Guiné-Bissau tem de “lavar a cara” antes de assumir presidência da CPLP

Higino Cardoso, ex-governante guineense, diz que, depois da experiência na presidência da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a Guiné-Bissau poderá assumir com dignidade e sem sobressaltos a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

No entanto, o país “terá de se organizar” para esse efeito, acrescenta Higino Cardoso: “É preciso, de facto, haver alguma disponibilidade em termos de organização, em termos de pessoas que vão assumir essa responsabilidade”.

Acima de tudo, a Guiné-Bissau tem de “lavar a cara”, ou seja, “limpar a sua imagem perante o mundo”, adianta ainda o cidadão guineense, “para que todos se sintam confiantes de que há um país que assume a presidência da CPLP na perspetiva de que tudo irá funcionar bem.”

“Boa vontade”

A investigadora e escritora guineense Odete Semedo refere que “o país tem quadros qualificados e jovens motivados”. Assumindo a presidência da CPLP, “tudo dependerá da boa vontade das pessoas que estão a dirigir o país”, adianta.

“Se a pessoa que estiver à frente do país se redimir e entender que é hora de mudar, é hora de dar uma chance à Guiné-Bissau diante dos seus congéneres, diante dos países com quem lutou pela independência, eu acho que sim, que nós estaremos em condições de trabalhar na CPLP”, argumenta.

Por um lado, para impulsionar o acordo de mobilidade, incentivando a livre circulação de pessoas e bens. Por outro, para partilhar produções e saberes científicos.

A ex-governante defende que a presidência da Guiné-Bissau da CPLP deve escolher como lema o “empoderamento das mulheres”, uma vez que São Tomé e Príncipe decidiu apostar na juventude e sustentabilidade.

“A mulher e a resiliência, o empoderamento das mulheres, que passa por aquilo que Amílcar Cabral já dizia: resistência”, diz.

“Combate à corrupção como uma prioridade”

Karina Carvalho, diretora executiva da Transparência Internacional-Portugal (TI-P), sustenta que a Guiné-Bissau deve igualmente encarar como prioridade o combate à corrupção e branqueamento de capitais nos países da CPLP.

“Países como a Guiné Equatorial ou a Guiné-Bissau apresentam resultados péssimos no Índice de Perceção da Corrupção (CPI)”, recorda. Por isso, a expetativa “é que, depois de São Tomé e Príncipe, a Guiné-Bissau, assumindo a presidência da CPLP, também assuma o combate à corrupção como uma prioridade”, afirma.

De acordo com o último relatório do Índice de Perceção da Corrupção da Transparência Internacional, a Guiné-Bissau encontra-se na 164ª posição, bastante abaixo da tabela global. Apenas Portugal e Cabo Verde se encontram em lugares cimeiros, acrescenta Carvalho.

“Se olharmos para os resultados do ano passado, vimos que, no seu conjunto, os países que integram a CPLP apresentam uma pontuação média muito baixa. É por isso que a TI-Portugal e outras organizações da sociedade civil dos Estados-membros da CPLP vêm pedindo que a agenda da comunidade inscreva o ataque à corrupção como uma prioridade”, defende.

O apelo vem também de Higino Cardoso, que critica a falta de resultados palpáveis no plano do combate à corrupção por parte das autoridades guineenses: “Porque fala-se muito na corrupção, mas nunca se vê alguém que tenha sido julgado e condenado por corrupção, quer seja ativa quer passiva. Nunca vi.”

Em agosto, o procurador-geral da República, Bacari Biai, prometeu na sua tomada de posse que será implacável no combate à corrupção, tráfico de droga e branqueamento de capitais, entre outros tipos de criminalidade.

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