De acordo com o presidente do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola, Adriano Manuel, a falta de recursos financeiros está a afetar a qualidade da assistência médica aos utentes e o funcionamento das unidades hospitalares, algumas destas recentemente construídas. “De uma forma geral, são todos os grandes hospitais, principalmente os hospitais recentemente construídos”, alerta o médico.
Algumas áreas, como farmácias, laboratório e imagiologia já se ressentem da escassez financeira. “E isso tem influenciado negativamente na prestação de serviços, porquanto existem serviços que não estão a ser feitos. Existem exames laboratoriais que não estão a ser feitos, exames de imagiologia, e isto tem repercussões na mortalidade dos doentes.”, explica Adriano Manuel.
Uma das unidades unidades apontadas pelo Sindicato dos Médicos é o Complexo Hospitalar de Doenças Cardiopulmonares Dom Alexandre do Nascimento, localizada no município do Kilamba Kiaxi, em Luanda. Inaugurada em 2021, a infraestrutura custou aos cofres do Estado mais de 214 milhões de dólares.
Carlos Masseca, diretor geral da unidade hospitalar, diz que o atraso na disponibilização dos 500 milhões de kwanzas (cerca de 540 mil euros) que o hospital recebe mensalmente está a causar constrangimentos na gestão hospital e na relação com os fornecedores de serviços.
“Isso vai provocar um impacto, mas o que nós temos procurado é negociar com os fornecedores para que eles sejam pagos e continuarem a prestar os seus serviços. Estamos a falar de serviço de limpeza, medicamentos”, exemplifica.
Queixas dos utentes
E quem procura pelos serviços de saúde nas unidades públicos confirma as denúncias, que se refletem na falta de qualidade do serviço prestado.
Joana Domingos, moradora do bairro Tala Hady, nos arredores do município do Cazenga, deslocou-se ao hospital de referência da sua zona, “os Cajueiros”, e reclama do atendimento e da falta de reagentes para os exames de laboratório. “Tem sempre falha de análise. Você vai para a farmácia do hospital nunca tem medicamento para darem”, conta.
Dados do Ministério da Saúde indicam que, de 2017 a 2023, período que marca os primeiros cinco anos do Presidente João Lourenço, o país ganhou 168 unidades sanitárias, ampliadas, reabilitadas e apetrechadas com novas tecnologias.
Mas a estratégia de construção de grandes unidades hospitalares não tem reunido consenso, sobretudo da classe médica.
Aposta na prevenção
Para o presidente do Sindicato Nacional dos Médicos, o Estado devia apostar na vertente preventiva, evitando assim gastar recursos financeiros em unidades cuja manutenção é elevada.
“Isto é uma ilusão, porquanto o perfil epidemiológico do nosso país refere que quem mais mais mata é a malária, as doenças respiratórias as grandes cirurgias são feitas por febre tifóide e tudo isso se prevenirmos vamos diminuir a mortalidade”, defende.
Apesar das denúncias, os Ministérios da Saúde e das Finanças mantêm-se no silêncio. Adriano Manuel disse à DW que o Sindicato pondera escrever ao Presidente da República, para salvar vidas.
“Os sindicatos uniram-se e prevêem escrever para o Presidente da República, no sentido de encontrarmos os melhores caminhos para se ultrapassar isso. Há pessoas que estão a morrer. Há exames que não estão a ser feitos por falta de material”, sublinha o médico.
A DW contactou os gabinetes de comunicação dos Ministérios da Saúde e das Finanças, para obter esclarecimentos sobre o tema, mas sem sucesso.
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