Lula e Macron dizem ser “grave” Venezuela impedir opositora de Maduro

O brasileiro afirmou que a candidata da oposição “sofreu prejuízo”; o francês declarou que a situação piorou nas últimas semanas

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e da França, Emmanuel Macron, disseram nesta 5ª feira (28.mar.2024) ser “grave” a Venezuela não permitir que Corina Yoris, candidata de oposição a Nicolás Maduro, dispute as eleições no país.

“Eu fiquei surpreso com a decisão. Primeiro a decisão boa da candidata proibida de ser candidata pela justiça de indicar uma sucessora, achei um passo importante. Agora, é grave que a candidata não possa ter sido registrada”, afirmou Lula elogiando o fato de a 1ª candidata de oposição ter indicado outro nome para sucedê-la.

Marcon foi mais duro: “O marco em que essas eleições estão a decorrer não pode ser considerado democrático. Vamos fazer de tudo para convencer Maduro para que reintegre todos os candidatos para ter eleições limpas com observadores regionais e internacionais. Condenamos firmemente ter tirado uma candidata muito boa. A decisão é grave e piorou com as decisões da última semana”.

Yoris não conseguiu acessar a plataforma fornecida pelo governo venezuelano para registrar sua chapa. Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o impedimento configura uma violação ao acordo de Barbados, em que a Venezuela assegurou a realização de eleições livres em troca do fim das sanções ao petróleo local.

Antes de Corina Yoris, a ex-deputada María Corina Machado também havia tido seu registro de candidatura negado. Ela venceu a disputa interna da oposição. Machado foi quem indicou Yoris como sua substituta.

Sem ambas as postulantes, o novo nome da oposição a Nicolás Maduro deve ser Manuel Rosales, atual governador de Zulia, no noroeste da Venezuela. Corina Machado disse que não apoiará Rosales e que seu nome para o pleito segue sendo Corina Yoris.

“Não tem explicação política, jurídica, você proibir um adversário de ser candidato”, disse Lula. Na 3ª feira (26.mar), a Venezuela criticou o comunicado do governo brasileiro expondo preocupação com as eleições no país.

Segundo o regime de Nicolás Maduro, a nota do Itamaraty parece “ditada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos”. Leia a íntegra (PDF – 130 kB).

“A Venezuela repudia a declaração cinzenta e intrometida, redigida por funcionários do Itamaraty, que parece ter sido ditada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, onde são emitidos comentários carregados de profunda ignorância e ignorância sobre a realidade política na Venezuela.”, afirmou comunicado da Venezuela.

A declaração dos presidentes foi feita depois de reunião bilateral no Palácio do Planalto. Veja fotos da visita de Macron a Brasília feitas pelo fotógrafo do Poder360, Sérgio Lima:

A solenidade em Brasília começou pouco depois de uma hora depois do previsto, às 12h40. O presidente francês caminhou pela Praça dos Três Poderes em revista às tropas brasileiras e encontrou Lula no topo da rampa do Planalto. Depois, seguiram para o parlatório onde viram a passagem da cavalaria.

Em seguida, tiveram uma reunião bilateral que durou cerca de duas horas. Depois de assinarem atos conjuntos entre os países, Lula condecorou Macron com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Depois disso, foi a vez de o francês condecorar a primeira-dama brasileira, Janja da Silva, nomeando-a oficial da Legião de Honra. Ele justificou que Lula já recebeu a mesma honraria no mais alto grau, o de cavaleiro.

“Eu queria dizer que o presidente Lula já tem o grau mais elevado da legião de ordem e por isso agora eu vou condecorar sua esposa”, afirmou o francês.

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Sérgio Lima/Poder360 – 28.mar.2024

Nas imagens, a troca de medalhas entre Macron, Lula e Janja

A condecoração foi instituída em 20 de maio de 1802 por Napoleão Bonaparte. Depois da declaração à imprensa, Lula e Macron seguiram para o Itamaraty. Lá, o petista e Janja oferecem um almoço em homenagem ao presidente francês. O brasileiro pediu desculpas pelo atraso do evento.

“Eu quero começar com um pedido de desculpas a vocês pelo nosso descumprimento dos horários que nós tínhamos aqui. Eu ainda estou vendo vocês sorridentes, mas eu penso que o pessoal que está esperando a gente para almoçar já esquentou a comida umas 4 vezes”, declarou Lula.

Tour pelo Brasil

O começo do tour de Macron pelo Brasil foi na capital do Pará, cidade que receberá em 2025 a COP30 –evento sobre mudanças climáticas da ONU (Organização das Nações Unidas). Lula foi até Belém receber o presidente francês em sua 1ª visita oficial ao Brasil.

Os registros do encontro entre os presidentes na 3ª feira (26.mar.2024) viraram assunto nas redes sociais. No X (ex-Twitter), as imagens dos 2 de mãos dadas na floresta amazônica foram comparadas a ensaios de fotos de casais e a cartazes de filmes famosos.

O petista levou o francês para conhecer Belém (PA) e uma ilha do Estado. Os internautas transformaram as fotos do 1º dia em cartazes de filmes –alguns com temática LGBTQIA+.

Na Ilha do Combú, Lula e Macron visitaram uma fábrica artesanal de chocolate e homenagearam o cacique Raoni Metuktire, líder indígena da etnia kayapó.

