Maduro age na ‘contramão’ de acordo sobre eleições, avaliam diplomatas brasileiros | Política

Maduro ergue cédula durante referendo sobre reivindicação da Venezuela por Essequibo, em dezembro de 2023 — Foto: VENEZUELAN PRESIDENCY/HANDOUT/EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Diplomatas do Brasil ouvidos pela GloboNews nesta sexta-feira (16) avaliaram, na condição de anonimato, que o presidente venezuelano Nicolás Maduro está “esticando a corda” e agindo na “contramão” do acordo que prevê, entre outros pontos, eleições no país neste ano e a libertação de opositores presos.

Nesta quinta (15), o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil, informou que funcionários do Alto Comissariado de Direitos da Organização das Nações Unidas deverão deixar o país.

A medida foi anunciada após eles terem divulgado um relatório no qual afirmaram que o programa do governo venezuelano de combate à fome é ineficiente e suscetível a influências políticas.

Para o governo de Nicolás Maduro, o grupo agiu como advogado de “golpistas” e “terroristas”, acrescentando que os funcionários da ONU só poderão permanecer no país se retificarem o estudo.

ONU avalia próximos após Venezuela expulsar Alto Comissariado de Direitos Humanos

Também nesta semana, o Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, os Estados Unidos e organizações humanitárias condenaram a prisão da ativista Rocío San Miguel.

Ela está na sede do serviço de inteligência, em Caracas. Rocío é conhecida por fazer denúncias sobre tortura sofrida por detidos pelo governo.

A ativista venezuelana Rocío San Miguel, presa pelo regime de Maduro, em imagem de arquivo. — Foto: Fernando Llano/ AP

Agora, diante dos novos fatos no país vizinho, integrantes do governo brasileiro avaliam que a situação se agravou. E que, por isso, novas conversas devem acontecer.

Embora concordem que o momento pede “cautela”, as fontes divergem sobre o tom a ser adotado se o Brasil concluir que Maduro está agindo contra o processo eleitoral e descumprindo o acordo.

Para alguns diplomatas, seguindo a tradição, o país não deve adotar tom mais “duro”. “Não se trata de passar pano, mas, sim, de não queimar os canais, as possibilidades de diálogo”, afirmou à GloboNews um integrante da diplomacia brasileira.

Para outros, porém, o país deve mudar de postura e passar a ser mais crítico ao regime de Maduro.

Presidentes Lula e Maduro durante encontro em Brasília, em maio de 2023. — Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Lula foi alvo de críticas

“Acho que cabe à Venezuela mostrar sua narrativa para que possa efetivamente fazer pessoas mudarem de opinião. […] É preciso que você construa a sua narrativa, e eu acho que, por tudo o que conversamos, a sua narrativa vai ser a melhor do que a narrativa que eles têm contado contra você”, disse Lula a Maduro.

Na ocasião, diplomatas disseram ao g1 e à GloboNews que, embora o tom de Lula pudesse ser questionado, a estratégia era buscar uma aproximação com Maduro, o que, segundo eles, fazia ser necessária uma declaração mais amena.

Gilvânia Maria de Oliveira, indicada para atuar como embaixadora na Venezuela, durante sabatina no Senado Federal. — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Segundo o Itamaraty, a diplomata já está na Venezuela e servirá como “ponto de apoio importante” em meio ao atual cenário no país.

Conforme relatos, ela deve “tomar pé” da situação local antes de o Brasil decidir os próximos passos em relação a Maduro.

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