Em dois sentidos, as boas-vindas de Larcamón a Milito no Brasil | blog do rodrigo coutinho

Ainda não foi desta vez que o Atlético venceu o seu maior rival dentro da Arena MRV. A decepção da torcida do Galo é multiplicada pelo fato de ter visto o time controlar totalmente a 1ª etapa. Fruto de uma ”deformação” causada por mexidas de Nicolás Larcamón no Cruzeiro. O argentino reajustou a Raposa no intervalo, e mostrou a Gabriel Milito o nível de duelo tático que podem ter em Minas Gerais.

Parecia uma estreia perfeita para o novo comandante atleticano. Sua equipe poderia ter ido para o vestiário com uma mão na taça, tamanha a superioridade e o sucesso da estratégia inicial, mas a defasagem coletiva entre os arquirrivais apareceu na facilidade com o que o Cruzeiro transformou o cenário em campo. Foi muito superior na 2ª etapa e buscou o empate nos acréscimos.

Gabriel Milito confirmou o esquema com três zagueiros em sua estreia. Lemos, Bruno Fuchs e Jemerson foram os escolhidos. Zaracho voltou ao time depois de quase dois meses. Igor Gomes e Battaglia completaram o meio. Gustavo Scarpa foi para o banco.

Nicolás Larcamón surpreendeu ao escalar também três homens no miolo defensivo, basicamente ”espelhando” o posicionamento adversário. Villalba entrou na zaga e Marlon atuou como ala, assim como William pela direita. Machado foi outra novidade no meio-campo. Lucas Silva e Mateus Vital foram para o banco. Dinenno retornou e Rafael Elias também iniciou entre os reservas.

Como Atlético e Cruzeiro iniciaram o primeiro jogo da final do Mineiro 2024 — Foto: Rodrigo Coutinho

Nem nos melhores sonhos de Gabriel Milito o Atlético faria uma 1ª etapa tão eficaz no seu debute no clube. Em 53 minutos de futebol na Arena MRV, o Galo foi pouquíssimo ameaçado pela Raposa, construiu uma vantagem de dois gols, e poderia ter feito mais antes do intervalo. Paulinho e Jemerson perderam grandes chances após Bruno Fuchs e Hulk balançarem as redes.

É verdade que o lindo tento de Fuchs, em jogada invidual após rebote de escanteio, logo aos sete minutos, não teve relação com a desordem cruzeirense em campo. Aconteceu dentro da dose de aleatoriedade de qualquer jogo de futebol, mas antes mesmo do lance já era possível perceber as dificuldades celestes.

A mais gritante delas aparecia no encaixe de marcação. Começava no primeiro combate. Bruno Fuchs atraía a pressão de Dinenno, e a linha de passe para Jemerson não era fechada. O zagueiro conduzia e atraía algum cruzeirense, que por sua vez abandonava o combate a um companheiro de Jemerson. O lado esquerdo era o mapa para sair jogando e superar essa tentativa rival de marcar alto.

Logo o setor de um dos jogadores mais talentosos do time. Guilherme Arana tabelou com Zaracho antes da linda enfiada de bola para Hulk driblar Rafael Cabral e marcar. Além desse lance, iniciou outros bons ataques do Galo, sempre recebendo de Jemerson e contando com apoios de Zaracho, o meia-esquerda da equipe.

Atlético-MG x Cruzeiro — Foto: Pedro Souza / Atlético-MG

Paulinho e Hulk, funcionando como dupla de ataque, se mexiam livremente, e levavam a loucura o trio João Marcelo, Neris e Villalba. Desabituados a atuarem a juntos, não tinham a menor coordenação para coberturas e a correta ocupação de espaços. Foram batidos constantemente, evidenciando o equívoco da opção.

