Em 31/10/2023 às 14:29h, por Diones Franchi
José Custódio Joaquim de Almeida, o Príncipe de Ajudá, como ficou conhecido, foi um líder africano, oriundo de uma região do antigo Daomé, conhecida como reino de Benin. Segundo alguns biógrafos, nasceu em 1831, apesar de existir divergência sobre a data. Ninguém sabe como e nem em que circunstâncias, ao final do século XIX este príncipe governante deixou São João Batista de Ajudá (hoje República de Benim), que foi no passado um dos principais entrepostos de escravos para o Brasil. Mas o certo é que ele partiu perante a promessa solene dos ingleses de que o seu povo não sofreria o que haviam sofrido os grupos vizinhos ante a violência dos alemães e franceses.
Os portugueses, antes senhores da região, tinham se contentado com uma parte da Guiné e com as Ilhas de São Tomé e Príncipe cedendo as suas fortalezas. Por qual motivo o Príncipe escolheu o Brasil, é desconhecido. Talvez por aqui existir grande número de descendentes dos escravos nativos da Costa da Mina – os chamados “pretos-mina” – ou outra qualquer razão. A sua chegada ao país foi assinalada como tendo acontecido em 1864, dois anos depois de ter deixado Ajudá. Custódio estava inserido num cenário africano de colonização europeia, baseada na exportação de mão-de-obra escrava negra para além do continente.
Abandonando seu possível lugar de nascimento, o “Príncipe Negro” teria excursionado pela Europa e posteriormente desembarcado no Brasil. Em território brasileiro supostamente passou pela Bahia, pelo Rio de Janeiro e chegou ao Rio Grande do Sul, onde estabeleceu residência.
Inicialmente, fixou-se em Rio Grande e mais tarde, foi para Bagé, onde ficou conhecido por manter viva a tradição religiosa do seu povo, com a prática do que agora se conhece como “Batuque”. Além de mostrar conhecimentos das propriedades curativas da flora medicinal brasileira, atendendo a muita gente doente que o procurava, tratando de melhorar os males por meio de ervas e rezas dos ritos africanos. Era apaixonado por cavalos e em nossa cidade costumava exibi-los sua criação , para quem quisesse ver, sendo que sua fama de curandeiro também se espalhou na região da campanha.
De Bagé mudou-se para Porto Alegre, onde chegou em 1900, com 70 anos de idade. Seu nome africano era Osuanlele Okizi Erupe, mas no Brasil adotou o nome de Custódio Joaquim de Almeida.
Em Porto alegre a família do príncipe de Ajudá aos poucos foi crescendo e não demorou a atingir o número de 26 pessoas, sem contar os empregados em boa quantidade.
Príncipe Custódio tinha oito filhos, três homens e cinco mulheres. Na sua residência em Porto Alegre havia diversas festividades e era certo o comparecimento de senhoras e cavalheiros da melhor sociedade porto-alegrense, além de capitães da indústria e comércio que dele precisavam no apoio para o perigo de greves e outras imposições. O príncipe de Ajudá se relacionava com figuras importantes da política gaúcha da época, como Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, Getúlio Vargas e outras personalidades. Seus poderes espirituais, como “babalorixá” (sacerdote africano), espalhavam-se por todo o Rio Grande do Sul.
Diferente de muitos companheiros que foram escravizados, o Príncipe vivia cercado de todo o conforto e requintes de nobreza, causando espanto e admiração da elite local. Personagem considerado exótico na sua forma de vestir, o Príncipe Custódio criava cavalos árabes e falava o inglês e o francês. O príncipe faleceu em 28 de maio de 1935, aos 104 anos, sendo uma figura muito importante para sociedade gaúcha. Em Bagé, existe um bairro denominado Passo do Príncipe, em sua homenagem, por que ele morava naquela região e costumava passear com seus cavalos pela localidade.
Referências:
APARECIDO FELIPE, Delton, KAZUKO TERUYA, Tereza. Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos da educação básica. Revista Educação e Linguagens. Campo Mourão, v. 3, n. 4, jan./jun. 2014
BALEJOS, Leandro Pereira. Custódio Joaquim de Almeida (1831? – 1935): um Príncipe Africano em Porto Alegre que rezava, curava e treinava cavalos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010
JUNG, Roberto Rossi. O Príncipe Negro. Porto Alegre: Edigal / Renascença, 2007
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