Nuno Pereira: “No terramoto do Haiti soube o que era ter dinheiro e não conseguir comprar comida. Não havia nada” 

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Ontem Já Era Tarde

O jornalista da SIC Nuno Pereira estava de férias com a família na República Dominicana quando se deu o sismo do Haiti, em 2010, que provocou mais de 300 mil mortes.

“Estava ali ao lado quando tudo aconteceu e sabia que o telefone ia tocar. Cheguei a uma terça e o terramoto deu-se na quarta.”

Nuno Pereira lembra que este foi o seu primeiro teste de fogo fora do desporto e a experiência acabou por marcá-lo: “Costumo dizer que faço casamentos e funerais. Tanto estou num programa de festa no Verão [Olhá Festa, da SIC] como vou para uma guerra [Ucrânia] ou um terramoto.”

No caso do Haiti, esteve oito dias em reportagem: “O país cheirava a morte. Eram 300 mil corpos a céu aberto com 40 graus. Os corpos eram carregados com pás de máquinas. Tinha 250 euros no bolso e não conseguia comprar comida. Não havia nada. Ali soube o que era, verdadeiramente, ter fome. Senti fome ao fim de dois dias sem ter nada para comer.”

“O meu irmão não aceitou que eu tivesse ido para a guerra na Ucrânia”

A parte mais difícil foi avisar a família. Quando Nuno Pereira recebeu o convite da SIC para a guerra da Ucrânia, estava num almoço com o pai, o irmão e outros familiares: “Não os avisei logo porque não era o momento. Ia estragar o ambiente.”

Na altura de dar a notícia, a reação não foi a melhor.

“O meu irmão foi jornalista e não aceitou que eu quisesse ir para a guerra. Não compreendeu porque é que uma pessoa que estava em Portugal, no seu trabalho, queria ir para um cenário daqueles. Essa parte não foi fácil.”

Nuno Pereira admite que depois de ter estado na linha da frente, e de ter feito a chamada “estrada da morte”, não queria ir embora: “Quando percebi que conseguia ir lá mais vezes, isso torna-se viciante e queres ir lá todos os dias.”

O jornalista Pedro Mourinho, que antes foi colega de Nuno Pereira na SIC, deu-lhe um conselho: “Um dia ligou-me para saber como estava, falei muito entusiasmado e ele disse-me que eu tinha de me vir embora ou então morria ali. Ele também tinha lá estado e soube sair. E ali foram as palavras de um amigo e não de alguém da concorrência a querer que eu me viesse embora.”

No Euro 2016, um francês chegou a dizer-me: “Devias ter uma colher de pedreiro na mão em vez de um microfone”

O jornalista da SIC, Nuno Pereira, considera que o Euro 2016, realizado em França, foi um dos momentos mais altos da sua carreira. Confessa que, naquele momento, foi difícil deixar de lado a emoção ao ver a seleção tornar-se campeã da Europa num “país em que as comunidades portuguesas sofrem muito”.

Enquanto estava à porta do estádio, um francês passou, olhou para o microfone e perguntou-me de onde eu era: “De Portugal? Então devias ter uma colher de pedreiro na mão em vez de um microfone”. Na opinião do jornalista, este episódio “quer dizer muita coisa”.

“Aquela conquista deu-me um orgulho tão grande e levou a um sentimento que um jornalista nem deve ter quando está a trabalhar que foi o vestir a camisola e até criar parcialidade. Mas aquele cidadão francês ‘picou-me’ no meu orgulho português.”

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