudo as exportadoras. E, felizmente, acrescentou, estamos numa região fortemente exportadora, que faz parte da moderna economia portuguesa, sendo cada vez mais importante a avaliação de riscos e a capacidade de gerir num contexto de crescente imprevisibilidade.
Paulo Portas fez ainda uma aprofundada análise da situação económica dos Estados Unidos, China e Europa, alertando para as debilidades tecnológicas e de contexto da Europa face à economia americana, abordando também as questões das alterações climáticas e a transição energética e como estes elementos todos influenciam a economia portuguesa.
“Se todo o país funcionasse como as nossas empresas teríamos um PIB per capita semelhante ao da Suíça.” Emídio Sousa, presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira
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