Lula disse que ‘vai dar o que o Maduro quer’ no referendo sobre Guiana, não na eleição presidencial

O que estão compartilhando: que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o resultado das eleições na Venezuela será o que Nicolás Maduro quiser.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Lula disse em entrevista em dezembro de 2023 que o resultado do referendo sobre a anexação do território do Essequibo à Venezuela seria provavelmente o que Maduro queria. O presidente brasileiro se referia especificamente ao referendo que ocorreria no mesmo dia da entrevista – 3 de dezembro – e não às eleições presidenciais na Venezuela. A postagem engana porque foi feita na mesma semana em que começou o prazo para registrar candidaturas às eleições venezuelanas, marcadas para 28 de julho.

Autor do post viral, o deputado federal Zé Trovão (PL-SC) foi procurado, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Lula disse que referendo sobre território na Guiana teria, provavelmente, resultado desejado por Maduro, não eleições na Venezuela. Foto: Reprodução/Instagram Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: A publicação investigada foi feita na conta oficial no Instagram do deputado federal Zé Trovão em 18 de março de 2024, três dias antes da abertura do registro de candidaturas para as eleições presidenciais venezuelanas, que começou nesta quinta-feira, 21. Já o vídeo utilizado pelo parlamentar na publicação é de quase quatro meses atrás, em 3 de dezembro de 2023.

Trata-se do trecho de uma fala de Lula durante entrevista coletiva na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-28), realizada em Dubai, nos Emirados Árabes. Durante a entrevista, um jornalista perguntou ao brasileiro sobre a situação da disputa pelo território na Guiana. A resposta de Lula é um pouco mais longa, mas o trecho que aparece no vídeo investigado é o seguinte:

“Veja, a Guiana, eu conversei por telefone com o presidente da Guiana (Mohamed Irfaan Ali) já duas vezes, o Celso (Amorim, assessor-chefe da Assessoria Especial da República) já foi à Venezuela conversar com o Maduro. Teve um referendo, acho que é hoje o referendo. Provavelmente, o referendo vai dar o que o Maduro quer, porque é… (riso) o chamamento ao povo pra aumentar aquilo que ele entende ser o território dele. Ele não acata um acordo que o Brasil já acatou”.

No mesmo dia da entrevista coletiva de Lula, venezuelanos participaram de um referendo convocado pelo governo de Maduro, cujo objetivo era aprovar a anexação do território do Essequibo. A área, de 160 mil quilômetros quadrados, corresponde a mais de 70% do território da Guiana e é alvo de uma disputa centenária, uma vez que é rica em petróleo e minerais.

Dos 10,4 milhões de venezuelanos que participaram da consulta, 95% aprovaram a reivindicação do território do Essequibo por parte da Venezuela.

Como já mostrou o Estadão, a Venezuela sempre considerou que o Essequibo lhe pertence e avançou sobre o rio de mesmo nome a partir de 1811, quando declarou independência da Espanha. Mas, em 1814, a Coroa Britânica assumiu o controle da região onde hoje é a Guiana e as fronteiras ficaram em aberto até 1899, quando um tribunal internacional decidiu que o território pertencia à atual Guiana.

Cinquenta anos depois, a Venezuela voltou a contestar o território e, junto com o Reino Unido, assinou o Acordo de Genebra em 1966 para buscar uma solução, mas não houve resultados concretos de lá para cá. No restante de sua fala, Lula disse que o Brasil acatou os dois acordos, já que faz fronteira com o território (no Pará e em Roraima), mas o mesmo não aconteceu com a Venezuela.

“Eles agora estão dizendo que não aceitam. Vamos ver agora no que vai dar. Eu acho que só tem uma coisa que o mundo não tá precisando. Só tem uma coisa que a América do Sul não tá precisando agora é de confusão. Se tem uma coisa que nós precisamos pra crescer e pra melhorar a vida do nosso povo é a gente baixar o facho, trabalhar com muita disposição de melhorar a vida do povo, e não ficar pensando em briga, não ficar inventando história. Então, eu espero que o bom senso prevaleça, do lado da Venezuela e do lado da Guiana”, completou.

Eleições na Venezuela estão marcadas para julho

Além de não explicar que a fala de Lula foi feita em dezembro do ano passado, o vídeo publicado pelo deputado federal engana porque leva os seguidores a acreditarem que Lula falava sobre as eleições venezuelanas, que está em evidência no momento atual, já que o prazo para registro de candidaturas acabou de começar.

No início de março, o governo de Nicolás Maduro anunciou que o pleito vai acontecer em 28 de julho deste ano. A data marca o aniversário do ex-presidente Hugo Chávez, que governou a Venezuela de 1999 até 2013, quando morreu de câncer. A autoridade eleitoral da Venezuela informou que a data foi acordada entre governo e oposição.

Apesar disso, não houve menção a candidaturas de oposição de maior destaque, como a de Maria Corina Machado, que foi declarada inelegível por 15 anos em janeiro deste ano após uma decisão judicial. Na época, ela descartou desistir da candidatura e, esta semana, criticou fala do presidente Lula sobre as eleições no país.

Já Maduro, que preside a Venezuela desde 2013, confirmou candidatura ao terceiro mandato e, se reeleito, ficará no poder até 2031.

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