Há 20 anos, o Cienciano foi o “campeão dos campeões” da América do Sul diante do forte Boca Juniors

O ano de 2004 foi mesmo o da zebra. Aproveitando o hype da disputa da Recopa Sul-Americana, que este ano ficou com o Fluminense, a Trivela conta a história do Cienciano, do Peru, campeão da segunda edição da Copa Sul-Americana em 2003, enfrentou nada mais nada menos do que o Boca Juniors, campeão da Libertadores do mesmo ano.

Em confronto disputado nos Estados Unidos no dia sete de setembro de 2004, o Cienciano chocou a América do Sul ao desbancar o poderoso time do Boca, comandado por Miguel Ángel Brindisi, que tinha em seu ataque Tévez e Palermo, em decisão nos pênaltis, após empate por 1 x 1 no tempo normal. Vamos voltar um pouco antes na história e falar das campanhas de ambos os times em suas respectivas competições continentais e saber porque peruanos e argentinos disputaram a Recopa no ano mais louco da história do futebol.

Cienciano desbanca o River Plate e leva a Sula

A Copa Sul-Americana de 2003 foi a segunda edição da competição e a primeira a ser disputada com equipes brasileiras. O Brasileirão teve 12 representantes na competição continental, divididos em quatro grupos com três times. Os líderes de cada chave avançavam para a fase seguinte. O país do campeão, o Peru, teve como representantes do Alianza Lima e o Cienciano. Os times se enfrentaram na fase preliminar do torneio e La Furia Roja levou a melhor vencendo os dois jogos da eliminatória pelo placar de 1 x 0.

Na terceira fase, o Cienciano proporcionou a primeira grande surpresa daquela competição ao bater a Universidad Católica do Chile. No jogo de ida, no Peru, La Furia venceu facilmente pelo placar de 4 x 0, se aproveitando muito bem da altitude de Cusco, há quase 3.400 metros acima do nível do mar. Na volta, em Santiago, um leve sufoco, derrota para os chilenos pelo placar de 3 x 1, mas a vantagem do primeiro jogo era muito grande e os peruanos seguiram em frente.

Nas quartas de final, mais uma surpresa. O adversário do Cienciano foi o Santos, de Robinho, Diego e companhia. No jogo de ida, empate em plena Vila Belmiro pelo placar de 1 x 1 e na volta, mais uma vez a altitude fez a diferença em favor do time peruano, que venceu por 2 x 1 e desbancou mais um gigante sul-americano. Naquele momento, a imprensa da época já não considerava mais o Cienciano como uma surpresa, e sim um time organizado e muito competente com a bola no pé.

Treinado por Freddy Ternero, La Furia Roja tinha um ataque de respeito, formado pelo colombiano Rodrigo Saraz, que rodou por vários outros times do Perú como o Sport Boys, Coronel Bolognesi e Universidad Cesar Vallejo; e Germán Carty, outro jogador importante da história do futebol peruano, com passagens por Alianza Lima, Deportivo Coopsol e pelo Atlante, do México. Foram de Carty os dois gols do time peruano diante do Santos, na vitória histórica nas quartas de final daquela Sul-Americana.

Nas semifinais, o Cienciano, já acostumado a derrubar os gigantes, teve como próxima vítima o Atlético Nacional, da Colômbia. Dessa vez, sem sustos, com duas vitórias nos dois jogos – um 2 x 1 em pleno Estádio Atanasio Girardot, em Medellín, e depois 1 x 0 em Cusco. Com a classificação garantida para a final, a cidade respirava a possibilidade de ficar com o título pela primeira vez.

O mais próximo que um time do Peru havia chegado de um título continental foram os dois vice-campeonatos da Libertadores, sendo em 1972, quando o Universitario perdeu o título para o Independiente da Argentina, e em 1997, quando o Cruzeiro de Paulo Autuori desbancou o bom time do Sporting Cristal. Mas o momento em 2003 era diferente. O Cienciano já fazia história por conquistar a vaga para a decisão, mas queria mais e não se intimidou diante do todo-poderoso River Plate.

A equipe argentina, comandada por Manuel Pellegrini, tinha um verdadeiro timaço, com craques do naipe de Marcelo Salas, Gallardo, Maxi López e Lucho González. Nem o elenco de alta qualidade intimidou o corajoso Cienciano, que fez valer a sua alcunha de La Furia.

