O novo documentário “Pelo Paraná: a disputa por um rio”, dirigido pelos cineastas argentinos Alejo Di Risio e Franco González, explora as consequências humanas e ambientais da hidrovia Paraná-Paraguai, uma das maiores rotas comerciais da América do Sul. O filme, que estreou na última semana na Argentina, mergulha na vida das comunidades ribeirinhas afetadas pela expansão e industrialização da hidrovia.
A hidrovia Paraná-Paraguai, com mais de 3,4 mil quilômetros, atravessa áreas vitais para a agricultura em países como Bolívia, Brasil, Paraguai e Argentina, facilitando significativamente o comércio regional e global. No entanto, o filme destaca os impactos frequentemente ignorados desse desenvolvimento, especialmente nas comunidades locais que vivem ao longo dos rios.
Durante a produção do documentário em 2021, Di Risio e González percorreram o rio Paraná para captar diretamente as transformações na região. Eles focaram nas histórias de pessoas como Julio Cardozo, um pescador de Ramallo, que discute as mudanças dramáticas no ambiente local e nas práticas de pesca desde a década de 1990, quando portos privados começaram a proliferar, limitando o acesso dos pescadores tradicionais às águas.
O filme também aborda as alterações ambientais, como a dragagem do rio, que, segundo os cineastas, causou a destruição de áreas de desova de peixes e acelerou a erosão das margens do rio. O economista Sergio Arelovich, outro entrevistado no documentário, critica a gestão privada da hidrovia, que ele vê como focada unicamente no lucro sem considerar os danos ecológicos ou o bem-estar das comunidades ribeirinhas.
O documentário surge em um momento crítico, dado que a Argentina enfrentou uma severa seca entre 2020 e 2023, exacerbada pelo fenômeno climático La Niña, que afetou ainda mais as comunidades locais e a biodiversidade do rio. A redução dos níveis de água durante a seca foi uma das mais baixas em 70 anos, complicando ainda mais a situação para os pescadores que dependem do rio para seu sustento.
A concessão para administrar a hidrovia terminou em 2021 e estava temporariamente nas mãos do estado argentino. Com a eleição do novo presidente Javier Milei, espera-se que uma nova licitação internacional seja lançada para administrar a hidrovia, com interesses de grandes empresas globais já manifestados.
“Pelo Paraná: a disputa por um rio” não apenas documenta as lutas das comunidades ribeirinhas, mas também levanta questões importantes sobre o futuro da hidrovia e os modelos de desenvolvimento sustentável que respeitem tanto as pessoas quanto o ambiente.
(Fonte: dialogue.earth)
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