O ditador Nicolás Maduro, nos últimos meses, criou uma polêmica com a Guiana, por causa da região de Essequibo. E, por interesses políticos e de manutenção no poder, retomou um debate que se arrasta há séculos.
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Um dos pontos mais debatidos diz respeito à grande quantidade de petróleo presente na região. Maduro classifica os contratos da Guiana com a empresa Exxon como ilegais. Ele tem a intenção de que a estatal petrolífera venezuelana (PDVSA) passe a explorar a área.
Há, no entanto, fatores tão ou mais importantes do que a questão petrolífera, conforme lembra a Oeste o professor Alejandro Villanueva Bustos, investigador social da Universidade Pedagógica Nacional da Colômbia.
Segundo ele, este território sempre foi disputado não somente pela existência de petróleo, mas por suas grandes reservas de biodiversidade.
“Há um grande e importante regime pluviométrico, abundância de recursos naturais e uma imensa capacidade genética de plantas e animais que ainda são desconhecidos, para que sejam utilizados em pesquisas e descobertas de medicamentos, por exemplo.”
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Em 1885, exploradores descobriram jazidas de ouro neste território, situado dentro da Floresta Amazônica. Por sua constituição geológica, trata-se de uma área exposta da crosta terrestre com muitos minerais cristalinos e rochas antigas, como diamantes e bauxita.
Desesperado para incorporar as riquezas da região, no fim do ano passado, o ditador venezuelano propôs uma lei para declarar a criação de um Estado em Essequibo. No último dia 4, ele promulgou esta lei, que anexa o território à Venezuela, o que aumentou a tensão com o país vizinho e com a comunidade internacional.
“Estas características fazem da região um local muito apetitoso para que a Venezuela a invada”, observa o professor.
Em relação à vasta biodiversidade local, a questão do petróleo se torna até secundária. Isto porque, justamente por ser um combustível fóssil, não renovável, de origem orgânica, há um limite para a exploração petrolífera. Essequibo, neste sentido, tem uma característica que possibilita a exploração de outras fontes alternativas e renováveis de energia.
“Temos que nos lembrar que hoje estamos falando sobre o petróleo verde, que é a biodiversidade, e obviamente a exploração do DNA de plantas, animais, flores e fauna deste setor, que fica a leste da Venezuela, é enorme.”
Questão de Essequibo remete a disputas entre Venezuela e Colômbia
A questão de Essequibo respinga também na própria relação da Venezuela com a Colômbia, ambas oriundas do Império Espanhol. A Guiana era uma colônia britânica na costa do norte da América do Sul e se tornou independente em 1966.
Desde antes da fundação dos dois países há disputas fronteiriças. Um exemplo, foi o longo período de indefinição de divisas exatas entre colônias de Santa Marta, atualmente a cidade de Santa Marta, na Colômbia, e de Nova Andaluzia, hoje uma província da Venezuela. Tensões eram constantes com a invasão de espanhóis, até a independência dos países.
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Mas a situação não ficou bem resolvida, com a Venezuela reivindicando algumas áreas da Colômbia. Em 1987, uma corveta colombiana, a ARC Caldas (FM-52) invadiu águas sob disputa de soberania.
O então presidente venezuelano Jaime Lusinchi mandou a Força Aérea se dirigir ao local, como resposta. Segundo Bustos, tal rusga foi apenas uma mostra de como a Venezuela se tornou rica em petróleo muito em função, conforme ele diz, de ter conquistado áreas da Colômbia, no chamado Golfo de Coquivacoa ou Golfo da Venezuela.
“Este golfo é um dos golfos onde estão as grandes reservas petrolíferas que hoje tem a Venezuela”, acrescenta o professor. “Então podemos afirmar que pode acontecer algo muito similar ao que aconteceu com a Colômbia, com o Golfo de Coquivacoa, com esta região de Essequibo.”
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