Em maio prevê-se uma situação muito invulgar nestas zonas de Portugal, segundo os mapas da Meteored

A precipitação convectiva ganha terreno nesta altura específica da primavera em Portugal continental, com aguaceiros potencialmente fortes e acompanhados de trovoada.
Alfredo Graça

Alfredo Graça 8 min

O início de maio está a ser marcado por uma grande variabilidade de estados de tempo em Portugal continental – primeiro muito frio, chuva, neve, granizo e trovoadas e depois estabilidade e calor – uma situação que, aliás, é típica desta estação do ano. De momento, ainda não houve nenhum episódio de calor muito intenso para esta altura do ano. Poderá isto mudar em breve?

O modelo de referência da Meteored acaba de atualizar a sua previsão para este mês de maio e traz algumas novidades importantes. De acordo com os mapas mais recentes, observa-se um razoável contraste térmico entre as regiões do litoral e as regiões do interior. Olhando para as regiões do interior, denota-se aí as anomalias térmicas positivas mais significativas à escala do Continente, isto é, temperaturas entre 1 e 1.5 ºC acima da média climatológica de referência.

Tal verifica-se nos distritos de Vila Real, Bragança, Guarda e Portalegre (na totalidade); e nas metades orientais dos distritos de Viseu, Castelo Branco, Santarém, Évora e Beja (parcialmente). O único distrito com litoral onde também se prevê uma anomalia comparável às regiões do interior (até 1.5 ºC superiores ao normal) – Faro – apresenta esse valores na zona do Sotavento Algarvio, sendo que no Barlavento a anomalia é ligeiramente mais suave (até 1 ºC acima da média).

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Segundo o modelo Europeu as anomalias mais significativas concentrar-se-ão maioritariamente nas regiões do interior de Portugal continental.

Para as regiões do litoral (Minho, Douro Litoral, Regiões de Coimbra, Aveiro, Leiria, Lisboa e Península de Setúbal, Litoral Alentejano e Barlavento Algarvio), bem como para as metades ocidentais dos distritos de Viseu, Castelo Branco, Santarém, Évora e Beja observa-se uma anomalia térmica positiva mais suave, ou seja, temperaturas entre 0.5 e 1 ºC superiores ao habitual.

No arquipélago da Madeira e nas ilhas mais orientais dos Açores preveem-se temperaturas até 1.5 ºC acima da média, enquanto nas ilhas açorianas mais a oeste (Corvo, Flores, Faial) e zonas do Pico, São Jorge e Graciosa esperam-se anomalias mais suaves (0.5 a 1 ºC).

Nesta altura do ano, a temperatura do mar ainda é relativamente fresca e as brisas têm uma certa força, pelo que, para além da situação ocasional de ventos terrestres, não costuma estar muito calor na costa.

Isto não significa que durante todo o mês de maio as temperaturas estejam persistentemente elevadas para a estação. De facto, os mapas apostam numa corrente de jato polar bastante ondulante, com alternância de cristas de ar quente e de descargas de ar frio.

Por exemplo, nesta próxima semana de 13 a 20 de maio os modelos já estão a antecipar um período mais frio do que o normal de norte a sul de Portugal continental (entre 1 e 3 ºC abaixo da média), com o calor anómalo a manter-se apenas nos arquipélagos.

Haverá chuva abundante nas próximas semanas?

Quanto à precipitação, o desaparecimento da seca meteorológica no final de março em toda a geografia do Continente foi sem dúvida uma excelente notícia. Porém, a precipitação intermitente de abril e do início de maio, agravou as necessidades de água de algumas regiões (as que estão a sul do Tejo – mais secas e com escassez de precipitação) face ao Noroeste (muito mais húmido e com abundância de água) devido à sua distribuição irregular e desigual pelo nosso território.

chuva maio
A semana de 13 a 20 de maio poderá ser chuvosa nas regiões a norte do rio Tejo graças à provável aproximação de alguma depressão ou bolsa de ar frio.

Este facto remete para a suma importância que a precipitação tem para as zonas mais meridionais, algumas delas com barragens ainda em alerta no que concerne ao nível de armazenamento da água (Algarve, o caso mais proeminente).

É importante recordar que o verão climatológico, que tem início a 1 de junho, já está “ao virar da esquina” e é na estação estival que estas regiões mais necessitam de água para suprir as necessidades de consumo de água para os mais diversos fins (uso doméstico, setor energético, atividades agrícolas, de lazer e turismo, entre outras).

Como referido várias vezes aqui na Meteored, em maio começa a predominar a precipitação convectiva (aguaceiros e trovoadas), normalmente mais intensa do que a precipitação frontal, mas também mais irregular e de curta duração. Por este motivo, é muito difícil fazer previsões a longo prazo para um local específico, pelo que apenas se pode falar em tendências.

Apesar da estabilidade prevalecer em praticamente todo o país nos próximos dias, é possível que ocorram aguaceiros e trovoadas neste fim de semana de 11 e 12 de maio devido à passagem de algumas perturbações. Além disso, os mapas mostram que, no período de 13 a 20 de maio, a precipitação será superior aos valores médios para as datas nas regiões a norte do rio Tejo. Será dentro dos valores normais na Madeira e inferior ao habitual nos Açores.

tempo em maio portugal padrão
Para a segunda quinzena de maio perspetiva-se um padrão de bloqueio ou NAO+.

Rumo a um padrão de bloqueio ou NAO+

Para o resto da geografia do Continente, não se observam, de momento, anomalias significativas, pelo que há que esperar para especificar outras zonas que possam ser afetadas por trovoadas.

Em relação à segunda quinzena, vislumbra-se a possibilidade de um padrão de bloqueio ou NAO+, de modo que, para além de algumas frentes nas regiões mais a norte (sobretudo a oeste da Barreira de Condensação), a precipitação dependeria da possível passagem de perturbações ou depressões isoladas em altitude – estas últimas conhecidas mais vulgarmente por gotas frias.

A priori, este cenário é pouco otimista para as regiões mais carentes de água, isto é, as que estão situadas a sul do Tejo, com especial destaque para o Algarve.

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