Há 70 anos, ditadura militar era instaurada no Paraguai

Regime de Alfredo Stroessner durou 35 anos; o general se exilou no Brasil depois de deixar o poder

Em 4 de maio de 1954, o general Alfredo Stroessner ascendeu ao poder do Paraguai por meio de um golpe de Estado e assumiu um comando ditatorial no país. O regime só chegou ao fim 35 anos depois, em 1989. Foi um dos regimes militares mais longos da América do Sul.

Ao assumir a presidência, Stroessner depôs Frederico Chávez, então presidente paraguaio. Ambos eram do mesmo partido, o Colorado, o qual seguiu no poder até 2008 e retornou em 2013. O governo do militar, assim como outras ditaduras sul-americanas, foi marcado por repressão política, abuso de autoridade e perseguição a opositores. 

De acordo com dados da Comissão da Verdade e Justiça do Paraguai, mais de 19.000 pessoas foram presas, 18.000 torturadas, e ao menos outras 20.800 forçadas ao exílio. Além disso, mais de 450 pessoas desapareceram ou foram executadas durante os 35 anos da ditadura de Stroessner. 

Enquanto o ditador comandou o país, o Partido Colorado monopolizou o poder político do Paraguai. Apesar de ter havido eleições durante todo o regime militar, os pleitos muitas vezes eram manipulados para que opositores não obtivessem votos. Além disso, o voto não era secreto, o que permitia que agentes do governo fiscalizassem as cédulas de votação e coagissem eleitores. 

Desta maneira, o presidente conseguiu estabelecer pleno domínio das instituições políticas do país, o que também desencadeou um período de corrupção e nepotismo no governo paraguaio. O regime de Stroessner também teve um foco considerável no desenvolvimento econômico do país, em especial nas áreas de agricultura e infraestrutura, além do incentivo a investimentos estrangeiros. 

Uma das principais construções durante o período foi a usina de Itaipu, em parceria com o governo brasileiro, à época também sob uma ditadura militar governada por Emílio Médici. O tratado, assinado em 1973, estabeleceu os termos e condições para a construção e operação da usina hidrelétrica binacional entre os países. Foi visto como um exemplo de cooperação e integração regional na América do Sul. 

Outra construção bilateral importante realizada durante a ditadura paraguaia foi a Ponte Internacional da Amizade, que liga Foz do Iguaçu a Ciudad del Este, passando sobre o rio Paraná. Assinado em 1956 durante a presidência de Juscelino Kubitschek, a ponte foi recordista mundial como a ponte de concreto armado e arco engastado com o maior vão, de 290 metros de comprimento. A construção foi inaugurada em 1965, no governo militar de Castelo Branco.

O regime de Alfredo Stroessner teve fim em 3 de fevereiro de 1989. Depois de ser deposto por outro golpe militar liderado pelo general Andrés Rodríguez, responsável pela transição democrática no país. Stroessner, então, exilou-se no Brasil. 

Ele foi recebido pelo então presidente brasileiro José Sarney e recebeu asilo político do governo brasileiro. Stroessner permaneceu exilado em Brasília até sua morte. O ex-ditador morreu em agosto de 2006, aos 93 anos.

ARQUIVOS DO TERROR & OPERAÇÃO CONDOR

Nas décadas de 1970 e 1980, houve uma grande articulação para ampliar o combate a opositores e subversivos na América do Sul. Essa articulação recebeu o nome de Operação Condor e contou com a participação de Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Bolívia, Uruguai, sendo também apoiada pelos Estados Unidos. A operação envolveu operações de inteligência e assassinato de opositores políticos exilados em outros países.

“A Operação Condor, formalizada em reunião secreta realizada em Santiago do Chile no final de outubro de 1975, é o nome que foi dado à aliança entre as ditaduras instaladas nos países do Cone Sul na década de 1970 —Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai— para a realização de atividades coordenadas, de forma clandestina e à margem da lei, com o objetivo de vigiar, sequestrar, torturar, assassinar e fazer desaparecer militantes políticos que faziam oposição, armada ou não, aos regimes militares da região”, descreveu a Comissão Nacional da Verdade do Brasil, órgão temporário ligado ao governo que encerrou as atividades em 2014.

Os “Arquivos do Terror”, como ficaram conhecidos os documentos recuperados em 1992 sobre a ditadura militar paraguaia, tornaram-se uma das evidências mais importantes sobre a Operação Condor. Os documentos que reúnem registros das operações de inteligência, tortura, prisão e assassinato realizadas pelos serviços de segurança do regime de Stroessner serviram de provas em diversos julgamentos a respeito das repressões da época. 

Os arquivos continham informações detalhadas sobre milhares de pessoas que foram alvo do regime, incluindo ativistas políticos, dissidentes, sindicalistas, estudantes e outros considerados uma ameaça ao governo. Os registros estão disponíveis para consulta pública on-line e no Museu da Justiça, em Assunção. 


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