Politização, negócios escusos, malversação de fundos, auditorias maquiadas: a corrupção na indústria petroleira da Venezuela é um monstro que devorou bilhões de dólares nos últimos 20 anos. A imagem do ex-ministro do Petróleo Tareck El Aissami algemado é o exemplo mais recente da corrupção na estatal Petróleos de Venezuela (Pdvsa): o desvio de receitas pela venda de petróleo por meio de criptoativos, em um mecanismo fracassado idealizado para driblar as sanções dos Estados Unidos.
O rombo nesse caso chega a quase 17 bilhões de dólares, estima a ONG Transparência Venezuela, e já há cerca de 60 presos, incluindo El Aissami, colaborador próximo do presidente Nicolás Maduro, de quem chegou a ser vice-presidente, e de seu antecessor, Hugo Chávez (1999-2013). Não é um caso isolado.
Rafael Ramírez, ministro de Petróleo entre 2002 e 2014 e ex-presidente da Pdvsa de 2004 a 2014, é fugitivo na Itália, enquanto Eulogio del Pino e Nelson Martínez, que também ocuparam esses dois cargos, foram presos. Martínez morreu na prisão.
Maduro designou El Aissami ministro do Petróleo em 2020 para “reestruturar” a Pdvsa e limpá-la após as acusações contra Ramírez, mas acabou preso por uma das 31 investigações vinculadas à indústria petroleira realizadas pelo Ministério Público desde 2017. Desde então, já foram efetuadas 308 prisões.
A produção venezuelana de petróleo, que ultrapassava os 3 milhões de barris diários há 15 anos, despencou para os cerca de 800.000 atuais. “Infelizmente a Pdvsa foi durante muito tempo a mãe da corrupção, porque era o único entidade no país que gerava divisas e gerava muitos dólares… era a grande exportadora”, disse à AFP Mercedes de Freitas, diretora-executiva da Transparência Venezuela.
A Venezuela está entre os quatro países mais corruptos do mundo ao lado do Sudão do Sul, Síria e Somália, segundo o Índice de Percepção da Corrupção (IPC) da Transparência Internacional. A corrupção na Pdvsa tem sido onipresente: desde o roubo de televisões, computadores e até mesmo retirar veículos oficiais para passeios até subornos milionários e contratos inflacionados.
Maduro, que está buscando a reeleição em 28 de julho, propôs reformar a Constituição para aumentar a pena máxima de prisão de 30 anos para prisão perpétua e aplicá-la a crimes de corrupção.
“Temos que ser implacáveis, seja quem for que caia”, disse ele após a prisão de El Aissami. Pedro Tellechea, responsável pela Pdvsa desde janeiro de 2023 e ministro do petróleo após a renúncia de El Aissami, diz que um dos pilares de sua administração é “limpar” o setor com auditorias e até mesmo câmeras para monitorar as negociações de petróleo bruto.
Ele disse em uma reunião com jornalistas que “nenhum dinheiro é pedido” aos empresários e “todos os desvios que encontramos em uma auditoria vão diretamente para o Ministério Público”.
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