Foram os relógios de luxo que Dina Boluarte usou em vários eventos oficiais, começando logo no tempo em que era ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social e vice-presidente, que estão na base da atual crise política no Peru. A presidente, que assumiu o cargo em 2022 após a destituição de Pedro Castillo, ainda não explicou a origem dos Rolex e, no sábado, tanto a sua casa como o gabinete foram alvo de buscas. O Ministério Público suspeita de enriquecimento ilícito, enquanto Boluarte denuncia assédio. Mas já é alvo de uma moção de censura no Congresso.
“A presidente foi formalmente intimada a mostrar os relógios Rolex”, indicou a procuradoria peruana, explicando que estes não foram encontrados durante as buscas – apesar de ter sido encontrado o comprovativo de compra de um deles, no ano passado. Boluarte foi chamada a prestar declarações à Justiça na próxima sexta-feira. O seu advogado indicou que a polícia fotografou, mas não levou, cerca de dez relógios. “Entre eles, alguns bons, mas não sei dizer se eram Rolex”, afirmou Mateo Castañeda à estação de rádio RPP.
A presidente criticou as buscas, que decorreram na madrugada de sábado e nas quais a polícia entrou com violência em sua casa. “A medida da madrugada é arbitrária, desproporcional e abusiva”, afirmou, explicando que sempre esteve à disposição das autoridades e que este caso está a afetar a governabilidade do país. “A presidente tem vindo a ser atacada sistematicamente e, por isso, a democracia e o Estado de Governo são atacados, gerando instabilidade política, social e económica”, acrescentou.
Boluarte, por indicação do advogado, não se pronunciou sobre a origem dos supostos 14 relógios de luxo (três deles alegados Rolex), que foi revelada há umas semanas no programa online La Encerrona. Após a reportagem, a presidente, de 61 anos, tinha dito que os Rolex eram “antigos” e fruto do seu “esforço”, tendo começado a trabalhar desde os 18. Antes de entrar na política, foi funcionária do Registo Nacional de Identificação e Estado Civil, tendo chegado a dirigir um dos seus escritórios.
O caso dos Rolex não é apenas judicial, com o antigo partido da presidente – Peru Livre (marxista) – a apresentar uma moção de censura que pode levar à sua destituição. O partido anunciou que tinha as 26 assinaturas necessárias para desencadear o processo, alegando “incapacidade moral permanente”, a desculpa usada no passado para afastar outros presidentes peruanos. Consideram o caso “grave”, já que Boluarte não declarou os relógios de luxo às autoridades. Isso implica “a violação dos princípios éticos e morais de alguém que ocupa o mais alto cargo do país”, alegam, falando nomeadamente na questão da transparência.
Boluarte rejeita demitir-se e não é certo que a moção de censura possa passar no Congresso. A presidente conta com o apoio dos quatro partidos de direita e de extrema-direita, apesar de pelo menos um deles pedir que dê explicações sobre a origem dos relógios. Estes partidos contam com 47 deputados no Congresso, longe dos 65 da maioria, mas até agora o apoio de congressistas independentes alinhados tem sido suficiente para a governabilidade.
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