O golpe de 2002 contra o então presidente Hugo Chávez foi determinante para a oposição da Venezuela mudar sua postura. Segundo o historiador da Universidade Central da Venezuela Carlos Franco Gil, seja em atos contra o governo ou em comícios pré-eleitorais, setores antichavistas começaram a tornar mais agressivas suas ações em momentos de maior tensão política.
De acordo com Gil, grupos ligados à direita passaram a adotar essa conduta depois das ações das lideranças no dia do golpe e também por uma ruptura na própria oposição.
“Há uma teoria do golpe dentro do golpe. Havia setores social-democratas –como o grupo do hoje candidato Manuel Rosales– que apoiaram os atos. Essa teoria é de que haviam acordos no setor amplo (social-democratas, CTV entre outros), e que a extrema-direita dá um golpe nesses acordos a partir dos decretos que aniquilam o Estado de Direito na Venezuela”, disse Gil ao Brasil de Fato.
No dia 11 de abril, os manifestantes contra o governo de Hugo Chávez foram até o Palácio Miraflores, sede do governo venezuelano, para pedir a saída do então presidente. Duas figuras passam a ganhar protagonismo nos atos nesse momento: Pedro Carmona Estanga, então presidente da maior entidade empresarial do país, a Fedecámaras, e Carlos Ortega, presidente da Confederação de Trabalhadores da Venezuela.
Chávez é coagido pelas Forças Armadas a renunciar, sob ameaça de bombardeios contra o Palácio de governo. Se negando a deixar o cargo, o presidente termina preso e retirado à força do Miraflores pelos militares golpistas. O golpe estava dado.
Mas o dia seguinte ficou marcado pelo golpe dentro do golpe. Em 12 de abril, Pedro Carmona Estanga vai à televisão sem o consentimento dos outros setores da oposição e afirma que estava assumindo um governo de transição. Anuncia a dissolução da Assembleia Nacional, a suspensão dos trabalhos do Tribunal Supremo de Justiça e derruba todas as medidas de Chávez.
“As lideranças de 11 de abril não estiveram em 12 de abril. Isso fragmentou e começou a rachar a oposição. Foi sintomático aquele episódio”, afirma Carlos Franco Gil.
Depois disso, os protestos chavistas dão o troco e vão às ruas para pedir a volta do presidente eleito até que, em 13 de abril, Chávez retoma o poder e coloca fim ao golpe que durou três dias e terminou fracassado. A partir daquele episódio, os setores da oposição perderam a referência e não conseguiram estabelecer um líder político forte e duradouro que pudesse acumular forças para enfrentar o chavismo.
“Se opor a um governo não significa que todos pensam igual. Passou a ter uma série de vai e vem com alguns momentos de unificação, como em 2012 e 2013 em torno de Henrique Capriles, mas depois ele foi chutado porque ele disse que não mandaria as pessoas ao matadouro [nos protestos de 2014]. Então a oposição não tem uma postura homogênea e foi liderada por diferentes setores, hora pelos sociais-democratas, hora por Capriles e nos últimos oito anos pela extrema direita”, afirma.
Nos últimos anos, a oposição tem adotado táticas difusas e, muitas vezes, sem efeito. Primeiro, com o boicote às eleições legislativas de 2005. Ao não participar do pleito, a Assembleia Nacional foi dominada pelo chavismo e os grupos de direita perderam voz no Parlamento. Ao perceber a ineficácia da ação, a tática mudou para os anos seguintes e a oposição voltou a disputar para compor o Legislativo.
Mais tarde, tendo como referência a extrema direita, manifestantes da oposição venezuelana passaram a usar protestos violentos para manifestar sua posição contrária ao governo. Em 2017, durante uma jornada tensa de atos, uma série de ataques a policiais e civis foram registrados. Um jovem chegou a ser confundido com um manifestante chavista e foi incendiado em plena luz do dia na praça Altamira, onde se concentravam os atos da oposição.
Segundo Carlos Franco Gil, essa posição é sintoma da liderança de uma extrema direita que ocupa a falta de nomes fortes de direita na política a partir de 2014. “A oposição começa a ter progressivamente uma postura muito mais violenta. Criou-se um clima de muita tensão, que termina com esse saldo nefasto de 2014 a 2017”, conclui Gil.
Manifestações em 13 de abril
Chavistas vão às ruas neste sábado (13) para celebrar o retorno do ex-presidente ao poder em 13 de abril de 2002. Os manifestantes farão duas marchas que se encontrarão no Palácio Miraflores.
Nos últimos dias, manifestações foram realizadas pelos Três Poderes e por apoiadores de Chávez. Com o lema “22 anos do golpe de Estado, o povo nunca mais será traído”, os atos lembraram os episódios marcantes daqueles três dias e condenaram os atos da oposição naquele momento.
Edição: Lucas Estanislau
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