Inteligência artificial: da Bett Brasil, reflexões sobre essa tecnologia na educação

Se você atuou com educação entre 2022 e 2024 e continua envolvido com a sala de aula ou questões relacionadas à gestão , provavelmente ouviu falar da presença de inteligência artificial na rotina escolar. Essa tecnologia que já existe há algum tempo, já oferece aos professores e gestores painéis de visualização de dados ou algum nível de personalização de atividades em sala de aula. Recentemente, foi impulsionada com a chegada do ChatGPT e de outras plataformas de IA generativa, ganhando a atenção do público e, por consequência, ingressando no campo da educação de formas bem variadas. 

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Há aquelas pessoas que resolveram se engajar intensamente, buscando entender essas novas ferramentas e como elas se aplicam às suas práticas. Também há os mais cautelosos, que ainda estão dando os primeiros passos nessa jornada, até porque é sabido que o educador brasileiro ainda precisa desenvolver habilidades digitais para enxergar com mais clareza os benefícios que a integração de tecnologia pode proporcionar. 

A Bett Brasil 2024, um dos maiores eventos sobre tecnologia educacional da América Latina, trouxe para o debate diferentes maneiras de incluir IA na vida de professores, estudantes e escolas. O Porvir ouviu alguns empreendedores, educadores e especialistas presentes no evento e trouxe para trazer algumas reflexões e possibilidades de uso dessas ferramentas para auxiliar docentes nessa nova etapa tecnológica. 

Confira abaixo: 

Tanci Gomes, professora de ciência da computação na Cesar School

“Talvez a grande sacada seja como tornar o ChatGPT um aliado no processo de ensino e aprendizagem. Como eu consigo estruturar atividades que usem essa ferramenta para mobilizar e ampliar o conhecimento? Temos discutido que a sociedade está mais focada no currículo para o ensino de IA, mas quais são os conteúdos? Quais as habilidades que precisam ser desenvolvidas tanto na perspectiva do professor quanto do aluno?” 

“A inteligência artificial antes vinha encapsulada nas plataformas e o aluno não interagia diretamente com ela, pois estava projetada via código. Com a chegada dos chatbots, começamos a ter pequenas interações e depois tivemos os tutores personalizados até chegarmos à IA generativa. A grande diferença é que agora podemos construir conteúdos novos. Isso obviamente traz novas implicações, porque colocamos direto na mão do usuário final essa tecnologia e, como tudo, sempre há o lado bom e o ruim.” 

“Quando olhamos para a interação direta do aluno com a IA generativa, temos receio, por exemplo, de que ele vá colar ou cometer algum plágio. Mas veja, o plágio e o ato de colar não são méritos do ChatGPT. Os alunos já faziam isso de outras maneiras.” 

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“O professor precisa minimamente saber como esses sistemas funcionam, entender as limitações e o que podem esperar ou não dessas plataformas, se devem confiar ou não… Talvez a grande dor, ao olharmos para essas soluções de modo geral, é esquecer de formar o professor para que ele compreenda a tecnologia como uma extensão da cognição e como uma ferramenta de otimização de seu tempo.” 

Vera Cabral, diretora de educação na Microsoft Brasil 

“O nosso objetivo não é permitir que a inteligência artificial aprofunde as disparidades e abismos que temos entre os segmentos da nossa sociedade, muito pelo contrário. Temos várias estratégias para pensar em como democratizar a inteligência artificial e na educação isso é essencial” 

“Inteligência artificial e o que está expresso nesse conceito do Copilot – IA generativa da Microsoft – tem como pressuposto que ela trabalha a favor do humano e não para substituí-lo. A IA está aqui para aumentar a nossa eficiência, produtividade, criatividade e nos ajudar a ser melhor”

“A tecnologia não é alguma coisa só para quem trabalha no setor de tecnologia. Hoje, eu entendo a a tecnologia como uma linguagem; assim como falamos português, inglês ou usamos a matemática. Precisamos saber nos comunicar e usar esses recursos.” a gente precisa saber se comunicar e a gente precisa saber usar esse recursos.”

Wisley João Pereira, superintendente de Educação do SESI Nacional

“Não é possível fazer uma revolução educacional se a gente não compreender que a centralidade do processo está no professor. A inteligência artificial não irá substituir o professor nem o processo de ensino aprendizagem. Garantir a aprendizagem sem o professor é impossível.” 

Rafael Teodoro, representante do Canva 

“2022 e 2023 foram os anos da inteligência artificial, e agora alcançamos um ponto de estabilização. Apesar da rápida evolução, a educação há muito tempo demanda inovação, e nossos alunos já estão familiarizados com o conceito de IA, tanto para lazer quanto para uso fora da escola.” 