Com a bola, por mais que houvesse atitude ofensiva e intensidade nos movimentos, o Cruzeiro também tinha problemas. O conjunto já memorizado pelas peças na maioria dos jogos da temporada foi alterado. Marlon se postava muito adiantado pela esquerda, já que Villalba ganhava liberdade para avançar pelo setor. Não conseguia ser acionado, preso no encaixe de marcação de Saravia.

Matheus Pereira voltava para auxiliar Romero e Machado na distribuição dos passes, mas a bola não andava. Em outros momentos se postava mais a frente, e contava com a dura marcação de Battaglia na maioria das vezes. Dinenno foi o jogador do sistema ofensivo a conseguir mais vantagens. Sofreu duas faltas na entrada da área, mas o camisa 10 não foi preciso na batida.

Arthur Gomes, que costuma ser um problema para as defesas rivais bem aberto pela esquerda, tinha que trabalhar mais pelo meio, perto de Dinenno, sem espaço para receber de costas, facilmente acossado por Lemos. William esteve muito isolado pela direita. Romero e Machado foram burocráticos iniciando os ataques.

Atlético-MG x Cruzeiro; Lucas Romero — Foto: Gilson Lobo/AGIF

Parte da inutilidade ofensiva da Raposa se deve também à entrega e a organização alvinegra na marcação. Definiu os encaixes e fez perseguições inteligentes, intensas, mas sem desguarnecer setores, sem permitir que alguma peça se distanciasse muito da sua zona de origem.

Surpreendente Nicolás Larcamón manteve o esquema com três zagueiros na 2ª etapa. Trocou Villalba por Zé Ivaldo no intervalo. De positivo, o ajuste na marcação adiantada. Matheus Pereira e Arthur Gomes passaram a cuidar mais vezes de Lemos e Jemerson. Dinenno se dividia entre combater Bruno Fuchs e fechar a linha de passe para Battaglia. O acerto não demorou a gerar efeito.

Exatamente em uma ”pressão alta” da Raposa, Machado se antecipou a Igor Gomes – o mais discreto do Galo em campo – e Dinenno serviu Matheus Pereira em uma jogada que terminou em lambança de Lemos, e mais um gol contra de Jemerson na história do clássico. A mudança no placar mexeu no estado de ânimo das duas equipes. O Cruzeiro se encheu de confiança e o Galo não reagiu.

Gol do Cruzeiro — Foto: Cruzeiro

Com um plano mais competitivo para marcar o Atlético e um zagueiro – Zé Ivaldo – mais entrosado com os companheiros de setor, a Raposa neutralizou os ataques rivais. Os anfitriões pareciam fisicamente muito abaixo da ”pegada” demonstrada na 1ª etapa. Os encaixes de marcação passaram longe da mesma intensidade. Mentalmente foi se dissolvendo, criando um clima de pânico no estádio.

Marlon subiu bastante de produção depois do intervalo. Pôde ocupar um espaço de ala pela esquerda. Recebeu mais vezes de frente para o gol adversário, fez tabelas, deu bons passes em profundidade. Se beneficiou também das intervenções defensivas de Zé Ivaldo em seu setor, e iniciou contragolpes perigosos na sequência. O zagueiro foi um dos melhores em campo.

Se Villalba foi o defensor com mais liberdade para atacar pela esquerda, este papel coube a João Marcelo no 2º tempo. Fez companhia a William e empurrou o camisa 12 mais vezes ao terço final do campo. João, inclusive, daria a assistência para o gol de Dinenno nos acréscimos. Empate que até demorou a acontecer. Foi o 5º gol do argentino em 12 jogos pelo Cruzeiro.

Matheus Pereira por duas vezes, e o próprio centroavante, já tinham desperdiçado chances muito claras. O Atlético chegou com perigo apenas duas vezes em toda a 2ª etapa. Não teve condições de manter a condição anterior. Desmoronou nas partes tática e técnica. Um bom parâmetro do trabalho que Milito vai ter para devolver o senso coletivo e a confiança ao time.

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