Raoni recebeu a maior honraria concedida pela França a seus cidadãos e a estrangeiros que se destacam por suas atividades no cenário global, o grau de cavaleiro, o 1º da Legião de Honra.

A França reconhece Raoni como figura internacional pela causa indígena e ambiental. Ao divulgar mensagens sobre direitos humanos e proteção da floresta, ele criou a Rainforest Association em 1989 e o Instituto Raoni em 2001.

“O presidente Lula e eu fazemos hoje, causa comum, por um dos nossos amigos. E essa terra que pertence a vocês, que é um tesouro de biodiversidade, mas também de povos indígenas que aqui nasceram, cresceram, tiveram sua tradição e eles têm uma arte de viver”, afirmou Macron.

Durante o evento, Lula se confundiu e errou o nome do presidente da França. O petista chamou Macron de Sarkozy –que esteve à frente do Palácio do Eliseu de 2007 a 2012.

Os presentes corrigiram o petista rapidamente e ele reformulou a frase: “Eu e o Macron vamos viajar para o Rio de Janeiro ainda hoje à noite”. Logo depois, Lula passou a fala para a presidente da Funai (Fundação dos Povos Indígenas), Joenia Wapichana. Macron discursou na sequência.

Investimento na Amazônia

Ainda no Pará, os presidentes lançaram o que Macron chamou de “apelo de Belém”. O programa terá € 1 bilhão para a Amazônia com recursos públicos e privados pelos próximos 4 anos. Os investimentos serão para o lado brasileiro e para o lado guianense.

Segundo a nota conjunta, o programa terá 5 pontos:

  • diálogo entre as administrações francesa e brasileira sobre os desafios da bioeconomia;
  • parceria técnica e financeira entre bancos públicos brasileiros, incluindo o Basa (Banco da Amazônia), o BNDES e a Agência Francesa de Desenvolvimento, presente no Brasil e na Guiana Francesa;
  • nomeação de coordenadores especiais para as empresas francesas e brasileiras mais inovadoras no campo da bioeconomia;
  • novo acordo científico entre a França e o Brasil, operado pelo Cirad (organização francesa de pesquisa agronômica e cooperação internacional) e pela Embrapa;
  • criação de um hub de pesquisa, investimento e compartilhamento de tecnologias-chave para a bioeconomia.

Cooperação militar

O 2º destino de Macron em terras brasileiras foi Itaguaí (RJ). Os 2 chefes de Estado participaram pela manhã da 4ª feira (27.mar) da inauguração do submarino Tonelero, parte do Prosub, programa de desenvolvimento de submarino desenvolvido por brasileiros e franceses.

Em seu discurso, Lula disse que se preocupa com a defesa do território brasileiro não porque deseja a guerra, mas porque quer paz.

Para o presidente brasileiro, há uma crescente “animosidade contra o processo democrático” no Brasil e no mundo. “A parceria que a França está construindo conosco é uma parceria que vai permitir que 2 países importantes, cada 1 em 1 continente, se prepare para que a gente possa conviver com essa diversidade sem nos preocupar com qualquer tipo de guerra. Nós somos defensores da paz em todo e em qualquer momento da nossa história”, disse o petista.

O Tonelero é o 3º submarino brasileiro a propulsão convencional e faz parte do Prosub (Programa de Desenvolvimento dos Submarinos), desenvolvido por Brasil e França. A parceria foi firmada em 2008, com orçamento de cerca de R$ 40 bilhões. A previsão inicial era que o submarino fosse colocado em operação em 2020.

O Tonelero pode ficar até 70 dias submerso, tem capacidade de 1.870 toneladas e chega a 250 metros de profundidade.

O ProSub visa a transferência de tecnologia francesa para a construção de embarcações nacionais, mas o Brasil ainda cobra mais cooperação em relação à tecnologia nuclear.

A primeira-dama do Brasil quebrou uma garrafa de espumante no casco do submarino em cerimônia realizada no Complexo Naval e Industrial de Itaguaí, no Estado do Rio de Janeiro.

Janja foi acompanhada até a embarcação pelo comandante da Marinha, almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen. “Eu te batizo submarino Tonelero. Que Deus abençoe esse submarino e todos os marinheiros que aqui navegarem”, disse a primeira-dama antes de quebrar a garrafa.

Assista (1min36s):

Acordo Mercosul-União Europeia

Depois do Rio, Macron seguiu para São Paulo –desta vez, sem Lula. O presidente da França participou nesta 4ª feira (27.mar) do “Fórum Econômico Brasil-França”, realizado na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), na capital paulista.

Lá, ele disse que não defende o acordo entre o Mercosul (Mercado Comum do Sul) e a UE (União Europeia). Classificou o acerto entre os 2 blocos como “péssimo”.

Segundo Macron, o atual acordo está sendo negociado há mais de 20 anos e não foi atualizado, para incluir, por exemplo, temas como o clima. Para ele, “precisa ser renegociado do zero”.

“O Mercosul é um péssimo acordo como ele está sendo negociado agora. Esse acordo foi negociado há 20 anos. Eu não defendo esse acordo. Não é o que queremos”, disse. “Deixemos de lado um acordo de 20 anos atrás e construamos um novo acordo, mais responsável, prevendo questões como o clima e a reciprocidade”, declarou.

Os países europeus, especialmente a França, expressam preocupação em relação às práticas ambientais no setor agrícola brasileiro, alegando que prejudicam o meio ambiente em busca de maior produtividade.


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