“Muitas escolas têm uma certa resistência e um desejo de impedir que os alunos acessem essas ferramentas, mas incentivamos que, ao invés de proibir, se busque moldar esse uso e conscientizar os alunos sobre como a IA pode ser utilizada de maneira educativa e acadêmica, preparando-os para um futuro permeado por essa tecnologia.”

“Nesse sentido, a educação precisa incorporar a inteligência artificial, especialmente para controlar um pouco essa narrativa. Muitas vezes as escolas têm certa aversão e uma vontade de não permitir que os alunos acessem essas ferramentas, mas nós encorajamos que ao invés de proibir, que se tente moldar esse uso e conscientizar os alunos de que pode é possível usá-las de uma forma educacional e até mesmo acadêmica, para ele se preparar para o futuro que vai ser cheio de inteligência artificial.“

Bruce Thompson, diretor de Educação da Microsoft para as Américas

“Acredito que o segredo para um professor incorporar a inteligência artificial em sala de aula reside na paixão e no entendimento profundo de como ensinar com ela. Aprender sobre IA é uma coisa, mas possuir a habilidade de definir o que elas são exige tanto técnica quanto arte. Os professores são os pilares das oportunidades que podem surgir, mas também podem ser os pontos vulneráveis onde o fracasso pode ocorrer. Por isso, é crucial que estejam sempre um passo à frente dos alunos na introdução dessa tecnologia em sala de aula, especialmente com a chegada da IA.” 

“O maior desafio ao trabalhar com IA é o primeiro passo: superar o medo e introduzi-la na sala de aula. Para os professores, o ideal é começar de forma simples, utilizando a IA em tarefas básicas, como pesquisas na internet. Incentivar os alunos a usá-la e entender como interagir com a tecnologia pode ser o primeiro passo para superar esse medo inicial. Uma vez que essa barreira seja ultrapassada, a integração da IA torna-se irreversível.”

Tiago Rached, sócio fundador da Letrus, plataforma de redação

“A inteligência artificial nos permite enxergar cada estudante de maneira única, possibilitando a criação de um perfil e uma identidade individualizada. Essa profundidade e precisão nos permitem aprimorar tanto o processo de aprendizado do estudante quanto a metodologia de ensino dos professores. Em São Paulo, iniciamos essa jornada com um olhar atento para as aprendizagens e a evolução da escrita. Hoje, já incorporamos a inteligência generativa em nossa tecnologia, mantendo sempre o foco no indivíduo.

No final do dia, buscamos proporcionar uma experiência significativa e envolvente. Com a evolução rápida da tecnologia e a introdução da inteligência generativa, estamos levando essa experiência para algumas escolas específicas. Entendemos que essa inteligência não é apenas uma questão de dados, mas sim uma ferramenta com potencial único. Ela nos permite construir uma identidade e estabelecer uma conexão. Quando temos uma IA que possibilita uma conversa positiva, segura e ao mesmo tempo afetiva com o estudante, perguntando sobre seus sonhos, projetos e pessoas que admira, estamos permitindo que ele construa sua própria identidade. Isso é algo que um enunciado frio, massificado e pesado tem dificuldade de fazer.”

Fabio Campos, educador e pesquisador na New York University (EUA)

“A melhor maneira de levar inteligência artificial generativa é experimentá-la dentro da sala dos professores antes de levá-la para os alunos. Isso gera uma necessidade ainda maior de checar tudo o que a máquina diz para você fazer. Sobre planos de aula [feitos por IA], tenho pé atrás. Todos aqui nesta sala sabem que você não cria um plano de aula da cabeça, há formas e várias filosofias para pensar o plano de trás pra frente. O que eu quero que o aluno aprenda? Atividade, prova, jogo… São as últimas coisas que você faz. Educadores queimam etapas pedindo planos de aula sem garantir que aquela questão responde seu objetivo de aprendizagem.”

Ivan Claudio Pereira Siqueira, coordenador do bacharelado interdisciplinar em Humanidades da Universidade Federal da Bahia

“Acompanho de perto estudos de outros países e, entre as preocupações [sobre IA na educação], mostra-se o encolhimento na capacidade de fazer perguntas. Perguntas têm de ter dimensão, conexão com o problema. Um estudo da Alemanha diz que o uso dessas ferramentas sem elaboração durante o período inicial de formação educacional pode afetar o desenvolvimento cognitivo das crianças. Essa é uma possível consequência, sobretudo do ponto de vista conectivo. Por isso, o fato mais importante nesse universo é saber perguntar. Perguntas precisam de elaboração, de análise e avaliação.”

Foto: kovop58@gmail.com / DepositPhotos



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