Peru e EUA fortalecem luta contra o crime organizado

Com o objetivo de criar uma força de elite para desmantelar os grupos criminosos transnacionais estrangeiros que operam no Peru, mais de 300 agentes da Polícia Nacional do Peru (PNP) receberão capacitação do Departamento de Segurança Interna dos EUA (HSI), informou à imprensa o governo do Peru.

“Dado o constante aumento do crime organizado e do narcotráfico nos últimos anos na América Latina, a eficácia dessa colaboração com os Estados Unidos é fundamental”, disse à Diálogo, em 14 de abril, Fabián Calle, professor de Relações Internacionais da Universidade Austral da Argentina.

A presidente do Peru, Dina Boluarte, anunciou em 22 de março que as tropas da PNP farão parte da Unidade de Investigação de Crimes Transnacionais (TCIU), sob o treinamento de agentes dos EUA.

As TCIUs, um programa do HSI, são compostas por agentes da lei estrangeiros aprovados e treinados em todo o mundo, que trabalham em estreita colaboração com o HSI para investigar e processar indivíduos envolvidos em atividades criminosas transnacionais.

“A TCIU terá um arsenal de recursos excepcionais para enfrentar e desmantelar as máfias estrangeiras, que representam uma ameaça à estabilidade do país”, informou o jornal Las Américas, de Miami. “Entre os crimes transnacionais que serão abordados, estão o narcotráfico, o tráfico ilegal de minerais preciosos e a extorsão, entre outros.”

Disputa entre criminosos

De acordo com a agência peruana de notícias Andina, os oficiais de polícia trabalharão em estreita colaboração com o HSI, que será responsável pelo treinamento de policiais em tarefas específicas contra as estruturas do crime organizado. A PNP, que atualmente conta com 135.000 policiais, enfrenta um cenário cada vez mais desafiador, marcado pela violência e por assassinatos por encomenda, razão pela qual o apoio dos EUA é significativo, acrescentou Las Américas.

“As organizações criminosas do Peru estão competindo com a Colômbia a condição de maior produtor de cocaína do mundo”, disse Calle. “A produção de narcóticos no Peru, na Bolívia, bem como parte da que vem da Colômbia, é destinada principalmente à Europa e aos mercados da nossa região.”

O site de notícias argentino Infobae destacou que os instrutores do HSI, que treinarão os policiais peruanos, possuem informações essenciais e habilidades especializadas para enfrentar grupos criminosos transnacionais.

Os candidatos escolhidos nas fileiras da PNP para integrar a primeira geração de agentes de elite da TCIU têm em seu perfil geral um alto nível de treinamento e valor ético, um registro de serviço impecável e foram aprovados em testes de polígrafo, acrescentou Infobae.

Principal inimigo

Como ocorre em vários países da América do Sul, há uma preocupação no Peru com a invasão do Tren de Aragua, a maior organização criminosa da Venezuela, que está cruzando fronteiras, de acordo com uma análise da InSight Crime, uma organização dedicada ao estudo do crime organizado na América Latina e no Caribe.

Durante sua apresentação ao Congresso do Peru, em 3 de abril, o primeiro ministro Gustavo Adrianzén ressaltou que o governo também fortalecerá o Grupo Especial contra o Crime Organizado da PNP para eliminar o Tren de Aragua e suas facções, que “hoje constituem o principal inimigo da sociedade”, publicou o jornal peruano Correo.

“Até dezembro de 2024, esperamos realizar 160 operações especiais, que nos permitirão desmantelar pelo menos 80 gangues e organizações criminosas”, declarou Adrianzén.

As gangues criminosas equatorianas Choneros e Triguerones, que também operam no território peruano, têm como objetivo controlar os portos no norte do país para o tráfico de drogas e a mineração ilegal, entre outras atividades criminosas, de acordo com o diário peruano El Comercio.

“O crime organizado deu um salto quantitativo significativo na América Latina”, disse Calle. “Um exemplo disso são os índices de criminalidade, que tornaram as cidades latino-americanas as mais inseguras do mundo, além de gerar corrupção, violência e desestabilização política na região.”

Nesse sentido, o Instituto para a Democracia e os Direitos Humanos (IDEHPUCP), da Pontifícia Universidade Católica do Peru, alertou sobre o aumento das ações criminosas que colocam em risco os setores vulneráveis.

“A Amazônia [peruana] e os defensores do meio ambiente estão em risco permanente e crescente”, disse o IDEHPUCP. “O país começou 2024 com o assassinato de 33 defensores de seus territórios e florestas, perpetrado pelo crime organizado, cada vez mais ligado à mineração ilegal de ouro.”

O Programa TCIU

A participação do Peru na TCIU começou em setembro de 2023, quando o HSI e o governo peruano assinaram um memorando de cooperação para combater o crime transnacional, informou a Embaixada dos EUA no Peru. O acordo foi assinado pelo subdiretor de operações internacionais do HSI, David Magdycz, e pelo comandante geral da PNP, Jorge Angulo.

“Diante dessa realidade internacional, hemisférica, regional e nacional, um dos maiores desafios para as elites políticas e sociais é enfrentar os delitos criminais dos países, articulando-se com as agências internacionais de segurança”, recomendou Calle.

O programa internacional TCIU do HSI teve início em setembro de 2011 e conta com mais de 600 agentes internacionais de aplicação da lei aprovados e capacitados em 15 lugares na América do Norte, América Central, América do Sul, Caribe, Oriente Médio e Ásia.

A TCIU identifica alvos, coleta provas e compartilha inteligência, trabalhando com parceiros internacionais para investigar e processar indivíduos envolvidos em atividades criminosas transnacionais, que ameaçam a estabilidade e a segurança nacional da região.

“As redes criminosas não conhecem fronteiras. A única alternativa para os países democráticos é criar juntos redes eficazes para combatê-las, e é por isso que o treinamento e a contribuição que os Estados Unidos podem dar às forças de segurança das nações da região são conclusivos no combate ao crime organizado”, concluiu Calle.

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