No jogo de ida, em Buenos Aires, Portilla abriu o placar para os peruanos, Maxi López deixou tudo igual e depois virou o jogo em favor dos argentinos. Germán Carty empatou novamente o jogo e o ótimo lateral-esquerdo Portilla colocou os peruanos em vantagem de novo, não fosse pelo gol salvador de Salas no final do segundo tempo e o Cienciano teria calado ainda mais o Monumental de Núñez.

No confronto da volta, mais de 45.000 pessoas lotaram o Estádio Monumental Universidad de San Agustín, em Arequipa, e puderam testemunhar a história sendo escrita.  Aos 33 minutos do segundo tempo, o zagueiro Lugo foi para o barbante, marcando o único gol do jogo, tento este que confirmou o título de uma equipe ousada, forte defensivamente e com um ataque letal. Pouco tempo depois, este mesmo time iria calar a outra grande torcida de Buenos Aires, a do Boca Juniors.

Boca leva vantagem sobre os Meninos da Vila e conquista a América

O time do Boca que disputou a Recopa Sul-Americana em 2004 era um pouco diferente da lendária equipe que faturou a Libertadores um ano antes. A começar pelo banco de reservas, comandado em 2003 por Carlos El Brujo Bianchi. Na fase de grupos da competição continental, o time Xeneize caiu na chave 7, ao lado do Independiente de Medellín, do Barcelona de Guayaquil e do Colo-Colo. O clube de Buenos Aires conquistou três vitórias, dois empates e sofreu apenas uma derrota, passando em segundo lugar no grupo com 11 pontos.

Nas oitavas de final a grande surpresa daquela competição, o Paysandu de Belém do Pará, que em 2002 faturou a extinta Copa dos Campeões e conquistou o direito de disputar a primeira e única Libertadores de sua história. Na ida em Buenos Aires, Iarley calou a Bombonera e fez o gol da vitória do Papão. Na volta, em pleno Mangueirão, o time Xeneize mostrou a sua maior experiência em competições deste nível e desbancou a equipe brasileira com um placar convincente de 4 x 2, destaque para a exibição brilhante de Schelotto, autor de três gols.

Na sequência da competição, o Boca Juniors desbancou o Cobreloa do Chile após duas vitórias pelo placar de 2 x 1. Já na semifinal, os comandados de Carlos Bianchi não tiveram piedade do América de Cali, vencendo os dois jogos, sendo 2 x 0 na ida e 4 x 0 na volta. Na decisão, o adversário do time Xeneize seria o mesmo Santos de Robinho, Diego, Elano, Renato e companhia, e, mais uma vez, a experiência do time argentino prevaleceu sobre a habilidade e juventude.

No primeiro jogo, disputado em Buenos Aires, o Peixe bem que tentou, mas não conseguiu furar a boa marcação do Boca, que foi eficiente nas chances que criou, marcou dois gols e venceu pelo placar de 2 x 0 na Argentina. Em seguida, o Morumbi lotado, palco de outras conquistas do Boca Juniors, foi mais uma vez o local que presenciou a categoria e malemolência do futebol argentino. Na base do toco y me voy, o Boca foi superior, venceu pelo placar de 3 x 1 e conquistou a terceira Libertadores em um prazo de quatro anos, já que tinha sido bi-campeão da competição em 2000 e 2001.

Peruanos aproveitam mudanças no time Xeneize e faturam a Recopa Sul-Americana

Boca Juniors e Cienciano mudaram algumas peças antes da disputa da Recopa Sul-Americana de 2004, contudo, o time peruano manteve a espinha dorsal de sua equipe, que ainda contava com Germán Carty no comando de ataque e Saraz como suplente de Mostto, que havia assumido o posto no setor ofensivo. Do outro lado, o time Xeneize, treinado por Brindisi, já não tinha mais Schelotto e Delgado, mas ainda sim contava com um time de respeito, formado por Palermo e Tévez.

O ex-ídolo do Corinthians inclusive abriu o marcador da final da Recopa diante dos peruanos, aos 33 minutos do primeiro tempo. Parecia que o título da competição ficaria em Buenos Aires, até que Saraz saiu do banco de reservas e aos 44 minutos da etapa complementar deixou tudo igual no Estádio Lockhart. Nos pênaltis, o Cienciano mostrou a frieza costumeira dos argentinos, que não tiveram a mesma sorte.

Ibarra, Lobatón, Portilla e Acasiete converteram todas as cobranças do time peruano, enquanto somente Schiavi e Palermo marcaram para o time argentino. Festa do povo peruano em Cusco e incredulidade do lado Xeneize, que assim como o River Plate um ano antes, sofreu com ótimo Cienciano, campeão dos campeões da América no ano mais louco da história do esporte bretão.

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