Haiti cada vez mais perto de “um real genocídio”

Padre em Porto Príncipe alerta

Um carro queimado serve de barricada em uma rua de Porto Príncipe. Foto UN NewsUm carro queimado serve de barricada em uma rua de Porto Príncipe. Foto UN News Um carro queimado serve de barricada numa rua de Porto Príncipe. Foto © UN News

 

O Haiti corre o risco de assistir a “um real genocídio da sua população”. É um alerta deixado pelo padre Henry Marc Siméon, diretor do gabinete de comunicação da Arquidiocese de Porto Príncipe, a capital do país. Numa entrevista à ACI Prensa, o presbítero relata a situação dramática vivida na nação caribenha e pede apoio à comunidade internacional.

“O povo [do Haiti] que hoje está a pedir ajuda precisa que homens e mulheres de boa vontade de todos os países venham em seu auxílio para nos ajudar, para sairmos desta situação em que estamos a viver”, afirma o padre, citado pela Catholic News Agency.

Siméon recorda ainda os múltiplos apelos que o Papa tem feito à paz e ao apoio ao povo do Haiti. Em particular, no passado dia 28 de abril, durante a recitação do Regina Caeli, em Veneza, Francisco orou “para que o Deus da paz ilumine os corações, para que cresça em todos a vontade de diálogo e de reconciliação”.

“Há quem diga que hoje Porto Príncipe se tornou um cemitério a céu aberto. Anda-se pela rua no meio de cadáveres. Não há um dia em que, se andarmos pelo centro da cidade, não nos deparemos com cadáveres de pessoas cuja identidade e origem desconhecemos e cujas famílias, por vezes, não lhes podem dar um enterro decente”, relata também Siméon.

A situação no Haiti, que o 7MARGENS tem vindo a acompanhar, é cada vez mais complexa. Gangues armados espalham violência pela capital do país, o primeiro-ministro Ariel Henry demitiu-se do cargo no passado dia 25 de abril, tendo sido substituído interinamente por Michel Patrick Boisvert e, segundo as Nações Unidas, “quase 5 milhões de haitianos estão a passar fome e precisam de assistência alimentar”.

Pelo menos 360 mil pessoas tiveram de abandonar as suas casas no último ano, sendo que mais de metade delas se localizavam em Porto Príncipe ou em bairros limítrofes. Estima-se que este número ultrapasse as 400 mil nos próximos meses, segundo dados do Escritório Internacional de Migrações da ONU, citados pelo The New York Times.

Calcula-se que cerca de 200 gangues operem atualmente no Haiti, refere a mesma fonte, oscilando estes entre pequenos grupos compostos por algumas dezenas de jovens munidos de pistolas a grupos armados de cerca de 1.500 homens com salários semanais pagos pelas organizações hierárquicas a que pertencem.

“Não podemos sair da capital para ir para outro distrito do país sem passar por um ponto controlado pelos bandidos. Temos de pagar portagens”, refere o padre Siméon. “Em várias ocasiões, membros de gangues raptaram religiosos e religiosas”, observa também.

O clérigo salienta ainda o esforço que a Igreja Católica haitiana está a desenvolver junto dos jovens para que estes compreendam “o que está a acontecer e percebam a necessidade de trabalhar em conjunto para acabar com a violência”. “Há muitas iniciativas através das quais apoiamos os jovens e os ajudamos a compreender a realidade da violência, a segurança e o impacto que esta violência tem no país e nas suas próprias vidas e futuro”, acrescenta.

Por seu lado, Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, participou recentemente num colóquio internacional sobre o país caribenho organizado pela Academia de Líderes Católicos, afirmando que “a situação dramática no Haiti requer a atenção de todos”.

No encontro, intitulado “Prioridades para a região e uma agenda para a sua transição”, realizado em formato digital, Parolin disse também que “não se deve poupar esforços para apoiar os caminhos que visam conduzir o país à realização de eleições democráticas que lhe darão as autoridades e instituições necessárias para iniciar o processo de reconstrução”. A Igreja católica, observou Parolin, também “é chamada a acompanhar a transição à sua maneira, com o exemplo de tantos homens e mulheres que, com as mãos e com o coração, estão a dar as suas vidas ao serviço dos outros, contribuindo para a solidez dos valores do Evangelho. Eles podem servir para humanizar as decisões e os passos que aproximam a tão desejada mudança”, afirmou Parolin citado pelo Vatican News, portal de notícias do Vaticano.

Segundo o Banco Mundial, o Haiti é a nação mais pobre da América Latina e das Caraíbas. O país já enfrentou diversas crises humanitárias no passado, como sejam os dois fortes sismos que o abalaram em 2010 e 2021 e a tempestade Grace que o sacudiu também nesse ano.

 

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