Ben-Hur Ferraz Neto, 62 anos, construiu uma carreira sólida como cirurgião especializado em transplantes de fígado, com mestrado, doutorado e livre-docência em cirurgia. No entanto, há cerca de uma década, percebeu que a tecnologia poderia ser uma grande aliada na evolução dos serviços médicos e decidiu expandir seus conhecimentos com um MBA na área da saúde.
“Comecei a me interessar muito por tecnologia na área da saúde e vi essa evolução como uma grande oportunidade para melhorar a entrega de serviços à população”, afirma Neto.
Sua busca por especialização em tecnologia aplicada à medicina o levou a cursar um MBA em HealthTech na FIAP e a participar de um programa sobre inovação na Singularity University, em Palo Alto, Califórnia. Essa experiência transformou sua visão sobre a profissão e abriu portas para novas iniciativas no setor. “Além do conhecimento técnico, o MBA trouxe uma mudança significativa na forma como eu enxergo o papel do médico no futuro da medicina”, explica.
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião especializado em transplantes de fígado e ex-aluno do MBA em healthtech da FIAP. Foto: Egberto Nogueira
Transformação digital na medicina
O caminho percorrido pelo cirurgião reflete uma tendência cada vez mais presente na área da saúde: a transformação digital. Com avanços tecnológicos redefinindo a prática médica, os profissionais precisam de capacitação contínua e alinhada às novas demandas do setor. Esse cenário tem impulsionado a busca por especializações que vão além do conhecimento clínico tradicional, incorporando temas como inovação, empreendedorismo e gestão.
Uma pesquisa recente da consultoria Deloitte reforça essa percepção. O estudo, realizado em 2024 com 228 médicos no Brasil, revelou que duas das quatro principais mudanças necessárias para a carreira de saúde do futuro estão diretamente ligadas à inovação tecnológica.
Entre os entrevistados, 55% defendem a capacitação em empreendedorismo e negócios, 50% apontam a importância do desenvolvimento de habilidades para trabalho em equipe, 44% destacam a necessidade de domínio do uso de dados e 43% consideram essencial o treinamento em novas tecnologias. Esses números mostram que a formação médica do futuro não depende apenas de conhecimento técnico, mas também de habilidades estratégicas para acompanhar a evolução do setor.
MBAs especializados capacitam médicos para inovação
Com essa demanda crescente, MBAs especializados se expandem para capacitar profissionais da saúde. O MBA em Healthtech da FIAP prepara os alunos para aplicar soluções inovadoras sem necessidade de conhecimento avançado em tecnologia. Ele utiliza metodologias como Design Thinking, permitindo que os profissionais enxerguem problemas e soluções de forma mais dinâmica, sem comprometer a segurança dos pacientes.
Segundo o coordenador do MBA em Healthtech FIAP, Dr. Wagner Sanchez, essa mudança é urgente. “A velocidade das transformações dentro das estruturas hospitalares ainda é lenta. O caminho é a implementação de tecnologias disruptivas que agilizam diagnósticos, impulsionam tratamentos e melhoram a experiência do paciente”, afirma Sanchez.
O curso foi estruturado para capacitar profissionais da saúde a aplicarem soluções inovadoras sem necessidade de conhecimento técnico avançado em tecnologia. O curso utiliza metodologias ágeis que podem auxiliar na busca por soluções mais centradas no paciente.
“Os profissionais de saúde costumam seguir protocolos rígidos. Ensinar Design Thinking os faz enxergar problemas e soluções de forma mais dinâmica, permitindo inovação sem comprometer a segurança dos pacientes”, afirma Sanchez.
Outro programa de destaque é o MBA em Gestão da Inovação em Saúde, fruto da parceria entre USP e Butantan. A Dra. Marisa Chudzinski-Tavassi, diretora do Centro de Desenvolvimento e Inovação do Butantan, destaca que, há alguns anos, empreendedorismo e inovação na saúde eram pouco discutidos.
“Hoje, percebemos a importância de capacitar profissionais para lidar com parcerias público-privadas, propriedade intelectual e regulação, áreas que se tornaram estratégicas para o futuro da medicina”, pontua Chudzinski-Tavassi.

Marisa Chudzinski-Tavassi, diretora do Centro de Desenvolvimento e Inovação do Butantan. Foto: Divulgação
O MBA, antes semipresencial, agora acontece totalmente online, permitindo a participação de profissionais de diversas regiões. O curso abrange desde gestão da inovação e desenvolvimento de produtos farmacêuticos até modelos regulatórios complexos e legislação na saúde.
Além dos MBAs, outras iniciativas educacionais vêm surgindo para preparar profissionais para os desafios da saúde digital. A Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), por exemplo, lançou recentemente uma disciplina optativa em inovação, ampliando o contato dos alunos com novas tecnologias e metodologias. Da mesma forma, universidades como a PUCRS já anunciaram a abertura de novas turmas para MBAs focados em gestão, inovação e serviços em saúde, com a primeira edição prevista para 2025.
Formação e inovação na saúde
Para Ferraz Neto, uma das principais mudanças em sua visão foi entender que a tecnologia não é uma ameaça, mas uma aliada essencial para médicos e pacientes. Com o suporte de ferramentas digitais, é possível oferecer diagnósticos mais precisos, acompanhar tratamentos com mais eficiência e proporcionar um atendimento mais humanizado e acessível.
A experiência no MBA trouxe uma nova perspectiva sobre a relação entre tecnologia e medicina. No entanto, ele reconhece que essa transição nem sempre é simples. ‘Os médicos são treinados para atuar de forma tradicional, e adaptar-se às novas ferramentas exige uma mudança de mentalidade”, afirma.
Os programas também se destacam pela forte integração com o mercado. A FIAP, por exemplo, possui parcerias com Microsoft, IBM, Oracle, Amazon e hospitais como Oswaldo Cruz e Einstein, permitindo que os alunos enfrentem desafios reais do setor.
Já o MBA da USP-Butantan fará parte do Projeto Distrito de Inovação que integra o sistema de inovação desenvolvido por diversos órgãos governamentais do Estado de São Paulo, como a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, Universidade de São Paulo (USP), Instituto Butantan, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Prefeitura do Município de São Paulo.
Segundo o professor Roger Chammas, titular de Oncologia na USP, a qualificação dos profissionais é essencial para transformar pesquisa acadêmica em soluções concretas.
“A capacitação contínua garante que a ciência desenvolvida nas universidades possa ser aplicada no mundo real, impactando positivamente a vida dos pacientes e a eficiência dos sistemas de saúde”, afirma Chammas.
Os alunos desses MBAs têm acesso a projetos reais e são incentivados a criar soluções para desafios práticos enfrentados por hospitais e laboratórios. Essa interação com o mercado aumenta as chances de inserção profissional e impulsiona inovações aplicáveis ao setor.
Crédito: Link de origem